A manhã de sol e tempo firme neste sábado (18) em Porto Alegre permitiu que moradores limpassem imóveis que ficaram submersos na enchente. GZH esteve em endereços nos bairros Menino Deus e Cidade Baixa, onde os habitantes ainda contabilizavam os prejuízos enquanto tiravam pertences e mercadorias de moradias e estabelecimentos comerciais. Os relatos são similares: quem morava ou tinha objetos no térreo perdeu tudo ou ficou com pouco.
As calçadas dos bairros registraram acúmulo daquilo que precisou ser descartado. A limpeza das áreas atingidas pela água na Capital tornou-se o “maior desafio” do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU), conforme disse o diretor-geral da autarquia, Carlos Alberto Hundertmarker, à Rádio Gaúcha.
Munida de uma vassoura, Ester de Almeida Costa, 84 anos, lutava para tirar a lama do apartamento onde mora há 25 anos, em um prédio na Rua Cícero Ahrends, no Menino Deus. Segundo ela, a água subiu dois metros e atingiu todos os cômodos do imóvel.
— Não sobrou nem uma calcinha e nem um sutiã — resumiu.
Com a subida da água, Ester foi para a casa do filho, na zona sul da Capital. Questionada sobre deixar o local, a aposentada foi assertiva:
— Eu amo aqui. Tenho uma vizinhança maravilhosa, minhas amigas são daqui também. Tem ferragem, mercado, salão de beleza perto. É um lugar muito bom.
Opinião distinta foi dada pela empresária Carine Salatti, 34 anos, que tem uma academia na Rua Vicente Lopes dos Santos, no mesmo bairro. O estabelecimento situado no nível da rua foi inundado; este sábado era o terceiro dia de limpeza no local, com o apoio dos outros os sócios, funcionários e voluntários.
— Pensamos em sair se não houver nenhum tipo de investimento público (para evitar novas inundações). Quem nos garante que não vai haver uma próxima enchente e que não vai novamente alagar o estabelecimento? Agora é garra e força para restabelecer o nosso negócio — comentou Carine, que estimou o prejuízo mínimo de R$ 20 mil com a estrutura da academia.
Alexandro Borges Cordoni, 52 anos, proprietário de um minimercado no Menino Deus, usava luvas e protegia os calçados com sacolas enquanto limpava o dano feito pela enchente. A água lamacenta chegou perto de 1m50cm dentro do estabelecimento localizado na Rua Comendador Rodolfo Gomes. O empresário conseguiu acessar o imóvel apenas na terça-feira (14).
— Há um ano e quatro meses, renovamos o estabelecimento, colocamos padaria, confeitaria, trocamos tudo. Tínhamos muitos cortes de frango, frios, pizzas e lasanhas congeladas. Isso foi fora. Hoje vem o técnico verificar os freezers; vamos ver se conseguimos ligá-los ou se estragaram. Até agora, estimamos um prejuízo de R$ 30 mil — contou.
Na Rua Miguel Teixeira, no bairro Cidade Baixa, uma família trabalhava desde o início da manhã para tirar a lama da propriedade de três andares, onde moram sete pessoas. Baldes, vassouras e rodos eram utilizados no serviço, que continuaria nas próximas horas no imóvel e no pátio da propriedade. Na calçada, eles acumulavam pertences inutilizados pela água: móveis, eletrodomésticos, decoração foram posicionados em frente ao imóvel para descarte.
— Perdemos tudo o que havia no térreo. Tínhamos reformado parte do piso e agora está condenado, na cozinha não vamos aproveitar nem as louças, a piscina está cheia de lama, não sabemos o que fazer com ela. Nossa casa parece a de um filme de terror — disse Daniela Pereira da Rosa, 40 anos, uma das moradoras.
Alexandre Zucas, 53 anos, descartava um violão azul na calçada na Rua da República, também na Cidade Baixa, no fim da manhã, quando conversou com a reportagem.
— Era o meu violão de estimação. Ele me acompanhou durante 10 anos da minha vida, em que, como engenheiro civil rodoviário, eu viajei muito. Fui para vários locais e o violão sempre foi meu companheiro, meu psicólogo de plantão. Hoje eu o vejo no lixo. Não tem mais o que fazer — disse.
O morador relatou morar há 15 anos em um imóvel no térreo do prédio. A água chegou a cerca de dois metros de altura no interior da moradia e afetou tudo o que havia dentro. Enquanto limpava o local, fazia planos de se mudar de forma provisória para um apartamento da família.
— Estou descartando mais de R$ 40 mil, e olho para o lado e vejo que meus vizinhos estão fazendo o mesmo. É muito triste a situação — pontuou.