A prefeitura está em processo de contratação de uma empresa de engenharia e montou força-tarefa interna para resolver os problemas dos deslizamentos dos taludes do Arroio Dilúvio em Porto Alegre. Em quatro trechos da Avenida Ipiranga (confira pontos no infográfico) é possível ver os blocos de proteção caídos. Em razão dos riscos para os ciclistas, o Executivo municipal pede para a população não utilizar a ciclovia, que está temporariamente interditada em toda a sua extensão.
— Fazemos um apelo à população para não usar a ciclovia. Pode ocorrer o desabamento no momento em que a pessoa está usando, principalmente quando chove. O risco é iminente até que tenhamos uma avaliação mais concreta — afirma o secretário municipal de Mobilidade Urbana, Adão de Castro Júnior.
Em razão dos estudos que serão desenvolvidos pela empresa que será contratada, não há ainda um diagnóstico sobre o que pode ter ocasionado as quedas, assim como não foi estabelecido prazo para a reconstrução dos trechos afetados.
Está prevista para esta semana reunião entre os integrantes na força-tarefa. A contratação da empresa para a consultoria deverá se efetivar na quinta-feira (14). A reportagem de GZH apurou que poderá ser a mesma que já presta serviços para o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae).
— Além dos pontos que tiveram desmoronamentos, identificamos outros com rachaduras, infiltrações e árvores que ocasionaram isso. Diante do cenário de chuva forte para setembro, entendemos preventivamente interditar a ciclovia para segurança dos usuários — explica o titular da pasta.
Desassoreamento
O Arroio Dilúvio passa por processo de desassoreamento desde março de 2022. Neste momento, os trabalhos se concentram na foz. Durante a limpeza, os montes de detritos eram retirados da água e ficavam depositados em cima de um estreito canteiro entre a via e os taludes.
O motivo para isso ocorrer é que o material orgânico precisa secar para só então ser conduzido para aterro sanitário do bairro Lami, na zona sul da Capital. Quando as retroescavadeiras transportam o lodo para as caçambas acabam deixando o solo das margens mais exposto e sem vegetação em alguns trechos. Questionado se esse processo pode ter contribuído para os deslizamentos, Adão de Castro Júnior afirma que não:
— É preliminar falar, mas o material retirado foi colocado no talude inverso da ciclovia. Mas não conseguimos ter a certeza do que ocasionou (os desmoronamentos) sem antes ter uma análise mais aprofundada.
A prefeitura também não identificou até agora indícios de que os desmoronamentos tenham afetado de alguma maneira a pista de carros da Ipiranga.
— Não identificamos comprometimentos ou rachaduras na pista de rolamento da Ipiranga até o momento. Até porque ela tem uma estrutura de base muito maior e robusta na sua concepção.
Geólogo faz alerta
Para o geólogo Rualdo Menegat, que também atua como professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o problema dos deslizamentos decorre da "inclinação elevada dos taludes."
— A combinação de um material pouco coeso, que constitui a margem, e a gravidade, faz com que as margens desmoronem para uma certa inclinação — detalha.
No entendimento de Menegat, os taludes em concreto inclusive contribuem para o desmoronamento às margens do Dilúvio, que nasce em Viamão, na Região Metropolitana, e segue seu curso de aproximadamente 20 quilômetros pelo centro da Ipiranga até desembocar no Guaíba.
— Não constitui boa solução colocar tiras de concreto e "engessar". Isso só conduz para um problema bem maior adiante: o de desmoronar tudo junto — alerta, salientando que o ideal seria se considerar os deslizamentos e também se promover uma manutenção constante dos taludes.
Nesta terça-feira, a reportagem de GZH esteve em todos os pontos com deslizamentos. Foi possível perceber que também há rachaduras em trechos da ciclovia, em especial entre a Santana e a São Luís.