O píer do Parque do Pontal transformou-se no paraíso dos pescadores de Porto Alegre. Com 130 metros de extensão e situado na parte de trás do complexo de mesmo nome, o local oferece bancos, iluminação, silêncio e tranquilidade para os adeptos desse passatempo.
— Aqui é top. Não atrapalhamos quem passeia ou pratica corrida — relata o aposentado Orlando Costa, de 79 anos.
Por volta das 10h30min desta segunda-feira (11), o sol era intenso e a temperatura batia nos 27°C. Sem vento, as águas do Guaíba estavam serenas e com poucas ondas. Além de Orlando, outros pescadores tentavam a sorte. Todos se conhecem, são aposentados e combinam encontros por meio do WhatsApp.
— Pesco há 28 anos aqui. O mais legal é a confraternização — observa o aposentado Carlos Morales, 67, mostrando fotos de algumas palometas pescadas recentemente.
Antes da existência do píer, que foi inaugurado junto ao parque em novembro de 2022, os pescadores já costumavam pescar na área do antigo Estaleiro Só. Ficavam perto das pedras nas margens do lago.
O aposentado Alorino Machado, 67, compartilha que o prazer maior é fisgar o peixe. Ele também menciona a presença de palometas, que precisam ser tiradas do anzol com auxílio de alicate. Tudo para evitar uma mordida indesejada e sobretudo perigosa.
— A piava (peixe comum no Guaíba) é guerreira — diz.
O passatempo também serve para aliviar o estresse. Enquanto estão reunidos, os amigos conversam, brincam, aproveitam a vista e o silêncio perto da água. Como o shopping fica a poucos metros de distância, há sanitários e até opções de lanches se a fome bater.
A maioria deles mora nos arredores do Parque do Pontal, mas alguns vêm da região metropolitana. Também há aqueles que preferem pescar no período da noite para tentar fisgar bagres. Porém, o mais comum é ver os grupos de pescadores em ação no começo das manhãs e aos finais de tarde.
— Ninguém proporciona esse tipo de esporte para o gaúcho. Como é uma área pública, aproveitamos para relaxar — afirma o aposentado Ricardo Schmidt, 78, que se dedica a pescar piavas e depois doá-las para quem quiser comê-las.
Em sua maioria, as varas de pesca não são grandes e estão munidas de molinetes. As chumbadas também são relativamente leves. Como iscas são usados gomos de milho, minhocas, pedaços de peixes e até camarões.
— Eu gosto de pescar. É melhor do que ir num bar beber e arranjar encrenca — reflete o aposentado José Schmidt, 68, que não tem laços de parentesco com Ricardo.
Cuidados em relação ao consumo de peixes
Em relação ao consumo de peixes pescados no Guaíba é preciso alguns cuidados. Conforme o diretor do Instituto do Meio Ambiente da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Nelson Fontoura, há dois tipos de agentes contaminantes nas águas: um de natureza química, como defensivos agrícolas e metais pesados; e outro de origem orgânica.
— Havendo contaminação química na água, como metal pesado, por exemplo, o processo de fervura do peixe não adianta — alerta.
Por sua vez, a presença de coliformes fecais ou parasitas no Guaíba não representa problema maior.
— Se fizermos o cozimento adequado do peixe, os coliformes fecais e os parasitas morrem — assegura.
O que diz a prefeitura
A reportagem de GZH questionou a prefeitura se existe algum tipo de regramento para se pescar no píer. A Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus) explica que tem sido recomendado aos pescadores para evitarem a prática durante os finais de semana e nos feriados, quando há mais gente no local. Confira a nota:
"A Secretaria do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus) esclarece que o píer, instalado no Parque do Pontal, começou a ser utilizado como ponto de pesca no início deste ano. Como a situação pode gerar um possível conflito de uso entre os pescadores e as pessoas que circulam pelo local, a Smamus e o adotante (Complexo Pontal) acordaram em adotar medidas de preservação da segurança.
Assim, desde o mês de janeiro deste ano, estão sendo realizadas abordagens de conscientização, no sentido de que não seja realizada a pesca com anzol aos feriados e finais de semana, dias com maior frequência de público, medida que tem se mostrado eficaz."