Com a água das ruas de Porto Alegre baixando e a vida tentando voltar ao "normal", o trabalho, a rotina pessoal e o cotidiano começam a serem retomados. Com isso, cada vez mais o número de voluntários está diminuindo e os abrigos da capital seguem precisando de pessoas para ajudar. Na quinta-feira (16) a prefeitura reabriu o cadastro de voluntários, como forma de renovar o número de participantes.
O Centro Vida, na zona Norte da Capital, funciona como abrigo e ponto de distribuição de doações. Nesta sexta-feira (17), o local estava recebendo 620 pessoas. O efetivo de voluntários gira em torno de 100 a 150 pessoas, que são divididos por turnos. Há necessidade de trabalhadores nos dois pontos, mas na distribuição ainda é maior necessidade, que recebe até 400 pessoas por dia.
— Sentimos essa queda muito forte dos voluntários que estão voltando à sua rotina e ao seu trabalho. Estamos com o contingente de mínimo para médio, atendendo o abrigo e o público externo — explica a secretária adjunta de Cultura e Economia Criativa de Porto Alegre, Liliana Cardoso, que é uma das coordenadoras do local. No Centro Vida também há abrigados que ajudam nos serviços.
No abrigo e ponto de recebimento de doações no Centro Universitário Metodista de Porto Alegre (IPA) também foi constatado a queda dos voluntários. Atualmente estão trabalhando com a capacidade de manter os serviços, não ficando desassistidos.
— No primeiro dia tinha mil voluntários cadastrados e agora, por vezes, temos que fazer chamamento, porque o pessoal já não está mais se inscrevendo, ou se inscreve e não vem — comenta Paulo Mayorca, voluntário da organização do espaço. Aproximadamente 150 pessoas estão abrigadas com a participação de 50 voluntários por dia.
Outro grande abrigo e local de recebimento de doações da Capital é o Centro Estadual de Treinamento Esportivo (CETE). A organização do espaço também notou queda no número de disponibilidade dos voluntários, mas estão suprindo a demanda com a base criada no começo dos trabalhos, que conta com 300 pessoas.
— Antes abríamos a lista (para o dia) e ela era preenchida em 5 minutos. Agora, às vezes, demora quase um turno inteiro para encher. Então vemos que a disponibilidade das pessoas está reduzindo, seja porque algumas voltaram a trabalhar, seja porque estão resolvendo os seus problemas — enfatiza o diretor-geral da Secretaria do Esporte e Lazer do RS, Bruno Ortiz Porto — Notamos de alguma forma uma redução no engajamento da quantidade de voluntários para se apresentar — completa.
Solidariedade
Os voluntários dos abrigos atuam em diversas atividades, desde a separação, ao controle de entradas, entrega de donativos, ações de recreação, cuidado com os pets e outras atividades.
Com as aulas suspensas na UFRGS, a estudante de Psicologia Gabrielle Mendonça resolveu ser voluntária. Ela comenta que no começo as vagas para preencher as listas de voluntários era disputada, agora já é mais escassa.
— Estamos ajudando do jeito que a gente consegue — comenta.
Já Guilherme Bandeira está trabalhando em um turno e no contraturno realiza voluntariado no CETE. A empresa em que ele trabalha está em home office, o que ajuda na sua organização diária para comparecer ao abrigo.
— É gratificante poder ajudar o próximo. Alguns de nós também passamos por algo, eu tive que sair de casa por causa da enchente. Vir para cá dá um respiro para a cabeça.
Maycon Picoli é estagiário de Psicologia no período da manhã e de tarde é voluntário. Segundo ele, a possibilidade de se apresentar ajuda a suavizar o momento crítico que a cidade enfrenta.
— Vir aqui também faz bem para a gente. Não vai ter notícia boa no dia a dia, as coisas boas vamos ver aqui dentro. Muitas vezes você não sabe a quem está ajudando, mas você está querendo ajudar.