Na década de 1990, Christopher Kastensmidt, hoje com 50 anos, trabalhava na Intel Corporation, na Califórnia, Estados Unidos. Formado em Engenharia da Computação, lidava com os microprocessadores na empresa. Depois trocou de área para atuar com corporações de softwares, de reconhecimento de linguagem e games.
— Um dia, meu chefe chegou e disse: "Tu não queres pegar uma região nova? Estamos trabalhando com regiões emergentes. E no Brasil vemos potencial muito forte na área da tecnologia" — narra o produtor de games, contando que começou a viajar para o país umas três ou quatro vezes por ano a partir de 1997.
As primeiras visitas foram para dar consultoria técnica em empresas situadas no Rio de Janeiro, em São Paulo, Brasília, Curitiba e em Porto Alegre. Na capital gaúcha, ficava uma empresa de jogos digitais, fundada em 1996 e incubada na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
— Falei com eles (sócios da empresa) e gostei muito do que estavam fazendo. Na época, fiz um investimento e depois decidi sair dos EUA e trabalhar com eles — descreve, citando que se tornou o quinto sócio na oportunidade e a empresa recebeu o nome de Southlogic Studios.
A companhia em questão foi a maior desenvolvedora de games do país durante muitos anos. Em 2009, vendeu a Southlogic Studios para a multinacional Ubisoft, criando uma filial no Brasil. Permaneceu como coordenador de estúdio e diretor criativo até sair da empresa em 2010 para seguir a carreira de escritor.
Entre suas obras publicadas, se destaca A Bandeira do Elefante e da Arara. Trata-se de uma série de fantasia que conta as aventuras do holandês Gerard Van Oost e do guerreiro africano Oludara, no Brasil do século 16, durante o período colonial.
— Em 2001, conheci minha esposa Fernanda por meio da empresa (Southlogic Studios). A minha cunhada era amiga de um dos meus sócios. Ela que me apresentou para a minha mulher — menciona.
Kastensmidt, que é natural de Houston, no Texas, conta que a Intel possuía 80 mil pessoas naquela época e que ele pretendia trabalhar em um lugar menor, para poder se desenvolver e destacar com mais responsabilidades. Nessa época, recebeu um convite irrecusável. E, apesar de tudo e das incertezas em relação ao futuro, recusou.
— Recebi proposta para trabalhar no Google, que tinha apenas 40 funcionários — revela, citando ainda convites de empresas de São Paulo e de outros lugares.
E qual é a explicação para tomar decisões tão improváveis?
— Eu gostava mais de Porto Alegre — assegura.
A escolha pela Capital ainda está bem presente na memória dele, que considerou a mudança algo radical.
— Cheguei apenas com duas malas de roupas nas mãos — orgulha-se pelo espírito aventureiro demonstrado há mais de duas décadas.
O norte-americano vive no bairro Petrópolis com a esposa, o filho Lynx e o gato de estimação chamado Bonitão, que tem 20 anos de idade.
— O que mais gosto de Porto Alegre é que tem o tamanho certo. Não gosto de megacidades com trânsito em excesso e nem de cidades pequenas, sem cultura ou opções de lazer — analisa.
Entusiasta das novidades criadas na Capital nos últimos anos, Kastensmidt fala sobre atrações que costuma frequentar, como a Orla, o Cais Embarcadero, o Parque do Pontal e restaurantes.
— Praticamente vamos em um bairro diferente toda a semana descobrir um lugar novo — diz sobre os passeios com a família.
Quando compartilhou para as pessoas que viria de mudança para o Brasil, foi chamado de "louco" por chefe e colegas. Todos diziam que voltaria em um mês. Alguns anos depois, a decisão deixou de ser "louca" para se tornar "corajosa". Em seguida, a escolha virou "visionária".
— Um dos meus ex-funcionários dizia que nos EUA, as pessoas vivem para trabalhar. E que aqui trabalham para viver. Acho que é preciso encontrar o equilíbrio na vida — concorda, elogiando a vida cultural, a gastronomia, as árvores e os restaurantes da cidade.