Após uma operação que durou cerca de uma hora, por volta das 16h desta sexta-feira (17), a prefeitura de Porto Alegre abriu uma das comportas do Muro da Mauá com um objetivo inédito: facilitar o escoamento da água de dentro da cidade de volta a seu leito natural. Por meio de um cabo, o portão, que estava fechado havia 15 dias, foi puxado e derrubado.
Em razão de falhas no sistema de contenção e de bombeamento pluvial desde que a cheia avançou rumo ao Centro, o nível do Guaíba subiu tanto que ficou mais elevado sobre ruas e avenidas do que na face externa da cortina de concreto que deveria proteger a população das inundações. Por conta disso, a abertura da passagem foi a forma encontrada para aumentar a vazão e apressar o recuo da água.
Na avaliação do especialista do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Fernando Fan, o único risco da estratégia é de o Guaíba voltar a subir — o que não está previsto até o momento.
A medida havia sido anunciada no final da manhã pelo prefeito Sebastião Melo. Além de aumentar o ritmo de escoamento, a intenção é facilitar o acesso a duas casas de bombas localizadas nas proximidades, cuja operação foi interrompida pela inundação, para recolocá-las em operação e aumentar a capacidade de drenagem em toda a região. Ao longo do final de semana, outros pontos poderão ser reabertos
Por meio de uma publicação em rede social, Melo afirmou que havia sido definida, em discussão com técnicos do município, "a abertura da comporta 3 do muro da Mauá (rua Padre Tomé), na tarde de hoje. Como o Guaíba está 40cm mais baixo do que o volume acumulado no Centro, o objetivo é facilitar o escoamento e posteriormente acessar as casas 17 e 18 para retomar a operação".
De acordo com o mapa das casas de bombeamento de águas pluviais, responsáveis por ampliar a drenagem das vias urbanas "empurrando" a água em direção ao Guaíba, a estação 17 fica no número 555 da Avenida Mauá, (próximo à comporta 3), e a 18 está situada no número 1.825 da mesma via (perto da Rua Chaves Barcellos).
Na avaliação do pesquisador e professor do IPH Fernando Fan, o nível do Guaíba ficou mais alto dentro da cidade do que no próprio leito do manancial porque a água invadiu a cidade por frestas e vãos da linha formada pelo muro e pelos diques e pela rede de drenagem pluvial e, agora, enfrenta obstáculos para retornar:
— Há uma certa inércia, agora, até conseguir esvaziar essa água para o lado de fora pelas mesmas frestas por onde entrou. Então a medida de abrir a comporta acelera essa saída. Retira a água da cidade mais rapidamente.
O único risco, segundo Fan, é se o nível do Guaíba voltar a subir, o que exigiria o rápido fechamento do portão outra vez. Mas, de acordo com o especialista, as previsões até o momento não indicam nova elevação. Em razão disso, a expectativa é de que a estratégia traga bons resultados.
— Espero que as previsões para os próximos dias se confirmem, e não seja necessário fechar a comporta novamente — diz Fan.