Um levantamento da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) feito a pedido de GZH apontou que a diminuição de veículos circulando em Porto Alegre provocou queda de 22% nas multas de trânsito em 2020. Os dados comparam o total de infrações registradas na Capital de janeiro a dezembro com o mesmo período de 2019. As mortes no trânsito apresentaram redução de 10 casos entre um ano e outro.
Apesar do indicador apontar redução significativa no total de multas aplicadas, os números ligados ao excesso de velocidade tornaram-se uma dor de cabeça ao órgão no último ano. Houve crescimento de 7% no total de infrações por superar o limite de velocidade estabelecido na via.
Além disso, por quase três meses os radares não registraram infrações de trânsito em razão da troca da empresa prestadora do serviço à prefeitura. De acordo com o diretor-presidente da EPTC, Paulo Ramires, há preocupação para tentar evitar esse aumento nos índices de excesso de velocidade:
— No início da pandemia, diminuiu muito o número de veículos circulando, mas as telentregas cresceram muito. A via estava mais vazia e esses veículos trafegaram mais rapidamente, especialmente as motos, e trabalhamos para evitar mais esse tipo de comportamento.
Ao longo do ano, barreiras e fiscalizações mirando especificamente motociclistas foram realizadas na Capital. Algumas, inclusive, não registraram multas, e tiveram ênfase educativa.
Os números de excesso de velocidade em Porto Alegre apontam ainda que houve crescimento do número de motoristas flagrados andando acima dos 90 km/h, chegando a ser duas vezes maior em meses de 2020, na comparação com 2019.
Para o especialista em tráfego e doutor em transportes João Albano, o espaço físico disponível deixa a situação mais propensa ao excesso de velocidade. A partir daí, motoristas sentem-se mais confortáveis para dirigir em velocidade elevada, superando os limites:
— Existem determinados tipos de condutores que, por mais rigorosa que seja a legislação, não dão atenção ao significado daquilo. E precisam ser vigiados. Para muitas pessoas, só a multa funciona. São os "infratores contumazes", que dirigem ao sabor das oportunidades que encontram.
Para a especialista em psicologia do trânsito Aurinez Rospide Schmitz, o condutor põe suas necessidades individuais acima das regras e sinalizações de trânsito:
— Quando o condutor enxerga uma avenida vazia e anda acima da velocidade, ele acaba negando a imprevisibilidade do trânsito. Existe um olhar mais egocêntrico e se nega que existe uma regra. O motorista sabe e subestima o risco. A necessidade individual supera o raciocínio lógico de respeito à regra.
A psicóloga alerta ainda que as privações da pandemia podem influenciar o comportamento do condutor, já que ele encontra no trânsito um local de exprimir, a partir da velocidade, um pouco da resignação do período mais restritivo:
— O trânsito reflete aspectos que vivemos, e estamos em pandemia. Talvez, a pessoa deparando com uma via livre, depara-se com uma maior liberdade. Aciona no indivíduo uma sensação de liberdade e autonomia, que neste momento de pandemia, é de resignação.
Menos vítimas
Segundo a EPTC, o total de mortes em Porto Alegre registrou queda. Em 2019, foram 74 óbitos no trânsito da Capital, contra 64 em 2020. Outras infrações de trânsito apresentaram redução, especialmente estacionar em local proibido e utilizar o telefone celular e fones de ouvido enquanto dirige. Para Ramires, a pandemia e as ações de educação colaboraram para essa queda:
— Isso, sim, é de se celebrar. Obviamente que a pandemia influenciou, mas também há um trabalho. Acidentes com motos cresceram em um primeiro momento, a gente identificou isso. Há uma parcela também de conscientização dos condutores. É necessário ser mais humano no deslocamento.