A Polícia Civil de Viamão, na região metropolitana de Porto Alegre, segue colhendo depoimentos e solicitando informações relacionadas à morte de um menino de 11 anos ao encostar em um fio energizado, caído de um poste da CEEE Equatorial. A fatalidade foi registrada na tarde da última sexta-feira (22), mais de um dia após uma tempestade atingir a região.
A investigação é conduzida pelo delegado Alexandre Fleck, que foi entrevistado nesta segunda (25) no programa Gaúcha+ da Rádio Gaúcha.
— No âmbito criminal, nós precisamos identificar se há uma ingerência de alguém, de alguma pessoa, que diretamente contribuiu para aquele resultado ali. Se foi demora no atendimento, insuficiência de pessoas para atender, se o sistema não funcionou como deveria ter funcionado, se o transformador não funcionou como deveria, porque a princípio um curto deveria provocar a queda da energia elétrica, se houve uma negligência e deveria ter sido feita uma desconexão remota, enfim, isso tudo vai ser avaliado pra ver se há uma ação humana que diretamente influenciou no resultado. Aí teríamos um indiciamento por homicídio culposo — explicou Fleck.
Segundo o delegado, com os elementos obtidos até o momento, ainda não é possível identificar responsáveis criminalmente falando. Além disso, caso o desfecho siga essa mesma linha, restará apenas a possibilidade de responsabilidade civil.
A Polícia Civil indica que, no mesmo dia dos acontecimentos, foram ouvidos os policiais que tentaram socorrer Marcelo Henrique Lopes Rosa, os funcionários da CEEE Equatorial que chegaram ao local para fazer o atendimento da ordem de serviço relacionada à fiação elétrica, além de moradores do bairro São Lucas.
Um dos depoimentos foi prestado por um vizinho da vítima. Profissional do ramo da elétrica, foi quem teria identificado na quinta-feira (21), com auxílio de um amperímetro, que o cabo no chão estava energizado. A informação é de que, no mesmo dia, a concessionária foi acionada. Sem isolamento da área, um dia depois, o garoto acabou tocando no fio enquanto brincava com um irmão.
— Segundo os moradores, sim, eles fizeram a solicitação. Isso será confirmado pelos registros que a empresa tem o dever de manter, conforme resolução da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica). Vamos verificar quantas chamadas foram, em que momento foram e qual foi a atenção dada a essa chamada. O que foi feito de imediato, o que não foi. Até porque, no meu entendimento, há uma grande diferença entre abrir uma chamada de queda de energia e de um cabo energizado solto na rua — afirma o delegado.
Perícia encontrou cenário alterado
De acordo com a Polícia Civil, antes mesmo da chegada do Instituto-Geral de Perícias (IGP), o cabo foi desenergizado e retirado do local. Questionado sobre os impactos desse tipo de intervenção na investigação, o delegado Alexandre Fleck confirmou a existência de prejuízo.
— A perícia vai acabar sendo realizada de maneira indireta, não diretamente sobre o que poderia ser encontrado no local. Mas, também, nós temos algumas imagens, filmagens de moradores logo após o fato, com o menino ainda caído na rua. Dá para visualizar onde o fio estava.
O responsável pelas investigações acredita que os profissionais da CEEE Equatorial, por já terem percebido a ocorrência de um acidente, decidiram desenergizar e tirar o fio o mais rápido possível do local e evitar que outras pessoas pudessem ser afetadas. No entanto, caso se identifique outra intenção na remoção do cabo, isso será motivo de investigação.
Com relação ao prazo para conclusão do inquérito, o delegado explica que o trabalho depende de respostas da própria distribuidora de energia elétrica, da eventual identificação de indivíduos a serem ouvidos ou não e do resultado da perícia.
— A gente entende a revolta popular. É um caso muito sério, tirou a vida de uma criança e, nesse primeiro momento, a gente tem essa sede de justiça. O que eu posso garantir é que a Polícia Civil vai trabalhar de uma maneira técnica e, se for o caso de indiciamento, será indiciado. Se não for e restar apenas responsabilidade civil é porque nós realmente não encontramos nenhum motivo para fazer esse indiciamento criminal — declarou Fleck.