As quatro crianças desaparecidas no Morro da Cruz desde a noite de quinta-feira (9) foram encontradas com vida na manhã desta sexta-feira (10). Após a madrugada de buscas pelo Corpo de Bombeiros, Brigada Militar e com apoio de moradores da região, Heverton Meireles, nove anos, Kauã Lucca, sete, Isabelly, oito, e Murillo Arthur Silva dos Santos, de cinco anos foram localizadas. Elas foram encaminhadas para atendimento médico numa Unidade de Pronto-Atendimento.
Emocionada, Graziane Amabeli Lima dos Santos, 38 anos, mãe do Kauã, da Isabelly e do Murillo Arthur, que cria as três crianças sozinha, disse que assim que soube do desaparecimento, a angústia tomou conta do seu coração.
— Foi a pior noite, a pior madrugada da minha vida. Porque mãe é mãe. Principalmente para uma mãe que cria sozinha os três filhos, que é pai e mãe. Medo de perder, medo de nunca mais ver, medo de que se machuquem. É um dos piores medos que uma mãe pode ter — contou, com a voz embargada.
Graziane contou que não vai dar puxão de orelha nos pequenos, que o momento é de abraçar os filhos e agradecer a Deus.
— Não vou dar puxão de orelha, porque é uma alegria tão grande, um agradecimento do fundo do meu coração tão grande. Puxão de orelha não, é só abraçar, agradecer a Deus e aos motoqueiros que as encontraram.
Alessandra, mãe do menino Heverton Meireles, 9 anos, que é primo das outras três, disse que é uma sensação de felicidade, de todos os sentimentos bons.
— Eu estou abismada, estou em outro mundo. Estou voltando para a realidade. Eu estava tava fora do meu corpo, agora tô voltando.
— Quem achou foi o "Samir motos". As crianças estavam todas bem — relatou o trilheiro Ederson Luís Maciel, que junto com outros motociclistas auxiliaram nas buscas.
O tenente-coronel Samaroni Teixeira Zappe comandante do 19º Batalhão da Polícia Militar (BPM), destacou o esforço conjunto do Corpo de Bombeiros, da Brigada Militar e de voluntários, muitos deles motociclistas para ajudar a encontrar as quatro crianças.
Samaroni contou que as crianças saíram para brincar de esconde-esconde, e que, num primeiro momento se perderam umas das outras. Depois que se reencontraram, a noite já havia chegado e elas acabaram ficando numa área de mata sem conseguirem encontrar o caminho para casa. Ele frisou que, ao serem localizadas, elas estavam assustadas, com fome e sono. Ele explica que as quatro crianças ficaram o tempo sozinhas.
Segundo ele, as irregularidades do terreno, sobretudo na escuridão, e a presença de animais peçonhentos era um risco para a integridade física das crianças, mas, que, felizmente, nada de pior aconteceu.
A região onde elas estavam, no fundo do bairro São José, geralmente utilizada por trilheiros de moto.
O caso será investigado pelo Departamento de Polícia da Criança e do Adolescente
O desaparecimento
De acordo com relatos de moradores e vizinhos da família, as crianças foram vistas pela última vez na área do Beco da Alta Tensão, no topo do Morro da Cruz. Elas teriam ido em direção a um lago para tomar banho. A equipe de mergulho do Corpo de Bombeiros foi acionada e chegou a fazer uma varredura no lago.
A pista de que as crianças teriam seguido pela trilha no matagal veio das imagens da câmera de um vizinho. No vídeo, as crianças aparecem andando pelo trajeto, por volta das 17h.
Muitos moradores auxiliaram no trabalho em razão do conhecimento da região e das trilhas existentes. Marcio Cavalheiro, 33 anos, morador do bairro, diz que saiu para procurar as crianças junto com outras pessoas da comunidade às 21h de quinta-feira. Ele conta que vasculharam boa parte da região, indo até os fundos do Cemitério Jardim da Paz. Na manhã desta sexta-feira, montado na égua Doralice, Marcio seguiu auxiliando nas buscas.
Avô de um dos meninos, Celso Luiz de Carvalho Meireles, 64 anos, contou que o garoto chegou da escola, pegou um lanche e disse que iria na pracinha, que fica próxima à residência.
— Oito horas da noite, eu senti falta. Fui, assoviei e ele não apareceu. Daí já começamos a subir no mato aqui — relata Celso.
O Corpo de Bombeiros informou que iniciou o trabalho de buscas às 22h de quinta-feira, quando teriam recebido o primeiro chamado para atender a ocorrência. Desde então, realizaram incursões pela mata fechada. O trabalho contou com o apoio de cães farejadores.