Eles foram chegando aos pouquinhos, vestidos de branco e munidos de atabaques, pandeiros e berimbaus. Logo formaram um círculo, exibindo um movimento sincronizado de corpos e vozes que ecoa a cultura e a resistência do povo negro. Reunidos no Parque da Redenção neste domingo (30), capoeiristas gaúchos e de outros Estados celebraram os 20 anos da Roda de Capoeira do Chafariz.
O evento foi o ponto culminante dos festejos por duas décadas de atividade da mais tradicional roda de capoeira da Capital. Desde sexta-feira (28), entidades do movimento negro, escolas de capoeira e praticantes participam de atos culturais e de celebração pela data. No local, eles praticam a capoeira de Angola, marcada pelo ritmo lento dos atabaques e um canto em lamento, com letras sobre escravidão e ancestralidade.
A roda do chafariz teve origem em 2003, após vários encontros de capoeiristas na edição daquele ano do Fórum Social Mundial. Irmanados no conceito do fórum de que "um outro mundo é possível", eles resolveram fazer da Redenção um ponto fixo para a prática do jogo.
- Antes, com frequência as rodas de capoeira terminavam em briga. No Fórum Social Mundial a gente viu que podia reunir todos os grupos e jogar sem briga, aceitando a queda, a derrota. Hoje estamos comemorando 20 anos justamente aqui, na Redenção, uma antiga colônia africana, reduto do povo negro. É uma retomada do nosso espaço - afirma o contramestre Jean Sarará, idealizador da roda do chafariz.
O ato começou com uma apresentação de maculelê, com adolescentes do Quilombo dos Machados dançando ao som da batida de bastões, as chamadas grimas. Na sequência, capoeiristas abriram a roda, dando início ao balé gingado que caracteriza o jogo. Jovens, adultos e senhores de cabelos grisalhos se revezavam no centro da roda, em movimentos que exigiam destreza, equilíbrio e flexibilidade de braços e pernas.
Aos 33 anos, o educador social Pedro Ferreira teve contato com a capoeira na infância. Dez anos atrás, voltou a praticar durante encontros do Movimento Nacional da População de Rua (MNPR). Neste domingo, foi um dos primeiros a pisar o centro da roda na cadência malemolente ditada pelos berimbaus.
- Eu encontrei a capoeira e ela me encontrou. Ela é a energia que me move na luta e resistência - resumiu Ferreira.