A história da vinda de Ian Alexander, 59 anos, para o Brasil começou em 1996, quando a internet dava os primeiros passos. O australiano vivia em Sydney e se preparava para ser professor de inglês.
Na época, acessou um site para docentes da língua inglesa e encontrou o recado de duas brasileiras em um mural virtual. Decidiu se comunicar. Uma delas, chamada Carmen Nunes, se transformou em sua namorada e depois esposa. Foi dessa maneira, movido pelo amor, que parou em Porto Alegre.
— Passamos o ano de 1997 trocando e-mails. Uma relação em que tu conheces a pessoa por escrito durante um ano inteiro antes de olhar nos olhos dela. Era outra época — relata o morador do bairro Petrópolis.
Após a troca de mensagens e o começo do flerte, a futura esposa, que morava na Capital, decidiu passar seis meses na Austrália, para conhecê-lo melhor.
Segundo ele recorda, havia receio dela de que o australiano fosse um "mala" ou um "assassino", nas palavras do próprio Alexander, que ainda se diverte com a situação tantos anos depois.
— Ela foi lá, passou seis meses e voltou. Eu vim atrás. Acabou sendo permanente — diz, abrindo o coração: — Vim por amor mesmo.
O australiano acredita que o Brasil ofereça mais oportunidades para um professor de inglês, o que não aconteceria em seu país, onde seria "apenas mais um". Além disso, a mulher possuía um trabalho estável na Capital.
Atualmente, Alexander dá aulas no Instituto de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Com a relação consolidada, o casal adotou duas crianças.
— Aqui, tenho uma vida que não teria na Austrália. Temos casa própria. Em Sydney, nunca poderia comprar uma casa. É uma das cidades mais caras do mundo — explica.
Para viver em Porto Alegre, o australiano precisou aprender o português e ingressou em um curso para entender melhor o idioma, sendo que achou a parte escrita mais fácil e algo determinante para a compreensão da fala. Hoje, consegue se comunicar sem maiores problemas.
Alexander percebe algumas transformações urbanas na capital gaúcha desde o momento em que chegou até os dias atuais.
— Me parece que muita coisa foi derrubada neste tempo para se fazer prédios basicamente idênticos, mais shoppings e apartamentos — observa, dizendo que existe um plano diretor na cidade, mas que, na verdade, "não planeja nada".
A multiplicação de grandes centros comerciais é criticada pelo estrangeiro.
— A cidade está sendo demolida para se construir mais um shopping. Como se a gente precisasse de outro. É a última coisa que precisamos.
Questionado sobre quais são seus lugares favoritos em Porto Alegre, o australiano comenta que, em função das recentes restrições da pandemia da covid-19 e até de uma cirurgia de catarata, não saiu muito nos últimos anos.
— Moro no bairro Petrópolis, onde ainda há mais casas e ruas por onde se é possível caminhar e ver pessoas nas janelas. Não são apenas aqueles paredões de prédios. Todos os finais de semana, minha esposa e eu caminhávamos pelas ruas do bairro para ver como as pessoas moram. Mas depois com os bebês perdemos esse hábito — detalha.
O professor ainda realiza uma comparação entre a Austrália e Porto Alegre, dizendo que seu país natal é "pouco receptivo para imigrantes necessitados".
— O mesmo tipo de separação que existe em Porto Alegre, entre o condomínio fechado e a vila, existe na Austrália, que é quase como um país inteiro sendo um condomínio fechado — conclui.