Com um ramalhete de flores na mão, um homem tentava sensibilizar o funcionário do supermercado Zaffari na Avenida Ipiranga, em Porto Alegre, sobre o Dia da Mulher:
– Peguei uma flor para a minha esposa, mas queria comprar um brinquedinho para minha filha. Não tem como eu só pegar uma lembrancinha?
– Posso chamar o gerente se o senhor quiser conversar com ele, mas a venda não está autorizada.
O cliente acabou desistindo. Brinquedos fazem parte da lista de produtos não essenciais que, desde a manhã desta segunda-feira (8), não podem ser vendidos por estabelecimentos classificados como atividades essenciais, como os supermercados.
No primeiro dia sob a validade do decreto, GZH percorreu alguns deles e deparou com cenas semelhantes. Os clientes de diferentes redes encontraram corredores fechados, fitas, fileiras de carrinhos, plásticos e lonas bloqueando o acesso aos materiais. Na unidade do Asun da Azenha, a gerente Luna Maciel entende as medidas do decreto:
– São poucos os produtos que não pode comprar, mas são alguns dos que envolvem mais tempo de escolha. Se a pessoa precisa de um pote de plástico, vai ali e pega. Mas se é uma roupa, um presente, uma porcelana, ela escolhe, ela prova, ela manuseia. Acho que o objetivo do decreto também é diminuir o tempo que as pessoas ficam aqui dentro da loja – interpreta.
No Asun, a opção foi por reunir a maior parte dos produtos não essenciais no alto das gôndolas e cobri-los com uma lona preta. Sob a proteção, havia itens não essenciais volumosos, como cadeiras de praia e churrasqueiras. Nos corredores de bazar, as lonas funcionavam como cortinas. Ora fechadas — ocultando louças de porcelana, por exemplo —, ora abertas, exibindo exceções à regra, como potes de plástico e panelas.
No hipermercado Bourbon Ipiranga, toda uma ala do supermercado dedicada a eletrônicos e itens de bazar estava isolada por uma fileira de carrinhos. Uma TV foi virada para os clientes reproduzindo em 55 polegadas os mesmos dizeres dos cartazes que os funcionários ainda espalhavam pelas entradas e corredores: “Atendendo a decreto, VENDA EXCLUSIVA DE PRODUTOS ESSENCIAIS. Contamos com a sua compreensão.” Nem todos foram compreensivos.
– Vocês acham que isso aí adianta alguma coisa? Isso aí é uma piada! – dizia um cliente a um funcionário, empurrando o carrinho enfurecido loja adentro.
Os desaforos, todavia, foram exceção. A maior parte dos clientes reagia com curiosidade, tentando espiar quais produtos haviam sido isolados por meio de plásticos opacos, nas prateleiras que ficavam no interior do supermercado, mas não houve tentativas de violá-los.
No hipermercado Big, do BarraShoppingSul, a opção também foi isolar as prateleiras com plásticos.
Houve, sim, alguma diferença de critério. No hipermercado Carrefour, localizado na Avenida Bento Gonçalves, foram fechados corredores com itens que podem ser comercializados – como panelas, potes e utensílios de cozinha. Situação semelhante foi observada no supermercado Nacional, do bairro Teresópolis. No Asun, potes de vidro foram classificados como restritos, enquanto no Bourbon eles foram mantidos à disposição. Já os itens de jardinagem estavam à disposição no primeiro e vetados no segundo. Esses ajustes serão feitos ao longo dos primeiros dias, conforme aparecerem dúvidas na aplicação do decreto, que devem ser sanadas junto à Procuradoria-Geral do Estado.
Segundo a gerente do Asun, a principal preocupação dos primeiros clientes do dia não rendeu dissabores:
– Eles estavam muito preocupados se poderiam comprar bebidas alcoólicas. Ficaram aliviados que sim.