Localizada a poucos metros de distância do Guaíba, na zona norte da Capital, a igreja de Nossa Senhora dos Navegantes foi mais uma das milhares de edificações atingidas pela enchente que devastou Porto Alegre nas últimas semanas. Simbólica para os porto-alegrenses, sendo ponto central da procissão que ocorre anualmente realizada no dia 2 de fevereiro em devoção à Santa, a paróquia, que ainda está fechada, contou com a força de voluntários em um mutirão de limpeza neste sábado (8) para acelerar sua recuperação.
Os trabalhos no local começaram por volta das 8h30min. Na área externa e nos arredores da igreja, equipes da Sanepar, a companhia de saneamento do Paraná, atuando em Porto Alegre de forma voluntária, limpavam os jardins da igreja, ainda cheios de lama, e as ruas e calçadas ao redor, também tomadas por barro e entulhos, com mangueiras e cinco caminhões-pipa. As atividades eram coordenadas por servidores da Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (SMSUrb).
O mutirão de limpeza também era observado de perto pelo padre Remi Maldaner, 82 anos, que está na paróquia há mais de 30 anos. As luvas e botas cheias de barro que ele vestia mostram que o pároco não apenas vistoria os trabalhos, mas também contribui diretamente para as atividades de recuperação da igreja.
— Essa é a minha rotina nas últimas semanas. Tem sido uma grande provação, mas com a força da nossa fé, sem dúvidas vamos superá-la — afirma.
A atual edificação da igreja de Nossa Senhora dos Navegantes foi inaugurada em 1913, após um incêndio ocorrido em 1910 ter destruído o prédio original, erguido em 1875. Depois de ter sido atingida pelas chamas há 114 anos, a paróquia, dessa vez, foi inundada pela água da enchente que afetou boa parte da Capital nas últimas semanas.
Em razão da inundação, a última missa realizada na igreja até o momento foi em 1º de maio. A expectativa do padre Remi é que as celebrações voltem a ocorrer no local já no próximo fim de semana, entre os dias 15 e 16.
— Estou há mais de um mês sem rezar uma missa, e fora alguns períodos que passei por problemas de saúde, isso nunca tinha me acontecido — lamenta.
Mobilização dos fiéis
Na parte interna da igreja, quem concentrava os esforços de limpeza eram dezenas de fiés da paróquia, também atuando de forma voluntária. No ponto mais alto da enchente, a água chegou a quase dois metros na fachada da edificação, e causou inúmeros estragos no seu interior.
— Ela protegeu a minha casa, mas olha como ficou a dela. Já recebemos tantas graças de Nossa Senhora dos Navegantes que chegou a hora de retribuir — destaca a voluntária Nara Berner, 74 anos, enquanto ajudava a limpar os bancos da igreja.
Apesar dos danos causados pela enchente na paróquia, um alento importante para os fiéis foi a preservação da imagem da Santa, no altar, que não foi afetada pela água. O fato foi comemorado pelo remador Mateus Romano, 33, devoto que também se apresentou para contribuir com o mutirão neste sábado.
— Mostra a força dela, né? É um sinal de que logo vamos passar por essa situação e voltar à normalidade — projeta.
O barco que leva a imagem de Nossa Senhora dos Navegantes na procissão de fevereiro, contudo, foi atingido. A barcaça fica guardada em um local suspenso, mas localizado na casa paroquial, ao lado da igreja, que teve todo o seu primeiro andar inundado pela enchente.
— A casa paroquial, onde realizamos importantes eventos e reuniões da igreja, foi muito afetada. Perdemos móveis, equipamentos de cozinha, e também documentos importantíssimos, como os livros de registros que os padres escrevem ao longo de cada ano, que contavam mais de cem anos de história dessa paróquia e dessa comunidade — lastima o padre Remi Maldaner.
O mutirão de limpeza na paróquia de Nossa Senhora dos Navegantes segue até o final desta tarde. Uma equipe do Departamento Municipal de Limpeza Urbana deve passar no local ainda neste sábado para recolher os entulhos. Segundo o DMLU, já foram recolhidos cerca de 43 mil toneladas de resíduos na Capital.