Por Ramiro Rosário
Vereador (PSDB), relator do novo Plano Diretor do 4º Distrito na Câmara Municipal de Porto Alegre
O mundo acaba de bater a marca de 8 bilhões de habitantes. Em 2060, seremos 10 bilhões de moradores da Terra. Haverá o dobro do número atual de edifícios no planeta. Para chegar lá, há dois caminhos a seguir: construir para cima ou expandir de forma horizontal. Sou um entusiasta dos arranha-céus, como o economista americano Edward Glaeser, cujo modelo de cidade é Hong Kong.
A razão? Porque cresce para o alto – e não para os lados. Ao contrário dos que dizem os críticos dos “espigões”, os arranha-céus são ecologicamente mais corretos e servem para aumentar a oferta e baixar o preço dos imóveis, ou seja, beneficiam os trabalhadores. A opinião não é minha, e sim do próprio Glaeser, 54 anos, autor do livro Triumph of the City (O Triunfo da Cidade), onde contraria o mito de que as grandes cidades não são sustentáveis.
Recordista mundial em número de arranha-céus, Hong Kong é tão rica quanto as maiores cidades dos Estados Unidos, mas com emissões de carbono bem mais baixas porque se desenvolve de forma vertical, e não horizontal. “Não adianta nada ter árvores plantadas no jardim se o impacto ambiental de sua locomoção ao trabalho é enorme”, argumenta Glaeser. Ele cita que uma casa de uma só família num subúrbio americano consome 88% mais energia que um apartamento central.
Comparando todos os países do mundo, aqueles com urbanização acima de 50% têm mais renda, melhor desenvolvimento humano e menor índice de mortalidade infantil que os países com urbanização inferior a 50%. É por isso que defendo o fim das restrições de tamanhos a novos empreendimentos imobiliários. Fizemos isso em Porto Alegre neste ano. Em votações históricas na Câmara de Vereadores, retiramos o limite de altura do plano diretor do Centro Histórico e do 4º Distrito. É um legado e tanto. Nos últimos anos, a cidade só cresceu nas suas franjas limítrofes com outros municípios, longe do centro urbano. Porto Alegre precisa se verticalizar, e isso agora é possível com a revogação do teto de altura dos prédios.
Mas engana-se quem acredita que a Capital se transformará em uma selva de pedra. De 1884, quando o primeiro arranha-céu foi erguido no mundo, muita coisa mudou. A cidade do futuro será um organismo vivo. Serão selvas de concreto sem concreto. Para vivermos mais juntos – com bem-estar e qualidade de vida –, os novos edifícios gigantes terão de mudar. Seus materiais poluentes usados na construção serão substituídos. Saem o aço e o concreto e entram a madeira laminada de teia de aranha e o micélio (a raiz de cogumelos, que pode substituir a fibra de vidro para isolamento). Alternativas estão surgindo aos montes em laboratórios, inspiradas na natureza, trazendo soluções mais fortes, duráveis e sustentáveis.
Poucos perceberam, mas o futuro já chegou a Porto Alegre. O Complex 4D, por exemplo, já em construção no 4º Distrito, traz uma amostra do porvir. Em um arranha-céu com apartamentos compactos e mais de 130 metros de altura na sua segunda fase, trará uma ocupação diferenciada, com centro de compras, parque linear, minipraças, ciclovia, tudo integrado com o entorno. Ele é inspirado no Highline de Nova York, que transformou uma antiga ferrovia abandonada em um parque ultramoderno. Em breve, haverá prédios que são verdadeiras mansões suspensas – o Golden Lake, ao lado BarraShoppingSul, e o Cidade Nilo, que oferecerá uma praça suspensa em frente à consagrada Praça da Encol. São apartamentos com características de casa, com escritório, terraço e amplas áreas verdes.
A segunda fase do Complex 4D, aliás, terá 18 praças ao longo dos seus mais de 40 andares. São espaços de convívio coletivo entre moradores e seus convidados. A Casa do Futuro, compacta e multiuso, já existe. Foi criada por uma porto-alegrense, a arquiteta Betina Gomes, há pelo menos uma década. O projeto, premiado mundo afora, consiste em uma casa itinerante de apenas 32 metros quadrados. No formato de um contêiner, Betina montou vários ambientes que podem ser alterados durante o dia e a noite. Eles se transformam conforme a necessidade do morador: pode ser escritório, casa ou espaço de lazer. Tudo controlado na palma da mão, por um aplicativo. Logo, logo, morar em um apartamento será como viver em uma casa da árvore, só que elegante, confortável e prática. Esses novos prédios colossais serão autossustentáveis, tornando-se pequenas cidades verticais.
É pelo que vejo hoje que sou, cada vez mais, otimista. Com os pés no chão, olhe para cima e sonhe com a Porto Alegre do futuro.