Imagens, perícia e os testemunhos tomados até o momento levam os responsáveis pela festa Aloha Sunset a suspeitos de homicídio, segundo a investigação conduzida pela Polícia Civil. O evento terminou na morte de uma jovem, na noite do último domingo (18), no restaurante Bistrô da Marina, bairro Arquipélago, região das ilhas de Porto Alegre.
De acordo com a delegada Laura Lopes, titular da 4ª Delegacia de Polícia, resta a análise de documentos — ainda não apresentados pelos organizadores — e oitivas de parte do público que testemunhou a queda da estrutura. O deque se rompeu parcialmente, levando cerca de 50 pessoas à água do Delta do Jacuí. O inquérito, contudo, não foi finalizado, reforça a delegada.
— Ainda não localizamos algumas pessoas. São suspeitos, organizador, locatário e o proprietário, investigados por homicídio, ainda sem definição da culpabilidade — pondera a investigadora.
Até o momento, a delegada trabalha com duas hipóteses de culpa para o inquérito: homicídio culposo (quando não há intenção de matar) ou homicídio com dolo eventual, quando se arrume o risco, devido a supostas negligências.
Apesar de vídeos postados nas redes sociais mostrarem frequentadores próximos uns dos outros, e sem máscara, os organizadores afirmam terem seguidos os protocolos sanitários. Não havia, ainda segundo os responsáveis pela festa, superlotação do espaço.
A vítima, identificada como Ana Elisa Andrade Genaro Oliveira, 26 anos, estava entre as pessoas que caíram na água quando a estrutura se rompeu. Ela era natural de Contagem, em Minas Gerais, e desde o segundo semestre de 2018 cursava Medicina Veterinária na Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), em Canoas, na Região Metropolitana. Em perfis de redes sociais, definia-se como "mineira, futura médica veterinária, escorpiana, amazona, autêntica, sem medo de ser feliz".
Conforme a Secretaria Municipal da Saúde, a jovem passou um tempo submersa na água depois do desabamento, chegou a sofrer uma parada cardiorrespiratória e não resistiu aos ferimentos. A causa exata da morte não foi informada — segundo a pasta, será verificada em autópsia.
A prefeitura de Porto Alegre informou que o restaurante Bistrô da Marina não possui alvará de funcionamento. O local fica dentro de um complexo chamado Marina das Flores, que opera também como local para guarda de barcos e motos aquáticas. Ainda conforme a prefeitura, o evento clandestino foi organizado por uma empresa que se apresenta como Elyte Eventos.
O Executivo acrescenta que o local tem alvará válido para funcionar no endereço Rua do Pescador, 21, que não fica às margens do Rio Jacuí e sim do outro lado da via, mas estaria operando irregularmente em frente à marina. Nas redes sociais do empreendimento, o endereço aparecia como Rua do Pescador, número 22, o mesmo da Marina das Flores.
Por se tratar de uma área superior a 250 metros quadrados e situado em uma área de proteção permanente, para uma marina funcionar no local seria necessária uma licença de operação da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), nunca apresentada à prefeitura.
Conforme a Fepam, o empreendimento — cujo nome legal é Rivestone Serviços Náuticos Eireli — ingressou com um pedido de Licença de Regularização Ambiental em julho de 2020. Após vistorias, foram requisitados mais documentos ao empreendedor. Eles foram fornecidos em 2 de julho deste ano, e o processo se encontra em análise.
Procurada por GZH, a Marina das Flores, por meio de seu advogado, Rafael Ariza, ressaltou que não tem vínculo com o Bistrô da Marina, estabelecimento onde ocorreu o acidente, e que não tem conhecimento sobre irregularidades com alvará do local. Reiterou, porém, que "dentro da área da marina não há edificação passível de ter um restaurante".
A reportagem não conseguiu contato com a direção do Bistrô da Marina.