A primeira noite de fevereiro foi marcada por mais uma incursão das equipes da Vigilância em Saúde de Porto Alegre em busca de um visitante indesejado que aparece todos os anos nessa época de calor: o escorpião-amarelo. Na ação desta quarta-feira (1º), que percorreu as ruas do Centro Histórico, foram capturados 37 espécimes do aracnídeo, que tem um veneno potente, capaz de matar uma criança em até duas horas.
Durante a inspeção, que contou com apoio de agentes de combate a endemias e de profissionais do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), foram vistoriadas 66 caixas de energia elétrica e telefonia, 17 pontos a mais que na última ação noturna. A varredura se concentrou nas ruas localizadas no entorno da Praça Dom Feliciano.
Nas duas varreduras realizadas nos dias 4 e 11 de janeiro, foram efetivadas 60 capturas do aracnídeo na Capital. Deste total, 56 foram capturados no Centro Histórico. Outras duas ocorrêndias foram registradas no bairro São Geraldo, uma no Mario Quintana e outra na Central de Abastecimento do Estado (Ceasa), no bairro Anchieta. Também houve duas notificações de acidentes envolvendo pessoas picadas pelo animal.
Varredura pelo centro
Com lanternas de luz ultravioleta (UV) para identificar e pinças de metal para imobilizar os escorpiões, os técnicos da Vigilância Ambiental iniciaram a varredura às 19h30min na esquina da Praça Dom Feliciano com a Rua Annes Dias. No trecho compreendido entres as ruas General Vitorino e Doutor Flores, a comitiva seguiu erguendo as tampas de concreto e metal das caixas de luz e telefonia sem encontrar nenhum escorpião.
No entanto, já nas primeiras unidades entre a Doutor Flores e a ladeira que conduz ao topo da Rua dos Andradas, a situação mudou de figura. Escondidos entre fios de telefonia e sob as tampas dos bueiros, os primeiros animais adultos começaram a aparecer, iluminados pelas lanternas UV que os deixam com um tom fluorescente. O trabalho era feito com muito cuidado e atenção, pois qualquer erro poderia colocar a equipe em risco.
Em uma das caixas, uma mãe, ao ser capturada e prensada com a pinça, deixou cair pelo menos dez filhotes dentro da caixa de plástico utilizada para transportar os aracnídeos. Ao alcançar a Rua Senhor dos Passos, de volta às imediações da praça, novos focos de infestação foram identificados.
Infestação e controle
O agente de endemia da Vigilância da Capital, Luiz Fernando Lopes, diz que não há uma explicação científica para a preferência dos animais pela região, mas acredita que possivelmente foi ali que a infestação começou anos atrás. Ele comenta que os primeiros escorpiões-amarelos apareceram em Porto Alegre na Ceasa em 2001, mas que desde 2020 as aparições se tornaram frequentes naquela região.
O especialista lembra que no dia 31 de dezembro, um homem foi picado enquanto estava estava sentado em um banco da praça Dom Feliciano. Apesar disso, as vistorias realizadas nas imediações da praça foram infrutíferas. Outro caso recente ocorreu em um prédio comercial, também na Rua Senhor dos Passos, em que os agentes foram acionados após um escorpião ser avistado no quarto andar.
— Nós fazemos essas ações noturnas para diminuir a incidência desses animais. Essa época de calor é quando eles aproveitam para se reproduzir. Não há um veneno que mate porque ele é um aracnídeo — explica Lopes.
Um dos pontos preferidos dos animais rastejantes é o trecho da Senhor dos Passos onde fica o Instituto de Artes da UFRGS. Trabalhadores do local relatam que os escorpiões já foram vistos diversas vezes nas escadas, corredores e atrás de mesas, mas que atualmente não têm sido vistos.
A varredura se encerrou às 21h30min, com a inspeção de uma caixa de telefonia localizada na esquina da Dom Feliciano com a Rua Pinto Bandeira. No local, um escorpião adulto se escondia sob a tampa da caixa, bem ao lado do local em que duas pessoas em situação de rua dormiam.
Dos 37 capturados, 16 eram adultos e 21 ainda filhotes. Após a captura, os animais são levados para o Centro de Informação Toxicológica (CIT), onde ficam armazenados para estudos.
Reprodução independente
Como só existem fêmeas do escorpião-amarelo (Tityus serrulatus), elas se reproduzem de forma independente, sem a necessidade de um macho, podendo ter dois partos por ano com 15 a 20 filhotes.
A espécie é a mais venenosa das Américas e a segunda mais venenosa do mundo. O animal vive, em média, quatro anos. No meio urbano não há predadores naturais para ele, que seriam gambás, corujas, galinhas da angola ou morcegos, o que possibilita uma proliferação maior.
Luiz Fernando Lopes aponta que o escorpião tem hábitos noturnos, que é quando ele sai da toca para caçar. O alimento principal dele são as baratas, que são facilmente encontradas no Centro Histórico. Uma única barata pode render seis meses de alimento para um escorpião.
Em janeiro de 2022, foram registradas dez apreensões no Centro Histórico e não houve capturas noturnas, já que o serviço foi incorporado à rotina da Equipe de Fiscalização Ambiental da Vigilância em Saúde no decorrer do ano passado. Durante inspeção noturna realizada em 25 de maio, 28 animais foram recolhidos sob as calçadas e alçapões de energia elétrica da região central.
Saiba como se proteger
Locais onde o aracnídeo habita
Os escorpiões são mais comuns em locais como ralos, esgotos e caixas de gordura; encanamentos de luz e telefone; caixas com verduras, legumes e frutas; sapatos, cortinas, travesseiros, roupas de cama, toalhas e vestuário.
Medidas para afastar o animal
Verifique calçados, roupas e toalhas antes de usá-los; limpe ralos de banheiro e cozinha e caixas de gordura; evite deixar berços encostados nas paredes e que lençóis toquem no chão; feche frestas nas paredes, móveis e rodapés; use telas nas aberturas de ralos, pias e tanques; mantenha os ambientes sem entulhos e limpos.
O que fazer se for picado
A picada do escorpião-amarelo causa dor intensa no local atingido, sudorese, vômitos e ainda agitação. Nos casos moderados e graves, especialmente em crianças, os sintomas incluem alterações cardíacas e tremores.
Para quem for picado, a orientação é lavar com água e sabão e se dirigir imediatamente para o Hospital de Pronto Socorro (HPS), que é referência para observação do caso e aplicação do soro antiescorpiônico quando houver indicação para uso do imunobiológico.
O que fazer se visualizar um escorpião
Quem avistar o animal deve ligar para o telefone 156, da prefeitura, ou avisar pelo e-mail 156poa@portoalegre.rs.gov.br. Será necessário informar o endereço do local da ocorrência, dar o seu nome e telefone para contato.