Uma abordagem da Guarda Municipal de Porto Alegre a um ciclista tem repercutido nas redes sociais. O rapaz, Vinícius de Barros, foi detido, atingido por um disparo de taser e algemado. Ainda teve a bicicleta apreendida e foi levado a uma Delegacia de Polícia, de onde acabou liberado pelos policiais civis. Isso teria ocorrido após os servidores da segurança do município terem percebido que ele usou, com uma bicicleta, a pista de skate da orla do Guaíba, o que a prefeitura proíbe.
Vinícius, que trabalha com publicidade, é também adepto de um tipo de ciclismo radical chamado BMX (Bicycle Moto Cross), no qual as bicicletas são usadas para saltos e acrobacias. Alguns skatistas e a empresa que fez a pista de skate consideram que o uso do local por ciclistas pode danificar o piso de concreto. Amparam essa afirmação em laudos técnicos e têm a concordância da prefeitura.
Em nota divulgada em setembro, a Secretaria Municipal de Esporte, Lazer e Juventude argumentou que os danos causados pelas bikes na estrutura poderiam impedir que a Capital sediasse eventos. Controvérsias do mesmo tipo já opuseram skatistas e patinadores, também. No mesmo comunicado, a prefeitura informou que planeja criar um espaço para BMX no Parque Marinha do Brasil e que o uso da pista de skate com patins é permitido.
Adeptos do ciclismo BMX, por outro lado, apresentam laudos indicando que bicicletas não estragam o piso e argumentam que os dois esportes radicais (ciclismo e skatismo) convivem harmoniosamente em pistas pelo mundo. Essa é a posição defendida por Vinícius de Barros.
Em entrevista concedida nesta sexta-feira (4) a GZH, ele admite que tinha acabado de usar a pista de skate, quando foi abordado pela Guarda Municipal. Mas assegura que não danificou o pavimento e que os guardas agiram de forma truculenta.
Em vídeos feitos pelo próprio Vinícius e por outros frequentadores, guardas se aproximam e pedem que ele se retire das imediações. Ele questiona a abordagem. Então um dos guardas pega a bicicleta do rapaz, que se mostra indignado. Um dos agentes saca uma pistola taser, de choque, e dispara contra o jovem, que é revistado e depois imobilizado com algemas e conduzido a uma viatura. Ele foi levado a uma delegacia de Polícia, por desobediência. Acabou liberado porque os policiais não viram maior poder ofensivo na atitude de Vinícius.
O episódio gerou críticas à atuação do órgão de segurança no Twitter e indignação de ciclistas, alguns dos quais reclamam de serem perseguidos pelos guardas municipais. A reportagem falou com o comandante da Guarda Municipal, Marcelo Nascimento. Ele ressalta que havia prévia orientação dos guardas para que ciclistas não usassem a pista de skate. E informa que foi aberta investigação pela Corregedoria da Guarda, para verificar se os guardas cometeram abuso.
— Solicitamos os vídeos de monitoramento da Orla. Não coadunamos com má conduta. Vamos analisar se houve excesso — comenta o comandante da Guarda.
"Só uns 5% dos skatistas reclamam, a galera anda junta aqui", diz Vinícius
Vinícius de Barros diz que há mais de 10 anos pratica o ciclismo BMX, caracterizado por acrobacias, sempre usando pistas de skate. Pela primeira vez, foi preso. Em entrevista concedida por telefone detalha o episódio:
Ficaste pouco tempo detido?
Sim, quando o pessoal na delegacia de polícia viu como foi a abordagem, me liberou. Entenderam que eu não estava fazendo nada de errado, apenas sentado na bicicleta. Foi totalmente desproporcional.
Tu tinhas andado de bicicleta na pista de skate?
Sim, mais cedo. Mas na hora da abordagem pelos guardas eu já estava fora. Eu estava sentado com minha namorada e meu sócio. Aí os guardas chegaram bem rápido, de forma enérgica. Um deles me encarou. O outro me mostrou cassetete. Fiquei meio assustado. Aí um deles pegou minha bike, quando eu ainda negociava com ele. Ele puxou a bike. Quando reclamei, me deu um choque, me deitou e me algemou.
Os guardas têm retirado seguidamente as bicicletas da pista de skate?
Sim. Tenho participação ativa em rodas de conversa sobre federações de ciclistas. Recebi muita solidariedade, inclusive do pessoal de skate. Até páginas internacionais me contataram. Só uns 5% dos skatistas reclamam. A galera anda junta, aqui. Algumas pessoas do skate até intervêm junto à Guarda, para não deixar nos retirar. Poucas pessoas reclamam.
Por que existe essa rixa?
Desde o início existem reclamações, de poucos. Conseguimos laudos feitos por dois engenheiros que comprovam: a pista comporta o ciclismo. A dureza do concreto resiste. Não há norma da ABNT que recomende o contrário. Em campeonatos grandes, mundiais, tipo Olimpíadas, as bikes e os skates usam o mesmo espaço. No caso de Porto Alegre, se tiver skatistas que não querem o uso por parte de ciclistas, podem ser criados horários alternados. A gente defende uma pista para todos, para esportes radicais, não só para skatistas. Ando há 10 anos de bike pelo mundo, nunca tive problemas. Inclusive estrangeiros e gente de outras parte do Brasil nos dão razão: "Existe aquela pista irada de Porto Alegre e vocês não podem usar!" Seria legal deixar claro que não quero polemizar com os guardas municipais. Meu único interesse é a pista que seja aberta a mais esportes. Não é questão de discussão, mas de agregar.