A abertura da comporta 3 do Muro da Mauá voltou a transformar a paisagem do Centro Histórico de Porto Alegre. Com o recuo da água em mais de meia quadra em direção ao Guaíba, a Rua dos Andradas voltou a receber carros e pedestres, não mais barcos e botes.
Sem o alagamento, muitos comerciantes puderam reabrir pela primeira vez os seus estabelecimentos desde que a enchente subiu na região central da Capital.
— Entramos ainda ontem (sábado) meio que na marra. A água ainda estava na entrada. Mas baixou bem de ontem para hoje (domingo), então viemos começar a limpeza. Erguemos tudo, mas não foi suficiente. Perdemos o estoque de carnes, batatas… A parte elétrica ainda vamos ver. Nossa dúvida é sobre como iremos voltar a trabalhar. A sensação é a mesma da pandemia — relatou Paulo Rossi que, ao lado do pai, limpeza o piso do restaurante com a ajuda de um lava-jato ligado em um gerador.
O cenário se repetiu ao longo da famosa Rua da Praia. Bares, cafés e restaurantes que estavam com as portas abertas tinham também do lado de fora entulho com cadeiras, mesas e muito lixo.
— Fica o elogio para os caminhões do lixo que estão passando toda hora. Só hoje (domingo) já foram três. Também veio um carro da Prefeitura nos orientar a deixar as coisas lá na esquina para que eles viessem recolher depois, senão não saberíamos onde colocar — completou Rossi.
Assombro e medo
Outro ponto parcialmente livre da enchente é a Casa de Cultura Mario Quintana. Com a água barrenta atingindo a metade da Travessa dos Cataventos, muitos curiosos caminhavam entre os arcos do antigo Hotel Majestic para ver os danos causados pelo alagamento que durou mais de duas semanas.
— Não é primeira vez que venho no Centro. Já havia trazido algumas doações no Gasômetro, mas aqui na Casa de Cultura não dava para vir porque ainda tinha muita água. Não consigo colocar em palavras. É triste. Estou com saudade de Porto Alegre mesmo estando em Porto Alegre. Não deu para elaborar direito. Só sinto uma ausência muito intensa neste espaço que sempre foi tão acolhedor — disse Francisco Fontanive, morador do Jardim Botânico que resolveu visitar um dos cartões postais da capital gaúcha.
Nas ruas, também há moradores que, depois de 15 dias, conseguiram pisar na calçada novamente. Um deles era o servidor público Antônio Figueiredo. Morador do térreo de um prédio na Rua dos Andradas, assistiu de perto às tentativas de furto que a rua viveu enquanto a água atingia a altura da cintura.
— Os caras vinham de barco e chutavam a porta dos prédios. Só saíam quando alguém ligava uma lanterna. Mas ainda está perigoso porque a luz não voltou. Essa quadra era associada à Rua Riachuelo, mas a CEEE fez aquele processo de religar somente as partes secas. Então, tem luz até o meio da (rua General) Bento Martins. Esperamos que volte aqui agora — desabafou.
Em contato com a reportagem, a CEEE Equatorial informou que está voltada para a realização de inspeções nas câmaras subterrâneas para a retirada de água e inspeção de equipamentos. Ao final da inspeção e análise da situação é que será possível avaliar as ruas passíveis de religamento.