Com um aumento de 73,4% nas refinarias neste ano, o preço da gasolina tem gerado uma reviravolta no transporte individual de passageiros em Porto Alegre. Cresce a busca por táxi, ao passo em que mais motoristas de aplicativos, como Uber e 99, relatam desistir do trabalho.
O presidente do Sindicato dos Taxistas de Porto Alegre (Sintáxi), Luiz Nozari, estima que, após passar 2020 em um patamar muito baixo de corridas, a busca pelo táxi dobrou neste ano. O aplicativo Vá de Táxi chegou a registrar, no acumulado do ano, um aumento de 83% nos pedidos.
— Estamos com uma tarifa defasada, o que nos permite concorrer até no preço com os aplicativos — afirma Nozari.
É semelhante a percepção do presidente da Associação dos Permissionários Autônomos de Táxi de Porto Alegre (Aspertáxi), Walter Barcellos. Lembrando que a entrada do transporte por aplicativo na cidade acabou tirando muitos clientes do táxi, ele destaca:
— O taxista é um trabalhador de fé. Passou todo esse abandono da população. O aplicativo destruiu quase 50% do sistema de táxi no Brasil, o taxista ficava parado três horas na parada. Agora está retomando alguma coisa, porque o Uber tem esses casos de cancelamento: o pessoal fica esperando corrida com uma cara de bobo.
Os cancelamentos a que Barcellos se refere ocorrem quando o cliente pede um carro em um aplicativo de transporte, o motorista aceita, mas, pela distância que precisa percorrer para chegar até o passageiro ou por algum outro motivo, acaba desistindo da corrida. Outra queixa dos usuários é a tarifa dinâmica, preço adicional cobrado quando há grande demanda por carros ou há poucos motoristas disponíveis na região.
Isso se torna mais recorrente com a gasolina mais cara e com motoristas de aplicativo deixando a função. O Sindicato dos Motoristas de Transporte Individual por Aplicativo do Estado (Simtrapli-RS) calcula que 15% dos trabalhadores abandonaram a profissão em 2021, e a estimativa da Associação Liga dos Motoristas de Aplicativos (Alma-RS) é ainda maior, de 30%. As empresas de transporte por aplicativo não divulgam números oficiais.
O presidente da Alma, Joe Moraes, reclama que, desde o começo das operações, as empresas ainda não fizeram um “reajuste decente da tarifa”. Relata que as principais realizaram um aumento de até 12% no repasse ao motorista. Ele acredita que isso prejudica o trabalhador e o próprio cliente, que tem mais dificuldade de acessar o serviço:
— Tenho conversado com os passageiros, e eles não se importam de pagar mais por um atendimento bom. O valor que o motorista recebe hoje não bota gasolina no carro, tá na hora de as empresas tomarem consciência de que o motorista tem que sobreviver.
Sem perspectiva de o preço da gasolina cair, o vice-presidente do Simtrapli-RS, Germano Weschenfelder acredita que só crescerá o número de motoristas desistindo da função. A começar por ele próprio: formado em Direito, está procurando vaga na sua área.
Maria Denise Noal, 50 anos, também está se organizando para deixar o volante — conta que já faz alguns trabalhos de artesanato. Em comparação ao faturamento de quatro anos atrás, quando começou na Uber, estima que seu faturamento tenha caído pela metade.
— A gente só tem gastos, é bem complicado fazer sobrar dinheiro — diz ela, citando, além do combustível, mudanças no pagamento por parte da Uber.
Elisabeth Konzen, 48, 16 deles de táxi, conta que é comum pegar passageiros reclamando que não conseguiram transporte por aplicativo.
— Os passageiros vão pesquisando o que está mais barato, e, se Uber ou 99 estão com tarifa dinâmica, chamam táxi — relata.
Mas ela destaca que, embora bem melhor em comparação ao ano passado, com as medidas de isolamento da pandemia, ainda não foi possível retomar o patamar que existia antes do ingresso dos aplicativos por transporte.
— Antes dos aplicativos, a gente fazia 30 corridas por dia. Fazemos 15 apenas, agora — calcula.
O que diz a Uber
"A Uber opera um sistema de intermediação de viagens dinâmico e flexível, por isso buscamos sempre considerar, de um lado, as necessidades dos motoristas parceiros e, de outro, a realidade econômica dos consumidores, tendo em vista a preservação do equilíbrio oferta-demanda que é fundamental para a plataforma. Se nos meses iniciais da pandemia a demanda caiu abruptamente devido às orientações de isolamento social, agora pessoas que antes não usavam a Uber no dia a dia passaram a optar pelo app. Diversas pesquisas, como do Datafolha, mostram essa mudança de comportamento dos brasileiros por considerarem os apps de mobilidade mais seguros para se locomover e evitar aglomerações. Esse cenário de demanda crescente por viagens vem se acentuando ainda mais com o avanço da vacinação e a reabertura progressiva de atividades pelas autoridades. Nesse sentido, os usuários estão tendo que esperar mais tempo por uma viagem porque, especialmente nos horários de pico, há momentos em que há mais solicitações do que motoristas parceiros disponíveis para atendê-las. Com esse desequilíbrio temporário do mercado, também podem ocorrer com mais frequência tanto cancelamentos pelo usuário (que não deseja esperar mais tempo pela viagem) quanto recusa de viagens pelo motorista (que, pelo cenário de demanda em alta, pode presumir que haverá novos chamados de maior ganho na sequência, por exemplo). A Uber vem implementando iniciativas adicionais que buscam promover o reequilíbrio do mercado no curto e no longo prazo. Nos momentos de desequilíbrio localizado, o mecanismo de preço dinâmico entra em vigor automaticamente. A ferramenta é eficiente porque, por um lado, faz alguns usuários adiarem a viagem à espera de um preço menor e, por outro, aumenta os ganhos dos motoristas para incentivar que mais parceiros se desloquem para atender aquela região. O preço dinâmico é temporário e atualizado constantemente, por isso a dica para os usuários é esperar algum tempo antes de verificar o preço novamente no app. Já frente ao cenário de aumento da demanda mais rápido do que o aumento de parceiros, a Uber tem reforçado campanhas de indicação, nas quais motoristas que já dirigem com a plataforma ganham uma recompensa quando novos parceiros indicados realizam certo número de viagens. Os critérios das promoções variam de cidade para cidade, mas cada indicação concluída pode resultar em recompensa de até R$ 1.500. Outra iniciativa é o programa Uber Mentores, recentemente lançado, em que motoristas que usam a plataforma há mais tempo compartilham suas dicas com quem está começando. Com o aumento constante dos combustíveis, a Uber também vem intensificando esforços para ajudar os motoristas parceiros a reduzirem seus gastos, com parcerias que oferecem desconto em combustíveis, por exemplo, assim como tem feito revisões e reajustado os ganhos dos parceiros em diversas cidades. Os parceiros foram informados dos detalhes desse reajuste."
O que diz a 99
“A 99 esclarece que é a única empresa do setor a apresentar as informações da corrida antecipadamente ao motorista parceiro. São informações importantes, como valor aproximado, origem, destino e dados sobre o passageiro, que permitem ao motorista tomar decisões sobre aceitar ou rejeitar a viagem antes de aceitá-la. O resultado dessa prática reflete em um baixo índice de cancelamento, que na 99 é de menos de 5%, e uma melhor experiência para o passageiro, que não é impactado com uma sucessão de corridas canceladas. A 99 também é a única companhia em seu segmento a permitir que os motoristas parceiros rejeitem, sem limites, corridas antes mesmo de serem confirmadas para os passageiros. Ciente dos impactos negativos decorrentes dos constantes aumentos do preço dos combustíveis, a 99 reajustou os ganhos dos motoristas parceiros entre 10% e 25%, nas 1.600 cidades do Brasil onde a empresa está presente. A iniciativa oferece mais ganhos aos parceiros, o que contribui para diminuir o tempo de espera, mantendo acessibilidade e oferta do serviço aos usuários. Além disso, a 99 lançou um pacote de ações chamado Mais Ganhos que prevê, entre outras iniciativas, o repasse integral do valor da corrida aos parceiros em localidades e horários específicos, que já representou ganhos extras de mais de R$ 10 milhões para os condutores. As medidas, segundo a FIPE, vão representar um acréscimo de R$ 500 milhões no PIB brasileiro até o final do ano. Outra medida implementada pela 99 a todos os motoristas é o desconto de 10% em todos os postos da rede Shell, o que já gerou uma economia de R$ 5 milhões aos motoristas parceiros. A 99 esclarece, ainda, que parte do valor arrecadado com as tarifas é revertido em investimentos e em melhorias na experiência dos usuários, seja em segurança, novos produtos ou campanhas de incentivo à demanda. É importante observar que a taxa média nacional aplicada pela empresa é de 20%. O objetivo é garantir que os motoristas parceiros sempre tenham ganho no serviço prestado ao passageiro. Neste sentido há casos em que é empregada a taxa negativa, ou seja, o valor repassado ao motorista é maior que o pago pelo passageiro e esta diferença é custeada pela empresa para democratizar o acesso das pessoas.”