Depois que o serviço do trensurb entre Porto Alegre e cidades do Vale do Sinos passou a ter um trecho feito por ônibus, a rotina de Vitor Gonçalves Selistre da Silva, 38 anos, que trabalha no 2º Tabelionato de Notas da Capital, foi impactada. Diariamente, ele e outros trabalhadores precisam dispensar mais tempo para seus deslocamentos diante da mobilidade precária no pós-enchente.
Silva trabalha há 14 anos em Porto Alegre. Antes, um deslocamento que costumava ser objetivo, de cerca de uma hora a partir do Vale do Sinos, demora agora de duas a três horas, dependendo do movimento e de possíveis transtornos.
Geralmente, Silva procura chegar sempre entre 8h e 8h15min no trabalho, localizado na Avenida Loureiro da Silva. Antes da enchente, o tabelião substituto atingia essa mesma meta saindo por volta das 7h de Novo Hamburgo. Agora tem que sair de casa às 5h45min, antes mesmo do sol raiar.
A estação Novo Hamburgo, onde o Silva embarca, é a primeira na linha da Trensurb no sentido norte-sul. Neste ponto, o problema é o intervalo dilatado entre os trens, que era de 4 a 5 minutos nos horários de pico, mas que passou a ser de 15 depois da enchente. Situação que só deve normalizar em 2026.
Isso interfere muito, porque enquanto espero até embarcar e chegar na estação Mathias Velho, já perco muito tempo
VITOR GONÇALVES SELISTRE DA SILVA
Como o itinerário de Silva é mais demorado e começa mais cedo, o desjejum fica para o trajeto mesmo. Com uma térmica na mão, ele toma seu café enquanto observa a paisagem da janela do trem. Além disso, para ajudar a passar o tempo, conecta os fones de ouvido e aproveita para ouvir música e relaxar pelo caminho.
Na chegada à estação Mathias Velho, em Canoas, vem a parte mais desafiadora do trajeto: torcer para que a fila de embarque no ônibus cedido pela Trensurb para seguir até Porto Alegre ande rápido, algo que não ocorre todos os dias. Nesta quarta, durante o trajeto acompanhado por Zero Hora, o tabelião substituto perdeu 25 minutos entre a descida do trem até o embarque do ônibus. Nos piores dias, ele relata que essa espera pode durar até mais de meia hora.
O pior não é nem a baldeação em si, mas cortar o teu trajeto. Ter que sair do trem, que ia direto ao destino, pra entrar em uma fila e aguardar para embarcar de novo
O deslocamento de ônibus da baldeação demorou 40 minutos até a chegada ao Terminal Parobé, no Centro Histórico da Capital. O veículo trafegou lotado, sem ar condicionado e enfrentou o trânsito intenso do começo da manhã.
Por fim, a partir do desembarque no Centro, Silva completa o percurso caminhando por 15 minutos até o destino. Depois de cerca de 2h28min, finalmente ele acessa as portas do tabelionato onde trabalha. Mesmo assim, não desanima:
Durante o auge da enchente, não conseguia voltar para casa. Tive que ficar quase dois meses na casa do meu pai, em Porto Alegre. Só via minha família por chamada de vídeo. Agora, mesmo com esse atraso, não gosto de reclamar muito. Já pensei em alternativas, mas não troco o trem por nada.
Retomada em Porto Alegre a partir de setembro, mas que deve durar quase um ano e meio até a plena normalidade
Com o religamento de uma das três subestações de energia que foram destruídas, a Trensurb promete retomar as viagens até a Estação Farrapos, em Porto Alegre, a partir de 20 de setembro. Essa mudança pode ajudar a dinamizar o deslocamento de usuários do trem, como Silva.
No entanto, um dos principais anseios dele e de outros passageiros, o intervalo das viagens seguirá mantida em 15 minutos, mesmo em horário de pico. Conforme a empresa, os intervalos mais curtos só serão possíveis após a recuperação do sistema elétrico, que pode ocorrer até os primeiros meses de 2026.