Um novo passo rumo à privatização da Carris foi dado na noite de segunda-feira (9). Durante audiência pública promovida virtualmente pela Secretaria Municipal de Parcerias, a prefeitura de Porto Alegre divulgou o modelo para a venda da empresa pública à iniciativa privada. O encontro teve início às 19h e contou com a participação de cerca de 50 pessoas.
O vencedor da licitação, que deve ocorrer até dezembro, se comprometerá em quitar os R$ 125,8 milhões em que a Carris está avaliada em 168 parcelas fixas de R$ 689,8 mil, ao longo de 14 anos. Além disso, já na assinatura do contrato, o comprador deverá desembolsar um primeiro pagamento de R$ 10 milhões, o que completaria o valor da empresa.
Durante o encontro, o diretor de Estruturação de Desestatização da prefeitura, Fernando Pimentel, elencou alguns dos fatores que justificariam a privatização da empresa. Entre os argumentos apresentados estavam prejuízos aos cofres públicos, absenteísmo e elevado índice de afastamentos de funcionários.
Outro motivo para a privatização listado pelo Executivo municipal é uma possível redução no valor da passagem de ônibus. A concessão teria duração de 14 anos, com expectativa de terminar em 2036. Isso permitiria a coincidência do fim do contrato os com demais operadores, e será ajustado ao fim da concessão.
Nesta quarta-feira (11), encerra o prazo da Consulta Pública relativa à concessão.
Dados apresentados
Indicadores da Carris
- Receita líquida: R$ 167,6 milhões
- Ebitda: - R$ 6,4 milhões
- Lucro líquido: - R$16,6 milhões
- Prejuízos acumulados: R$ 323,7 milhões
- Aportes controlador: R$ 14,5 milhões
- Passageiros transportados: 52 milhões
- Linhas operadas: 24
- Quilômetros rodados: 20,6 milhões
- Funcionários Ativos (2020): 1.643
Motivos da privatização
- Evitar repasses do município: R$ 500 milhões em valores atualizados de 2010 a 2021;
- Custo regulatório 21% maior do que o dos consórcios privados, o que reflete em aumento no valor da passagem;
- Custos operacionais além da remuneração regulatória (10% - 15%);
- Impacto da Carris na tarifa é de aproximadamente R$ 0,15;
- Gasto com combustíveis: é 27% maior do que a média de gasto por quilômetro rodado dos demais operadores privados de Porto Alegre;
- Gasto com pessoal: é 12% maior, per capita;
- O absenteísmo (ausências no trabalho) na Carris foi de 2,03% em 2019, ao passo que nas demais empresas privadas é, tipicamente, de 0,40%;
- Ao fim de 2019, antes da covid-19, a Carris tinha 417 funcionários afastados (25% do total de ativos). Em estudo da Controladoria do município, de todos os afastados, 250 permaneciam nessa situação há mais de dois anos e meio ao final de 2020.
O que dizem os funcionários da Carris
Para Marcelo Weber, motorista da Carris há 15 anos e representante da comissão de funcionários, no geral, o modelo apresentado é bom, mas deixa uma preocupação em relação à estabilidade dos funcionários.
— Simplesmente, a empresa que adquirir (a Carris) pode vir a demitir. É uma empresa centenária, a maioria dos funcionários hoje tem entre 10 e 30 anos de empresa, mas podem chegar em um certo momento e demitir — enfatiza Weber.
A proposta da comissão, portanto, é aumentar a estabilidade de um para dois ou mais anos e realocar funcionários qualificados para secretarias da prefeitura. Além de oferecer qualificação gratuita para aqueles que não o são.
— Os cobradores estão sendo demitidos sem ser qualificados, isso acaba deixando uma incógnita sobre o que será dos nossos funcionários — ressalta.
Há uma crítica também ao valor de venda da empresa, que estaria abaixo do ideal.
— É muito baixo mesmo. Tem a valorização do terreno, e nossas linhas são muito valiosas — afirma Weber.
Sobre o afastamento de funcionários alegado pela prefeitura, o representante da comissão ressalta que o dado reflete o período da pandemia, no qual grande parte dos colaboradores foi afastada devido a comorbidades.
De acordo com Weber, o presidente da Carris afirma que a empresa está em evolução, buscando reduzir o quadro funcional e as folhas de pagamento — mas, ao mesmo tempo, o número de cargos de confiança (CCs) está aumentando.
— Por que, se estão melhorando, querem vender então? Estão querendo deixar ela lucrativa para alguém vir e comprar? — questiona.