Uma dupla de profissionais da saúde de São Leopoldo, no Vale do Sinos, alcança um feito improvável: elas arrancam sorrisos de mães e pais na chegada à UTI neonatal. De forma singela, as técnicas de enfermagem do Hospital Centenário mudaram a recepção da área de cuidados intensivos, espalhando enfeites decorativos que remetem às datas festivas.
— Fizemos isso porque acalenta o coração de quem está ali, angustiado — explica Edinilda Silveira, 50 anos, uma das idealizadoras.
Desde o início de março, um banner com uma bebê vestida de coelhinho foi pendurado na antessala dos leitos. Ovinhos de Páscoa e até um balcão que imita uma calda de chocolate foram confeccionados pelas técnicas.
Viviane Borges Vieira, 42 anos, acompanha os recém-nascidos diuturnamente. Junto com Edinilda, comemora cada percentual de evolução dos bebês.
— Um grama que ele ganha é um alívio. A gente comemora com a família — afirma a Viviane.
A iniciativa surgiu em outubro de 2020, quando o local virou cor de rosa, pelo mês de alerta sobre o diagnóstico precoce do câncer de mama. O novembro roxo da prematuridade ganhou balões rentes ao teto, e o Natal também foi celebrado com um presépio. Tudo isso em um ano no qual a pandemia de coronavírus tornou mais distante o contato entre trabalhadores e visitantes, reforça a enfermeira Simone de Souza, vice-presidente operacional do hospital, gestora da equipe na época em que as ações se iniciaram.
— Incentiva também os colegas. Isso é fazer humanização. Elas fazem a diferença. Não precisa ser algo gigantesco. Um bom dia já muda a forma como a pessoa se sente — elogia a enfermeira-chefe.
Em torno de 60 pessoas trabalham na UTI, nas mais variadas funções que o setor demanda. Edinilda é técnica de enfermagem há 18 anos — 16 deles no Hospital Centenário. Tem em sua formação ainda o magistério, porém não atua como professora. A ideia de reduzir a aflição de quem não vê a hora de levar seu filho para casa surgiu pela experiência como docente, profissão que demanda muita criatividade.
— Por que não diminuir a carga emocional deles com uma bela decoração? As famílias passam meses na recepção da UTI, o dia inteiro, preocupadas com seus filhos — diz Edinilda.
O auditor aposentado Ronésio Cascaes, 60 anos, demonstra orgulho pelo trabalho de Edinilda. Fotografa a esposa, a conduz no veículo da família para cima e para baixo e participa de suas invenções.
O marido de Viviane também coloca a mão na massa, garante a técnica. Enquanto aguardava para falar do trabalho ao vivo na Rádio Gaúcha, na manhã desta quarta-feira (31), ela presenciou a chegada de uma grávida que sofria de convulsões.
De forma ágil, as equipes prepararam um leito, em caso de o parto ter de ser adiantado. A atitude preventiva leva em conta a fragilidade de alguns pacientes, e a decoração da UTI é pensada também para atenuar o momento dessas famílias.
— Os primeiros momentos de vida do recém-nascido também é aqui, logo após o parto, e os pais ficam mais felizes ao ver o trabalho que fizemos — reitera Viviane.
Todos os meses, cerca de 200 partos ocorrem na instituição, gerida pela prefeitura de São Leopoldo. As imagens dessa reportagem foram feitas pela equipe de comunicação da instituição — por motivos sanitários e de segurança, a reportagem de GZH evitou acessar locais fechados.
O Dia das Mães e a Semana da Enfermagem, datas celebradas em maio, estão na mira das profissionais. O orgulho de ter um trabalho ainda mais essencial, para quem passa pelo ambiente intenso, motiva as duas a seguirem inovando.
— O (Antonio Carlos) Macedo me deu uma ideia quando disse que nós somos anjos. Quem sabe penduramos umas asinhas... — brinca Edinilda, já iniciando sua próxima criação a partir do elogio do apresentador do programa Gaúcha Hoje.
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