Alegria, festa, arte e afetividade misturadas com alertas sobre violência e supressão de direitos da população LGBT+. Essa foi a tônica da 26ª Parada Livre de Porto Alegre, realizada na tarde deste domingo (10), no Parque Farroupilha, a Redenção.
A parada aconteceu na mesma data do Dia Internacional dos Direitos Humanos. O tema da edição deste ano foi “transgredir e transar direitos para todes”.
— Estamos dando destaque para a população trans porque existe um avanço conservador de retirar direitos. Resolvemos dar esse protagonismo, mas dialogando com todas as siglas. Os direitos são para todes — afirmou Hack Basilone, um dos organizadores da parada pelo coletivo MQ Colorido.
Nas manifestações, o tom era de protesto e preocupação por conta da violência e do preconceito contra a comunidade LGBT+. A organização da parada salientou que, conforme estudos da ONG Transgender Europe, o Brasil é o país que “mais mata pessoas trans no mundo”
— Há duas violências que destaco: o assassinato de mulheres trans e de travestis e o suicídio de homens trans e não-binários. Isso diz respeito à saúde mental — alerta Basilone.
O tempo fechado e a ameaça de chuva não impediram o comparecimento de um numeroso público, que se concentrou no eixo da Redenção. Embora a maior participação de jovens, pessoas de todas as idades compareceram ao evento. As bandeiras coloridas do orgulho LGBT+ pintaram o parque, entre perfis discretos e visuais extravagantes.
O palco montado na extremidade oposta do Monumento ao Expedicionário recebeu atrações musicais, DJs, apresentações de drag queens e discursos. O público se dividia entre curtir o som e os piqueniques nos gramados, enquanto ambulantes ofereciam comida e bebida.
A Parada Livre de Porto Alegre é a segunda mais antiga do Brasil, perdendo apenas para a do Rio de Janeiro, que teve a 28ª edição em 2023. O evento é organizado por 20 associações da sociedade civil, que se revezaram no microfone para expressar mensagens. Uma das integrantes do “Mães pela Diversidade”, por exemplo, portava um cartaz que anunciava: “Amor cura preconceito”.
Um dos temas recorrentes na manifestação foi a tramitação de propostas que suprimem direitos da população LGBT+. Na semana que passou, a Câmara dos Deputados aprovou projeto de lei que, entre outras coisas, proíbe o uso de linguagem neutra em órgãos públicos. O texto ainda será analisado pelo Senado.
Também foi mencionado o projeto de lei 580/07, que proíbe o casamento de pessoas do mesmo sexo. Essa proposição tramita na Câmara dos Deputados e foi aprovada em outubro pela Comissão de Previdência, Assistência Social, Infância, Adolescência e Família. Embora ainda precise passar por outras comissões e ser votado nos plenários da Câmara e do Senado, o avanço recente do texto causa receio entre militantes.
— Existem projetos que tentam impedir o ensino de gênero e de sexualidade nas escolas. Impedir o uso de banheiros conforme o gênero e a linguagem neutra — afirmou Basilone.
Integrante do coletivo Moradia LGBTQIAPN+ RS, Sarita Gonçalves trouxe a necessidade de investimento em políticas públicas para pessoas em situação de rua e em vulnerabilidade social.
— As questões da moradia, das casas de acolhimento e de passagem são importantes. Temos pessoas LGBT+ em todas as camadas da sociedade— alertou Sarita.
Partidos políticos, centrais sindicais e parlamentares de esquerda e centro-esquerda também estiverem presentes e promoveram panfletagens.