Mais de dois anos após o começo das intervenções na região do Quadrilátero Central, nenhum trecho das obras está 100% concluído. A prefeitura de Porto Alegre assegura que a parte bruta da iniciativa, como o restabelecimento do calçamento, será concluída até o final de 2024. No entanto, ainda poderão restar detalhes e reparos a serem feitos enquanto o contrato com a construtora estiver vigente.
No momento, quem circula no Centro Histórico vai encontar material empilhado, resto de caliça, cones, fitas e tapumes. Em razão disso, pedestres reclamam das dificuldades para poder caminhar pela região. Em especial os idosos e aqueles que necessitam do auxílio de muletas ou bengalas.
Na manhã abafada desta segunda-feira (14), o aposentado Valtemir Kandrik, 82 anos, caminhava devagar com auxílio de bengala e não tirava os olhos do chão na Rua dos Andradas, quase na Esquina Democrática. Trata-se de um dos piores trechos, onde é preciso desviar de lajotas, conviver com barulho e respirar pó de caliça.
— Para as pessoas de idade, essas pedras que estão colocando no piso pesam muito no pé. Já caí um monte de vezes — afirma Kandrik, dizendo que tem muita gente desgostosa com o novo calçadão.
O trecho da Rua Marechal Floriano Peixoto até a Esquina Democrática já apresenta buracos, falhas no calçadão e lajes soltas.
— É complicado transitar em meio às obras, mas é inevitável. Podiam se concentrar num ponto só antes de partir para outro — diz o aposentado Sergio Justino, 61.
A Esquina Democrática está cercada por tapume, mas o cercamento é feito com fitas e cones em alguns cantos, o que permite visualizar o que está sendo feito e até entrar no espaço.
O aposentado Jorge Steyer, 81, não costuma circular pelo Centro. Porém, nesta segunda, andava devagar e com o auxílio de bengala.
— É desconfortável e o trabalho deveria estar mais adiantado — acredita.
Outro que caminhava devagar era o aposentado Gilberto Souza da Silva, 70. Portava uma muleta e dava passos curtos em meio ao piso esburacado.
— Estou pela fé. Sou uma pessoa sozinha, então vou devagarinho — comenta, explicando como consegue superar os obstáculos e as irregularidades do chão.
Quem desce a Borges de Medeiros em direção à Rua José Montaury não tem calçada para caminhar no lado esquerdo, apenas no direito. O piso anterior foi retirado e o novo ainda não foi instalado.
Em frente ao McDonald's da Borges de Medeiros esquina com a José Montaury, há material das obras empilhado.
Por sua vez, em outra parte da Marechal Floriano, entre a Rua dos Andradas e a General Vitorino, as obras ocorrem no meio da via. Os pedestres precisam se espremer pelos cantos da calçada. Nesta segunda, um caminhão, uma retroescavadeira e uma miniescavadeira estavam estacionados no local.
Funcionária de uma loja que comercializa artigos em plástico, Andréia Macedo, 56, compartilha que o fluxo de clientes caiu desde o início das intervenções na região.
— O fluxo de pessoas diminuiu 40%. Já tinham feito essa obra aqui no ano passado, mas precisaram voltar — conta.
Porteiro do prédio ao lado, Carlos Fernando de Quadros, 54, não poupa críticas às obras que trancam a via:
— Isso foi muito mal feito.
Em alguns trechos do calçadão ainda é preciso cuidar para não torcer ou afundar o pé. Na Rua dos Andradas, quase em frente ao número 1.273, um robusto buraco pode ser visto sem qualquer aviso ou sinalização.
Prefeitura diz que faltam ajustes pontuais em partes danificadas e acabamentos
As obras do Quadrilátero Central começaram em 5 de junho de 2022. A entrega estava prevista para o ano passado, mas foi alterada para o segundo trimestre de 2024.
Porém, as intervenções precisaram ser paralisadas durante a enchente de maio. Agora, estão em curso novamente. Até o momento, já foram investidos R$ 16,6 milhões.
A prefeitura de Porto Alegre, por meio da Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura (Smoi), afirma que nenhum dos trechos está 100% concluído.
O Executivo também assegura a conclusão da principal parte do serviço para dezembro, mas ressalta que "eventuais ajustes poderão ser finalizados até a data de término do contrato."
Confira como estão os trechos em obras
Avenida Borges de Medeiros (trecho entre a Senador Salgado Filho e a Rua dos Andradas)
- Início da execução do piso do canteiro central em blocos de concreto;
- Avanço na execução do pavimento em direção à Esquina Democrática;
- Instalação de balizadores.
Av. Borges de Medeiros (trecho entre a Rua dos Andradas e a Rua José Montaury)
- Assentamento de placas pré-fabricadas em ambos dos lados do passeio;
- Início da execução do pavimento.
Esquina Democrática
- Instalação dos novos postes de iluminação pública.
Calçadão dos Andradas (trecho entre a Rua General Câmara e a Av. Borges de Medeiros)
- Remoção do piso basalto;
- Avanço no assentamento de placas pré-fabricadas no eixo do passeio.
Rua Doutor Flores (trecho entre a Rua dos Andradas e a Rua General Vitorino)
- Início dos serviços de reparo na rede pluvial.
Programação dos trabalhos até 18 de outubro
Av. Borges de Medeiros (trecho entre a Av. Sen. Salgado Filho e a Rua dos Andradas)
- Conclusão da execução do piso do canteiro central em blocos de concreto;
- Conclusão do pavimento em direção à Esquina Democrática;
- Início da instalação de lixeiras;
- Avanço na instalação de balizadores.
Av. Borges de Medeiros (trecho entre a Rua dos Andradas e a Rua José Montaury)
- Assentamento de placas pré-fabricadas em ambos dos lados do passeio;
- Avanço na execução do pavimento.
Calçadão dos Andradas (trecho entre a Rua Gen. Câmara e a Av. Borges de Medeiros)
- Conclusão da remoção do piso basalto;
- Conclusão do assentamento de placas pré-fabricadas no eixo do passeio.
Rua Uruguai (trecho entre o Calçadão da Rua dos Andradas e a Rua José Montaury)
- Início da instalação de lixeiras.
Rua Doutor Flores (trecho entre a Rua dos Andradas e a Rua Gen. Vitorino)
- Avanço dos serviços de reparo na rede pluvial.