Para quem testemunhou, o vendaval de 17 de janeiro em Guaíba parecia o fim dos tempos. Ventos uivantes, chuva incessante, telhados voando inteiros, janelas quebradas, muros desabando, árvores e postes caindo. Os minutos de fúria do clima completam três meses neste domingo (17) e muitos estragos ainda são visíveis na cidade de 90 mil habitantes. Mas a comunidade se uniu e grande parte dos imóveis começa a ser reconstruída.
Segundo dados da prefeitura, pelo menos 4,5 mil residências e prédios foram destelhados. Alguns continuam até agora inutilizáveis. É o caso de um dos principais colégios da cidade, a Escola Estadual de Ensino Fundamental Carmen Alice Laviaguerre, a Ciep, em grande parte destruída. O pátio interno parece ter sido atingido por uma bomba: vigas de madeiras e telhas estilhaçadas como se fossem gravetos formam uma pilha de entulho. Janelas quebradas e fiação exposta completam o cenário de desolação. O colégio foi construído em 1991.
As obras de reconstrução começaram há poucos dias, em 25 de março, porque foi necessário fazer um pregão para escolha de quem assumiria o serviço. A vencedora foi a construtora ENE, que orçou o conserto do telhado em R$ 300 mil. O teto, o forro e a cozinha da escola terão de ser refeitos, revela o dono da empreiteira, Newton Lux. Para a troca de fiação, pintura e colocação de luminárias será contratada outra empresa.
— Vamos trocar mais de mil telhas grandes, com cerca de 2 metros de diâmetro. Vamos ver se até o meio do ano fica pronto — estima Newton.
A diretora da escola, Carla Salazar, lembra que o telhado de um pavilhão da escola voou inteiro e desabou sobre outro, provocando duplo prejuízo. Por sorte as crianças não estavam em aula. Os 200 alunos da rede estadual foram para a escola Aglaé Kehl. Já os 500 municipais, que também tinham aula no Ciep, foram absorvidos pela Escola Municipal Santa Rita de Cássia.
— Um transtorno. Além disso, não pudemos retomar o turno integral, que era característico do Ciep. Agora eles têm só quatro horas de aula e vão embora — lamenta Carla.
A um quarteirão da escola, um templo teve o telhado arrancado e sofreu diversas rachaduras. É a sede da Igreja Batista Betel de Guaíba, que existe há 50 anos no município, mas o prédio tinha só dois anos. O prejuízo está estimado em mais de R$ 1 milhão, calcula o pastor Oséias dos Santos Nunes, responsável pelo local.
Neste sábado de Aleluia (16), operários empoleirados no que restou da estrutura se dedicavam a demolir os escombros do templo. O pastor pretende construir uma igreja com 2 mil metros quadrados de área, o dobro do tamanho da que foi destruída.
— Sem depender do poder público, com ajuda da comunidade. Temos um trabalho de auxílio a 120 famílias carentes, muitas com familiares dependentes de drogas. Fiéis têm contribuído para a reconstrução, já conseguimos dar entrada para as novas obras — salienta o religioso.
Na época do vendaval, o prefeito Marcelo Soares Reinaldo (PDT) decretou situação de emergência. Com isso, conseguiu ajuda rápida do governo federal, mais de R$ 500 mil. Ele estima que os prejuízos no município superam R$ 1,5 milhão (três vezes o recebido da União), apenas no que é responsabilidade do poder público (postes, telhados de repartições). A assistência social da prefeitura distribuiu 15 mil telhas e retirou 930 caçambas de entulhos em áreas públicas e privadas.
— Distribuímos 2,1 mil kits de alimentação e todas as telhas. Acho que agora há suficiente para cobrir todos os imóveis danificados — contabiliza o prefeito.
Em algumas avenidas ainda é possível encontrar postes inclinados pela ação do vento, mas que não parecem a ponto de desabar. É vida que retoma a normalidade. Só que os guaibenses, traumatizados, põem um olho no futuro e outro nos céus. Depois do vendaval, mais que a bonança, vem a cautela.