Com a aprovação do projeto que extingue gradativamente os cobradores do sistema de transporte público de Porto Alegre, a prefeitura da Capital segue um padrão observado em outros municípios da Região Metropolitana e Vale dos Sinos — pelo menos nove já não contam com essa função.
Alvorada, Cachoeirinha, Campo Bom, Estância Velha, Esteio, Novo Hamburgo, Gravataí, Sapiranga e Sapucaia do Sul não contam com esses profissionais nos coletivos urbanos. Canoas tem cobradores em 70% da frota municipal.
Esteio não tem cobradores em suas linhas municipais há mais de uma década. Desde os anos 1990, também há uma cultura do uso de lotações, que normalmente contam somente com os motoristas.
Em Cachoeirinha, não há mais cobradores no sistema de transporte público desde 2019. Em Alvorada, as linhas intermunicipais ainda contam com os profissionais, mas as municipais extinguiram o cargo por decreto. Esse é o mesmo caso de Sapucaia do Sul e Sapiranga, que também retiraram esses trabalhadores do sistema.
Em Viamão, a licitação realizada em 2016 já previa que os coletivos não precisassem mais dos cobradores. Em 2020, a Câmara de Vereadores chegou a aprovar um projeto de lei proibindo a extinção da função no sistema de transporte, mas a lei foi revogada este ano, pois não é uma prerrogativa do Legislativo. Em Gravataí, onde a retirada desses trabalhadores começou em 2018, parte dos 130 cobradores se tornou motoristas.
Vale do Sinos
Em Novo Hamburgo, a presença de cobradores nunca foi uma determinação do município. Há seis anos, a retirada desses profissionais foi gradativa para que eles pudessem conseguir uma nova ocupação. Nos últimos três anos, 100% da frota de ônibus não conta com cobradores. Novo Hamburgo não tem uma empresa pública e uma nova licitação do transporte público está em andamento. Atualmente, a proposta de edital está em análise no Tribunal de Contas do Estado (TCE/RS).
De acordo com a secretária de Desenvolvimento Urbano e Habitação, Roberta Gomes de Oliveira, que acompanhou a transição, a população já se adaptou.
— Atualmente é bem tranquilo porque as pessoas estão acostumadas e a licitação vai facilitar ainda mais o pagamento da passagem.
O município utiliza a bilhetagem eletrônica, mas pretende ampliar o sistema.
— Com a pandemia, essa operação sem cobradores se consolidou, justamente para diminuir o número de pessoas nos coletivos — acrescenta.
Também na região, Estância Velha nunca estabeleceu a obrigatoriedade dos cobradores no sistema de transporte. O gerente da Viação Montenegro e da empresa Silas, que opera as linhas municipais e intermunicipais do município, Alcides Azevedo, dia que 75% dos usuários do transporte já utilizam cartões eletrônicos.
— A tendência é que as pessoas não usem mais dinheiro vivo. Há vários pontos de carga e recarga, na própria empresa — disse.
Em razão da pandemia, há cerca de 6 mil usuários do sistema urbano por mês. O normal para o município é cerca de 30 mil pessoas mensalmente. A título de comparação, a média de um dia útil típico em 2019 foi de 836 mil passageiros em Porto Alegre. Os dados são do Observatório de Mobilidade da EPTC.
Projeto aprovado na Câmara de Porto Alegre
Na Capital, ainda que aprovado por ampla maioria, o projeto da prefeitura que extingue os cobradores do sistema gerou ampla polêmica na quarta-feira (1º), considerando que 2,6 mil trabalhadores poderão ser afetados.
A proposta prevê a retirada gradual dos profissionais da cobrança das 22h às 4h, avançando para as linhas de menor trajeto. Até a extinção completa da função, que seria em 1º de janeiro de 2026, a prefeitura implementaria cursos de qualificação e faria realocações.
Os rodoviários da Capital dizem que não cabe a comparação entre os sistemas de transporte de Porto Alegre e dos municípios da região em razão do volume de passageiros e características do trânsito.
— São famílias que serão atingidas, assim como a segurança dos passageiros. Os cobradores fazem diferença no sistema e vamos tentar barrar essa medida, já que os motoristas não podem realizar uma dupla função — ressalta o vice-presidente do Sindicato dos Rodoviários, Alessandro Ávila.
Os profissionais que se aposentarem até o final do período de transição não serão repostos. A tendência é de que mil cobradores se aposentem até 2026, segundo projeções da Secretaria Municipal da Mobilidade Urbana. Com essa medida, a economia deverá ser de R$ 0,74 sobre a passagem ao final dos quatro anos de implementação completa da proposta, segundo a prefeitura.