Um trio que corria pelas ruas do residencial Vivendas de Nova Ipanema foi desfeito - por pouco tempo, esperam os moradores. Malhado, Polaca e Cigarro são cães comunitários que dormem em camas cobertas, instaladas sob as varandas dos imóveis do bairro Hípica, zona sul de Porto Alegre. Desde 7 de agosto, Cigarro não é encontrado pela vizinhança.
— Ele entrava na minha casa, brincava, pulava... muito dócil. A gente instalou a casinha ali, e ele nunca ia mais longe — conta a artesã Marivone Keler, 40 anos, enquanto aponta para a sacada.
O sumiço gerou uma mobilização: 2 mil panfletos foram impressos, gratuitamente, por uma vizinha que trabalha com artes gráficas, e distribuídos nas caixinhas de correio, colados nos vidros dos automóveis e afixados nos postes do bairro planejado. Nas redes sociais, postagens com a imagem do cachorro têm milhares de compartilhamentos - a página do Facebook “Procura-se o Cigarro” é administrada pela estudante Júlia Ampos, 17 anos.
— Última vez em que foi visto, ele estava brincando com as crianças, no campinho aqui do condomínio. Não tem uma pessoa que conheça ele e não se encantasse. Ele amava as crianças, brincava na rua, corria. A gente fica muito triste, porque sempre fizemos tudo por ele, e não ter notícias há quase um mês é angustiante — lamenta a garota.
O nome é referência à cor do seu pelo: branco, com uma mancha amarela no lombo, marca que lembra o filtro do tabaco.
Cigarro é irmão de Malhado, ambos filhos de Polaca. A dupla segue acolhida, pernoitando nas casas e divertindo os condôminos durante o dia. A matilha é da raça veadeiro pampeano, e o animal procurado tem em torno de 24 quilos.
O desaparecimento é uma incógnita. Parte dos terrenos não tem grade, apesar de o condomínio ser de livre circulação, e seguranças vigiarem o acesso em duas guaritas. No entanto, dizem não terem visto qualquer suspeito levando o animal. A movimentada Avenida Juca Batista fica a um quilômetro do local, mas nenhum dos tutores acredita que ele tenha fugido em direção à via. Uma criança afirma ter flagrado uma mulher carregando o cão em uma coleira, o que não convence a comunidade.
— O Cigarro é muito conhecido por todos, se alguém colocasse uma coleira e saísse com ele caminhando, a gente ia ver. Eu imagino que esteja trancado em alguma casa, por isso pedimos que denuncie, anonimamente — reforça Marivone.
Os cães chegaram ao bairro planejado no início do ano, ganharam vacina e remédios contra pulgas e carrapatos. Uma veterinária voluntária, amiga dos vizinhos, presta cuidados periódicos.
Todos castrados, para evitar a reprodução, mas antes disso uma surpresa: Polaca deu à luz três filhotes, já adotados.
— Eu tentei adotar o Cigarro, mas ele não parava em casa, gostava de circular pela rua, mas voltava pra dormir na caminha junto da mãe dele — relembra Júlia.
Tiago Ampos, 10 anos, brincava com Malhado, na manhã desta quarta-feira (1), enquanto a irmã era entrevistada na Rádio Gaúcha. Um grupo de 14 pessoas se reuniu, durante a transmissão, expondo os cartazes com foto e telefones de contato. No anúncio, é visível a mancha nas costas que motivou o apelido, e uma dica extra para facilitar a identificação: Cigarro usava uma coleira vermelha com preto quando desapareceu.
Uma recompensa de R$ 500 é oferecida para quem der informações que indiquem o paradeiro do pet. O contato pode ser feito nos telefones (51) 99343-5275 e 99994-1735.