Após a aprovação, na Câmara Municipal, do projeto de lei que autoriza a prefeitura de Porto Alegre a vender ou liquidar a companhia pública de ônibus Carris, a Secretaria Municipal de Parcerias aguarda as conclusões de uma consultoria contratada ainda à época da gestão de Nelson Marchezan. A Valor e Foco está analisando o valor da marca e ativos da empresa, além dos passivos trabalhistas.
Em entrevista ao Gaúcha Mais desta terça-feira (14), a titular da Pasta, Ana Pellini, ressaltou que o processo poderá levar mais tempo do que o esperado. Isso porque a prefeitura de Porto Alegre estima que não será fácil encontrar investidores para o negócio. Ela disse que a prefeitura está em contato com empresas nacionais do setor, mas ainda é difícil saber o real interesse dos investidores na companhia.
Em termos de procedimentos legais, assim que estiver pronto, o edital de privatização da Carris será alvo de análise do Tribunal de Contas do Estado (TCE), o que levará cerca de 60 dias. Com a etapa de análise e revisão concluída, o edital será lançado pela prefeitura no começo de 2022. A estimativa da secretária é de conclusão da licitação em abril ou maio, caso não haja recurso. Se não houver interessados, o Executivo partirá para o plano B, que é a liquidação.
— Sabemos que a questão é a sustentabilidade do setor a longo prazo, por isso, trabalhamos com diferentes cenários — afirma.
O processo que resultaria na extinção da empresa iniciaria pela venda das linhas. Mais rentáveis da cidade, as chamadas linhas T (transversais) são cobiçadas pelas empresas privadas de ônibus por conta do número de passageiros que transportam diariamente.
Segundo a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), a Carris opera 22 linhas em dias úteis, 20 aos sábados e 18 aos domingos. Durante a pandemia, cerca de 107 mil passageiros são transportados, em média, sendo que antes da crise sanitária eram cerca de 193 mil. Aproximadamente 50 bairros são atendidos pela Carris.
Uma segunda etapa resultaria na venda dos ativos da empresa, a exemplo do terreno onde fica a sede da companhia, avaliado em R$ 48 milhões, e os veículos da frota. As dívidas, neste caso, seriam absorvidas pela prefeitura.
Funcionários da companhia
O governo municipal pretende lançar nos próximos meses um programa de demissão voluntária (PDV). Além disso, segundo a prefeitura, a estimativa é de que alguns dos profissionais da companhia já estão aposentados e seguem na ativa, assim como outros estão em processo de aposentadoria, minimizando as demissões que deverão ocorrer. Para diminuir esse efeito, o Executivo ressalta que vai oferecer cursos de capacitação aos servidores da Carris.
— Há uma atenção muito grande com o pessoal da Carris. Vão ser oferecidos PDV e cursos de capacitação, minimizando as perdas que eles sofreriam com as demissões — garante Ana Pellini.
A consultoria estima que a companhia precisa de 1,2 mil profissionais para a operação, sendo que hoje a empresa tem 1,9 mil trabalhadores em seu quadro funcional, sendo que parte dos funcionários está em processo de aposentadoria ou já é aposentado. Ana Pellini, porém, acredita que parcela significativa dos servidores será absorvida no novo arranjo da Carris.
— Quem comprar as linhas da Carris vai precisar de motoristas, de pessoas que conhecem a companhia. Haverá uma tendência de aproveitar os funcionários, por isso, acredito que é possível fazer uma transição sem solavancos — pondera.