Passageiros da linha T5 — que liga o bairro São João, na Zona Norte, ao Menino Deus, na Zona Sul — tiveram de lidar com uma mudança no funcionamento dos ônibus na manhã desta segunda-feira (14), em Porto Alegre: os coletivos circulam sem cobradores, conforme autorização publicada no Diário Oficial de Porto Alegre (DOPA).
A medida vale para os dias úteis. São exceções os veículos que operam fazendo outras linhas no mesmo dia. Em um caso acompanhado pela reportagem de GZH, o funcionário que cobrava a linha T12 seguiu no veículo após a mudança para a rota do T5, no meio da manhã.
Com a implementação do funcionamento apenas com motorista na linha T5, a retirada dos cobradores no transporte coletivo da Capital totaliza 48,5% do quadro, com a previsão de chegar a 50% até o fim deste ano. Conforme a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), a mudança está sendo feita nas linhas que transportam menos passageiros por viagem.
A reportagem embarcou no T5 por volta das 10h desta segunda-feira, no terminal do aeroporto Salgado Filho. Ao longo da viagem, a maioria dos passageiros passou a roleta utilizando o cartão TRI. Entre os que fizeram o pagamento diretamente ao motorista, estava o engenheiro agrônomo e consultor ambiental Lauro Bassi.
— Me informaram na parada que provavelmente o T5 viria sem cobrador hoje, mas acho que foi legal o motorista cobrando. Eu não sei, é uma questão meio polêmica sobre ter mais gente empregada, ou não. Essa automação toda tira empregos. Facilita para alguns, mas eu acho que prejudica outros que poderiam estar com trabalho — reflete.
A psicóloga Elizabeth Schuch também fez o pagamento ao condutor e compartilhou uma visão parecida.
— É a primeira vez, mas eu não achei ruim, porque quando tu pega uma lotação e um táxi, tu paga pro motorista, só o aplicativo (de carro) que vai pelo cartão. Eu acho que é ruim pro cobrador, que perdeu o seu espaço, mas a gente tem que se adaptar, né? — avalia.
Ao longo do trajeto, foi possível perceber que o motorista ainda buscava se adaptar para equilibrar a atenção entre o volante e a liberação da catraca para quem pagava em dinheiro. Durante a viagem, uma passageira também pediu ao condutor informação sobre a parada em que precisaria descer.
— Agora quando é calmo (se referindo ao meio da manhã) é de boa, mas quando é horário de pico complica — compara o comerciante Jerônimo Grolli, que diz já estar acostumado a pegar outras linhas sem cobrador e a pagar diretamente ao motorista.
A retirada de cobradores dos ônibus avança um pouco mais rápido na Carris — empresa de transporte coletivo ainda pública de Porto Alegre. No final de junho, GZH mostrou que, entre os consórcios privados, eram 355 cobradores a menos nos ônibus, em comparação aos 1.250 que atuavam em fevereiro de 2022, quando começou a extinção gradual da função — uma redução de 28,4%. Na Carris, 176 profissionais deixaram o cargo no mesmo período, uma queda de 31,5% em relação aos 558 de fevereiro de 2022. A reportagem pediu um levantamento mais recente dos dados à EPTC, mas a empresa afirmou que se baseia apenas no percentual total de cobradores.
Além da T5, outras sete linhas da Carris (C1, C2, C3, C5, T2A, T9, T10 e T13) operam sempre sem cobrador. Aos sábados, domingos e feriados, as linhas T8, 343 e 353 também rodam sem os profissionais. No total, são ao menos 198 linhas funcionando somente com motorista. O plano é que a retirada em todo sistema seja concluída até o fim de 2025.