O combate ao incêndio que atingiu uma extensa área vegetal do Morro Santana, na zona leste de Porto Alegre, na quarta-feira (3), representou um desafio para o Corpo de Bombeiros. O motivo foram os acessos íngremes e estreitos para os caminhões e veículos de maior porte em diversos pontos, o que obrigou a corporação a optar por trilhas em meio ao mato para chegar até os focos com fogo. A comunidade da região reclama de suposta demora no atendimento da ocorrência.
O comandante do 1º Batalhão de Bombeiro Militar, tenente-coronel Lúcio Júnior Lemes da Silva, afirma que o incêndio começou às 14h15min em uma parte lateral do Morro Santana.
— A população não viu todos os caminhões, porque a parte de trás do morro é inacessível para as pessoas. A primeira guarnição que despachamos foi às 14h15min, mas estava do outro lado do morro. As pessoas que estavam na Rua Gildo de Freitas não tinham como ver — esclarece o comandante, em resposta aos questionamentos sobre uma possível demora no atendimento.
Conforme relata, primeiramente foi deslocada uma guarnição com quatro bombeiros até o local. Na sequência, foi enviada uma outra do Batalhão de Busca e Salvamento, com mais seis bombeiros militares. Em outro lado do morro, outros cinco homens combatiam o fogo.
Segundo o comandante do 1º Batalhão de Bombeiro Militar, as maiores dificuldades foram os acessos para os caminhões chegarem ao local. Dessa maneira, os soldados tiveram de seguir por trilhas para atingir os focos de incêndio. Questionado se o sinistro possa ter sido criminoso, o tenente-coronel Lúcio Júnior Lemes da Silva compartilha dados.
— Pela nossa experiência e pelas próprias estatísticas, apenas em torno de 3% a 4% dos incêndios em vegetação são decorrentes de eventos da natureza. O restante é da ação humana — conclui, citando que somente a perícia poderá identificar a causa.
Estiveram envolvidos no combate ao incêndio 24 bombeiros militares e outros 31 em formação. Cinco caminhões de combate a incêndios foram despachados para o trabalho, além de cinco viaturas, três caminhonetes e mais um micro-ônibus que conduziu os bombeiros em formação. O fogo foi totalmente controlado às 23h50min.
Até as 14h30min desta quinta, o Instituto-Geral de Perícias (IGP) não tinha sido acionado para começar a investigação.
Extensa área de vegetação pode ser vista queimada no morro
Nesta quinta-feira (4), a reportagem de Zero Hora subiu o Morro Santana para falar com moradores e ver os estragos. Não havia mais focos com fogo e uma área significativa de vegetação foi queimada e virou cinza. Não houve vítimas nem registro de pessoas com problemas ocasionados pela inalação de fumaça. As chamas também não atingiram residências, apesar de chegar perto das moradias.
O aposentado Paulo Oliveira, 69 anos, mora há 37 anos na Rua Gildo de Freitas. Ele conta que sentiu cheiro de fumaça em torno das 14h, quando decidiu ligar para o Corpo de Bombeiros.
— Um adolescente disse para nós que viu dois suspeitos perto das antenas em torno das 12h30min. A suspeita é de que o incêndio foi criminoso — acredita Oliveira, dizendo que os bombeiros não conseguiram manobrar o caminhão na Rua Gildo de Freitas.
A dona de casa Elizete da Silva, 37, foi informada no meio da tarde de que havia um incêndio perto de sua moradia. Naquele momento, ela estava na irmã em uma parte mais baixa do morro e decidiu subir até o local onde vive. O receio era o vento potencializar ainda mais o poder das chamas.
— Fiquei nervosa, porque estava com minha nenê — diz.
A Defesa Civil chegou a pedir para os moradores evacuarem a região, mas eles hesitaram com receio de perder suas casas. Pelas redes sociais, vídeos e imagens do fogo feitos pela comunidade se espalhavam e chamavam atenção.
O profissional autônomo Bruno Volkweis, 29, ajudou a apagar o fogo e menciona que sentiu cheiro por volta das 14h. E depois das 15h enxergou fumaça por todo o bairro. Portando máscaras e botas, cerca de 30 pessoas da comunidade teriam partido para a ação, assustados com a possibilidade de o fogo atingir suas casas.
— Por volta das 17h, a gente começou a ver os focos de fogo em alguns pontos. O pessoal ficou com medo e pensou em sair de casa, mas não queria sair — recorda Volkweis, dizendo que não viu caminhões de bombeiros até as 19h30min.