Há uma mudança nas ruas de Porto Alegre. O serviço de táxi está ganhando passageiros, enquanto as corridas por aplicativo, que estrearam na Capital em 2015, enfrentam momento de adversidade. O cenário é traçado por todos os atores envolvidos no setor: motoristas, passageiros e sindicatos das duas categorias.
Segundo a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), são 3.481 táxis ativos circulando na cidade. O número é muito menor do que há alguns anos. A Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (SMMU), por meio da EPTC, informa que a queda do número de motoristas de táxi credenciados ocorreu "quando entrou em vigor o exame toxicológico. Dos 12 mil condutores, o número ficou em torno de 6 mil em dezembro de 2018."
Como o órgão não responde pelos aplicativos, não possui dados que permitam comparação. A reportagem de GZH questionou duas das principais empresas de transporte por aplicativo (Uber e 99) sobre os números da frota e a idade dos veículos na Capital. Nenhuma revelou a quantidade de motoristas credenciados na cidade (confira o que ambas disseram mais abaixo).
Além da redução no número de taxistas, o que torna a oferta mais concentrada, há outros motivos para o cenário atual e envolvem os apps. Entre eles, frota defasada, tabela dinâmica que encarece o serviço em determinados momentos de alta demanda, cancelamento de corridas e menor conhecimento sobre as ruas da parte dos motoristas.
Sintáxi observa aumento na procura pelo serviço dos táxis
Para o Sindicato dos Taxistas de Porto Alegre (Sintáxi), a procura pelo serviço aumentou na Capital por variadas razões. O presidente da entidade, Luiz Nozari, destaca alguns pontos que atraem, hoje em dia, mais clientes para os táxis, na comparação com os aplicativos.
— O taxista precisa apresentar as negativas de crimes todos os anos e o exame toxicológico para renovar o "carteirão", o que nos aplicativos não é exigido. E tem de fazer a vistoria dos carros, que é a EPTC que realiza nos táxis — explica, acrescentando:
— A qualificação do serviço está determinando nova formatação de cliente que não se importa de pagar mais. E a frota de táxis está cada vez mais qualificada.
Simtrapli-RS reconhece sucateamento da frota e queda nas corridas
A presidente do Sindicato Individual de Motoristas de Transporte por Aplicativo do RS (Simtrapli-RS), Carina Trindade, reconhece que a frota está sucateada e identifica queda no número de corridas.
— As plataformas abriram este precedente, de oito anos começaram a aceitar carros de 11 e 12 anos de rodagem — lamenta.
O taxista precisa apresentar as negativas de crimes todos os anos e o exame toxicológico para renovar o "carteirão", o que nos aplicativos não é exigido. E tem que fazer a vistoria dos carros, que é a EPTC que realiza nos táxis.
LUIZ NOZARI
Presidente do Sintáxi
Conforme avalia ela, os motoristas não têm condições financeiras de arcar com as despesas de manutenção no dia a dia.
— Os valores das corridas estão muito baixos e os motoristas não conseguem ganhar para bancar os gastos. Continuam trabalhando mesmo com o veículo batido ou com algum problema — ilustra Carine.
O que dizem taxistas e passageiros
O taxista Paulo Renato Silva Bonfiglio, 66 anos, afirma perceber crescimento na procura pelo serviço nos últimos três meses. Motorista de um Voyage ano 2016 e atuando na função desde 1990, o profissional tem ponto fixo no BarraShoppingSul.
— Tem passageiro que não pega aplicativo de jeito nenhum — resume, mencionando questões como segurança e pelo táxi ter até número de identificação.
Para o taxista Paulo César, 57, que está na atividade há 37 anos, os preços das corridas por aplicativo estão muito caros.
— Quando tem algum evento ou muita demanda entra na tabela dinâmica em que o valor triplica. E eles (motoristas de aplicativos) cancelam corridas curtas, o próprio passageiro reclama disso — atesta, completando:
— Os aplicativos têm muitos carros batidos e pneus aparecendo o arame. Não há regulamentação e fiscalização. A maioria dos carros da frota de táxis é nova.
Na opinião do motorista Wanderlei Pereira dos Santos, 64, a situação dos taxistas vem melhorando depois do período em que a pandemia quase zerou as corridas. Há 46 anos na profissão, ele compartilha o que percebe:
— Tivemos aumento de mais de 150% no faturamento. O táxi, hoje em dia, para quem vem cedo e trabalha durante 12 horas diariamente, vale a pena — assegura, dizendo que dirige um Pulse.
Para André Leal, 50, que atua há 32 anos no ofício e trabalha em um Corolla 2023, o comportamento ao volante é importante.
— O motorista de aplicativo não desce do veículo para desembarcar as bagagens dos passageiros — critica.
A servidora do Judiciário Federal Lisiane Ortiz Teixeira, 36, que é de Rio Grande, na Zona Sul, circula frequentemente por Porto Alegre. Ela diz que usa mais o serviço prestado pelos taxistas.
— Hoje em dia, estou usando mais táxi. Além de ser mais rápido de chegar, está mais barato o valor. Também pela qualidade, conforto e o conhecimento do próprio motorista sobre as ruas e rotas — enumera.
O que dizem motoristas de aplicativo e passageiros
Para o motorista de aplicativo Euclides Neto, 57, não compensa mais atuar na função. O profissional, que ganha a vida dessa maneira desde 2017, diz que há muitos pontos negativos.
Os valores das corridas estão muito baixos e os motoristas não conseguem ganhar para bancar os gastos. Continuam trabalhando mesmo com o veículo batido ou com algum problema.
CARINA TRINDADE
Presidente do Simtrapli-RS
— Hoje em dia, não vale mais a pena ser motorista de aplicativo. Se tiver condições de ter um emprego certo pela CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) é melhor — observa.
Segundo Euclides, os gastos com manutenção do veículo, como troca de pneus, pastilhas dos freios e combustível, podem passar dos R$ 3 mil por mês. Sem contar eventuais imprevistos como acidentes ou danos causados ao motor por alguma enxurrada mais forte. Além disso, aponta outros aspectos:
— As taxas da Uber cobradas dos motoristas são de 40% a 50%, ou seja, muito altas. Trabalho de dia para comer à noite.
Há seis anos atuando como motorista de aplicativo, Luciano Perla, 41, afirma que a situação está ruim. Ele roda em um Onix 2022.
— Não tiro um salário mínimo por mês — garante.
Paulo Roberto, 57, está há seis anos atuando como motorista de aplicativo. Ele possui um carro de aluguel: Argo 2021.
Não tiro um salário mínimo por mês
LUCIANO PERLA
Motorista de aplicativo
— Não está mais valendo a pena ser motorista de aplicativo. Estamos trocando dinheiro.
Porém, nem todos reclamam do cenário. Para José Abreu, 73, "está valendo a pena ser motorista de app".
— Não está diminuindo o número de clientes — atesta no dia a dia.
Apesar do cenário pouco alvissareiro, há passageiros que preferem os aplicativos.
— Pego mais Uber, porque sou aposentada. E aposentado ganha menos — justifica Vera Lúcia Brum, 66, que embarcava em um carro de aplicativo na Estação Rodoviária de Porto Alegre.
Veja o que diz a EPTC sobre a fiscalização de táxis e carros por aplicativo
"A fiscalização dos táxis é realizada com base no Código de Trânsito, na legislação federal 12.468/2011, correlata e na legislação municipal 11582/2014, que regulamenta o serviço.
Ocorre das seguintes formas
- Vistorias periódicas, conforme a vida útil do veículo, pelos vistoriadores da EPTC;
- Vistoria de rotina realizada pela fiscalização de transporte nos pontos de estacionamentos de táxi;
- Blitz realizadas pela fiscalização;
- Fiscalizações realizadas por denúncias e reclamações.
A fiscalização dos APPs é realizada com base no Código de Trânsito Brasileiro e legislação federal 12.587/2012, correlata.
Ocorre das seguintes formas
- Vistorias realizadas no embarque/desembarque da Estação Rodoviária de Porto Alegre e no aeroporto Salgado Filho;
- Vistoria realizada em blitze pela fiscalização.
Quando táxis e app são flagrados em irregularidades, que a legislação vigente dita, são retirados de circulação."
Confira o que diz a Uber
A empresa informou que não divulga dados regionais da operação, apenas nacionais ou globais. Questionada sobre a idade veicular, afirmou que segue a legislação de cada município. Veja, abaixo, a nota oficial:
"A missão da Uber é repensar a forma como o mundo se move, para torná-lo melhor. A empresa iniciou suas operações em 2010 e chegou em Porto Alegre em 2015 para resolver um problema simples: como conseguir um carro ao toque de um botão. Em todo o mundo, mais de 37 bilhões de viagens depois, continuamos a criar soluções para colocar as pessoas mais perto de onde elas querem estar. Ao mudar a maneira como as pessoas e as coisas se movem ou se conectam pelas cidades, a Uber é uma plataforma que repensa novas possibilidades para o mundo.
Para definir a idade veicular, a Uber leva em conta tanto o mercado automotivo local quanto as expectativas dos usuários, considerando a regulação de cada município e as demandas dos parceiros."
Confira o que diz a 99
Por sua vez, a 99 informa que "em Porto Alegre, os carros fabricados a partir de 2013 podem rodar na categoria Pop." Confira, abaixo e na íntegra, o que diz a empresa:
"A 99 conta com mais de 1 milhão de motoristas parceiros cadastrados na plataforma e está presente em mais de 3.300 municípios brasileiros. O 99Pop é a categoria mais abrangente em termos de veículos disponibilizados, sendo o serviço que oferece economia e custo-benefício para o passageiro, além da oportunidade de um grande volume de chamadas para o motorista. Em Porto Alegre, os carros fabricados a partir de 2013 podem rodar na categoria Pop.
Além disso, para atender passageiros que buscam mais comodidade e conforto, a 99 lançou hoje, 10 de outubro, o 99Plus. A nova categoria oferece maior chance de ganhos para os motoristas parceiros, que podem ganhar em média 40% a mais em relação ao 99Pop. Quanto para os passageiros, que terão acesso a veículos mais confortáveis, com mais espaço interno, modelos novos e com os motoristas mais bem avaliados."