Abençoada tem 27 anos. Quando nova, circulava pelas ruas de Porto Alegre carregando cartas e entregas dos Correios. A aposentadoria precoce, ainda com muito óleo para queimar, proporcionou uma nova atividade: o voluntariado. Ela mudou o visual, trocando o loiro por um perolado com luzes pretas. Tem tatuado o próprio nome e os dizeres “20 & Correria”, abaixo de uma coroa. À noite, de longe se vê o adorno luminoso com o nome de seus companheiros, os Taxistas do Bem.
Abençoada é uma Kombi, fabricada em 1994 - “com carinha de 95” -, garantem os seus cuidadores, em referência ao modelo descrito no licenciamento. Foi assim batizada por ser o veículo oficial das ações sociais do grupo de motoristas.
— O nome dela já diz: ela faz um trabalho tremendo — complementa Artur Goulart, 42 anos, idealizador do Taxistas do Bem.
A iniciativa reúne cerca de 24 profissionais, que tem como referência o ponto de táxi Triângulo, próximo ao terminal de ônibus de mesmo nome, na Zona Norte. No local, são recolhidas roupas, cobertores, alimentos e materiais para serem entregues à ONGs, como tampas de garrafas pet e lacres de latas de alumínio.
O veículo estilizado realiza o que os taxistas chamam de “corridas solidárias”: coleta e entrega de doações a entidades, ou diretamente para as pessoas em situação de rua. Imagens feitas pelo grupo mostram um sopão sendo preparado ao lado de uma calçada, com a kombi estacionada. Hortifrutigranjeiros recolhidos na Ceasa também têm o transporte da Abençoada.
Para a “Associação missionária S.O.S Resgatando Vidas”, os taxistas oferecem mais do que o transporte. Segundo o presidente da entidade, Isaias Soares Espindola, 54 anos, os voluntários contribuem com os ingredientes para o preparo dos lanches que são distribuídos em frente a hospitais públicos. Eles se unem ao grupo, ajudam no molho para cachorro-quente ou servindo o chá quente, para espantar as baixas temperaturas do inverno, em equipes espalhadas por oito municípios da Região Metropolitana.
— Entregamos para quem está sendo na rua, na espera de algum paciente ou até mesmo aguardando atendimento. É emocionante o retorno, a forma como nos agradecem — cita o diretor da associação.
O projeto oferece “uma palavra de acolhida”, de acordo com o coordenador, sem distinção de crenças. Três vezes por semana, tem janta para as crianças do Morro Santana, na Zona Leste, mesmo bairro onde a associação missionária é sediada. Toda ajuda é bem-vinda, e o contato é com o próprio Isaias, no número 51 98192-6813 (com WhatsApp).
Além de ajudar a população em vulnerabilidade, o Taxistas do Bem leva, gratuitamente, dependentes químicos para tratamento em comunidades terapêuticas.
As “missões” também se tornaram uma forma de Goulart enfrentar a morte da mãe.
— Tive uma depressão muito forte em 2010, quando perdi minha mãe. Saí do buraco fazendo trabalho social. Muito gratificante ganhar um sorriso, um abraço, os teus problemas ficam tão pequeninhos — compara.
O taxista atende pelo telefone (51) 98509-9918, para quem quiser se unir aos taxistas ou contribuir nas ações.