Os ônibus da Sogal, que fazem as linhas dentro do município de Canoas, na Região Metropolitana, não saíram da garagem da empresa na manhã desta quarta-feira (23). Os rodoviários iniciaram greve por tempo indeterminado devido ao atraso no pagamento de salários, férias, 13º salário e vale-alimentação.
O primeiro coletivo deveria ter saído da garagem às 4h40min. Cerca de 180 rodoviários estão concentrados no local, no bairro Igara.
O movimento começou na segunda (21) e na terça-feira (22), com diminuição na circulação, operação-tartaruga e momentos de paralisação. A ideia é manter a greve por tempo indeterminado.
— Não vamos retornar ao trabalho enquanto não recebermos — disse o diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Canoas (Sitrocan), Peter Silva.
Quem depende dos ônibus da Sogal não tem muitas alternativas. Aplicativos e transporte clandestino foram flagrados durante a semana na cidade. Os ônibus da Vicasa, que fazem o transporte intermunicipal, estão circulando, mas não fazem o mesmo itinerário.
Houve reunião na tarde passada entre empresa, sindicato e prefeitura de Canoas, intermediada pelo Ministério Público do Trabalho. A prefeitura disponibilizou R$ 200 mil para a retomada do serviço, com a compra de novas passagens às mais de 5 mil famílias beneficiadas com o auxílio do transporte social. No entanto, isso equivale a 25% do valor do 13° salário — o restante dos débitos seria parcelado, o que não foi aceito pela categoria.
A Sogal, por meio de nota, disse que a situação da empresa não se diferencia das demais do setor, a exemplo de Porto Alegre, Nova Santa Rita, Novo Hamburgo, Sapucaia do Sul, Dois Irmãos e outras cidades da Região Metropolitana, que foram auxiliadas com o aporte financeiro público para fazer frente às debilidades econômicas dos contratos de concessão. A empresa afirma ainda que, atualmente, não tem recursos financeiros próprios para fazer frente às obrigações.
O sistema de ônibus da cidade, conforme a Sogal, está operando com somente 45% da demanda de passageiros, cuja arrecadação não cobre os custos da folha dos funcionários , aquisição de combustível, pneus e demais insumos.
O que diz a prefeitura, por meio de nota:
"A prefeitura de Canoas informa que uma audiência ocorreu na manhã de terça-feira (22) entre a administração municipal, representantes do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Canoas (Sitrocan) e da empresa prestadora do transporte público na cidade. Durante aproximadamente duas horas, a reunião mediada pelo Ministério Público do Trabalho, buscou evitar a greve no transporte público prevista para iniciar nesta quarta-feira (23).
A prefeitura de Canoas compreendendo as dificuldades que os trabalhadores do transporte têm enfrentado em meio à pandemia, disponibilizou o recurso de R$ 200 mil para retomada do serviço essencial de auxílio transporte social com a compra de novas passagens às mais de 5 mil famílias beneficiadas.
Tendo em vista que esse recurso não cobriria na totalidade o pagamento do 13º dos trabalhadores, a prefeitura de Canoas foi comunicada no final da tarde da paralisação dos ônibus a partir desta quarta-feira. Como se trata de uma empresa privada, uma relação direta empregado-empregador, a prefeitura de Canoas não pode fazer mais do que é a sua competência. Entretanto, buscará uma nova negociação entre as partes para que não ocorra a desassistência à população."
O que diz a Sogal, por meio de nota:
"A empresa Sogal, através de sua diretoria, vem por meio desta mensagem manifestar sua posição para a comunidade canoense, frente a possibilidade de realização de movimento grevista no sistema de transporte coletivo.
Antes de mais, importante reafirmar que o ano de 2020 foi e está sendo muito difícil para todos, em especial para a classe trabalhadora e os setores considerados essenciais, como o transporte coletivo.
Enfrentamos esta pandemia e conseguimos chegar até este momento, mas precisamos esclarecer alguns pontos para que não pairem dúvidas sobre a real situação do transporte coletivo em nossa cidade .
Com efeito, é forçoso reconhecer que o 13° salário não será pago na integralidade até o final do ano, como ocorreu ultimamente.
O município de Canoas, sensível ao problema, assumiu o compromisso de destinar R$200.000,00 na próxima segunda-feira para pagamento desta parcela, que corresponde a cerca de 25% da verba devida aos funcionários, assumindo a empresa a obrigação de pagar o restante em 2021.
A proposta, porém, não foi acolhida pelos trabalhadores, contrariando vários outros acordos coletivos de trabalho formalizados entre outras categorias funcionais, cujo pagamento se dará, na maioria dos casos, em até 6 parcelas ao longo do ano de 2021, havendo consenso entre as partes envolvidas.
A prefeitura de Canoas assumiu este compromisso porque reconhece o desequilíbrio econômico-financeiro do contrato de concessão do transporte coletivo, processo este que tramita no ministério público estadual (PA 00739.000018/2019) ,com este montante devido a empresa, poderemos quitar estas parcelas de forma antecipada já em janeiro de 2021 e equilibrar o contrato de concessão .
A situação vivenciada pela Sogal não se diferencia das demais empresas do setor, a exemplo de Porto Alegre, Nova Santa Rita, Novo Hamburgo ,Sapucaia do Sul, Dois Irmãos e demais cidades da região metropolitana, que foram auxiliadas com o aporte financeiro público para fazer frente as debilidades econômicas dos contratos de concessão.
Quer dizer: atualmente a empresa não tem recursos financeiros próprios para fazer frente a esta obrigação.
Para deixar clara a grave situação do sistema de ônibus, importante dizer que estamos operando com somente 45% da demanda de passageiros, cuja arrecadação não cobre os custos da folha dos funcionários , aquisição de combustível, pneus e demais insumos.
Com esta receita não há como pagar o 13° salário integralmente até o final do ano. Há necessidade de compreensão, de bom senso por parte da classe trabalhadora.
O quadro mais dramático é o do confronto, da greve, da paralisação dos serviços, que determinará um grave abalo na arrecadação da empresa, inviabilizando, por completo, a programação de pagamentos do mês de dezembro
Não se trata de não querer pagar a verba devida aos funcionários, mas do pagamento dentro das reais condições, da possibilidade da transportadora.
A empresa, como é de conhecimento geral, vem realizando enorme esforço para arcar com estas obrigações.
Entendemos, assim, que a decisão de paralisação deve ser melhor refletida pela maioria dos trabalhadores.
Primeiro porque causa grave colapso na comunidade canoense, que ficará desprovida de atendimento essencial para deslocamento aos serviços básicos, com nefastos reflexos no comércio, indústria e demais serviços locais, impactando negativamente toda cadeia de consumo, frustrando legítimas expectativas.
Depois, porque a greve não gerará os recursos financeiros para pagamento do 13° salário, ao contrário, agravará a situação da empresa e pode colocar em risco os empregos dos nossos 680 funcionários.
O quadro que se desenha é grave e exige compreensão de todos os envolvidos, pelo que contamos com o apoio e consideração neste momento tão difícil.