Terminou sem acordo uma segunda reunião entre rodoviários e administradores da empresa Sogal de Canoas. Os trabalhadores alegam que não receberam valores referentes ao 13⁰ salário e tíquetes de alimentação, além de atrasos no fundo de garantia. Devido a isso, os rodoviários afirmam que vão entrar em greve a partir desta quarta-feira.
Desde segunda-feira, os moradores de Canoas enfrentam transtornos na busca pelo transporte público. Os rodoviários realizaram uma "operação tartaruga", que é quando um número menor de veículos sai das garagens e circula em velocidades reduzidas pela cidade. A reportagem de GZH constatou passageiros em Canoas aguardando coletivos por mais de uma hora durante a segunda-feira e a terça-feira pela manhã.
Duas reuniões virtuais foram feitas de forma online entre trabalhadores e a empresa, ambas com mediação do Ministério Público do Trabalho. No segundo encontro, nesta terça-feira (22), a prefeitura de Porto Alegre também participou. Entretanto, nenhuma das reuniões resultou em acordo.
De acordo com o diretor do Sindicato dos Rodoviários de Canoas, Peter Silva, os trabalhadores vão se reunir na manhã desta quarta-feira para discutir o que será feito.
— A prefeitura falou que daria apenas um valor. Mas não foi aceito. Mas vamos conversar com eles. Possivelmente vai haver a paralisação — disse.
A reportagem procurou a prefeitura de Canoas, que está analisando a situação. A empresa Sogal também foi procurada na parte da tarde, e emitiu uma nota na madrugada desta quarta-feira (23):
A empresa Sogal, através de sua diretoria, vem por meio desta mensagem manifestar sua posição para a comunidade canoense, frente a possibilidade de realização de movimento grevista no sistema de transporte coletivo.
Antes de mais, importante reafirmar que o ano de 2020 foi e está sendo muito difícil para todos, em especial para a classe trabalhadora e os setores considerados essenciais, como o transporte coletivo.
Enfrentamos esta pandemia e conseguimos chegar até este momento, mas precisamos esclarecer alguns pontos para que não pairem dúvidas sobre a real situação do transporte coletivo em nossa cidade .
Com efeito, é forçoso reconhecer que o 13° salário não será pago na integralidade até o final do ano, como ocorreu ultimamente.
O Município de Canoas, sensível ao problema, assumiu o compromisso de destinar R$200.000,00 na próxima segunda-feira para pagamento desta parcela, que corresponde a cerca de 25% da verba devida aos funcionários, assumindo a empresa a obrigação de pagar o restante em 2021.
A proposta, porém, não foi acolhida pelos trabalhadores, contrariando vários outros acordos coletivos de trabalho formalizados entre outras categorias funcionais, cujo pagamento se dará, na maioria dos casos, em até 6 parcelas ao longo do ano de 2021, havendo consenso entre as partes envolvidas.
A Prefeitura de Canoas assumiu este compromisso porque reconhece o desequilíbrio econômico-financeiro do contrato de concessão do transporte coletivo, processo este que tramita no ministério público estadual (PA 00739.000018/2019) ,com este montante devido a empresa, poderemos quitar estas parcelas de forma antecipada já em janeiro de 2021 e equilibrar o contrato de concessão .
A situação vivenciada pela Sogal não se diferencia das demais empresas do setor, a exemplo de Porto Alegre, Nova Santa Rita, Novo Hamburgo ,Sapucaia do Sul, Dois Irmãos e demais cidades da região metropolitana, que foram auxiliadas com o aporte financeiro público para fazer frente as debilidades econômicas dos contratos de concessão.
Quer dizer: atualmente a empresa não tem recursos financeiros próprios para fazer frente a esta obrigação.
Para deixar clara a grave situação do sistema de ônibus, importante dizer que estamos operando com somente 45% da demanda de passageiros, cuja arrecadação não cobre os custos da folha dos funcionários , aquisição de combustível, pneus e demais insumos.
Com esta receita não há como pagar o 13° salário integralmente até o final do ano. Há necessidade de compreensão, de bom senso por parte da classe trabalhadora.
O quadro mais dramático é o do confronto, da greve, da paralisação dos serviços, que determinará um grave abalo na arrecadação da empresa, inviabilizando, por completo, a programação de pagamentos do mês de dezembro
Não se trata de não querer pagar a verba devida aos funcionários, mas do pagamento dentro das reais condições, da possibilidade da transportadora.
A empresa, como é de conhecimento geral, vem realizando enorme esforço para arcar com estas obrigações.
Entendemos, assim, que a decisão de paralisação deve ser melhor refletida pela maioria dos trabalhadores.
Primeiro porque causa grave colapso na comunidade canoense, que ficará desprovida de atendimento essencial para deslocamento aos serviços básicos, com nefastos reflexos no comércio, indústria e demais serviços locais, impactando negativamente toda cadeia de consumo, frustrando legítimas expectativas.
Depois, porque a greve não gerará os recursos financeiros para pagamento do 13° salário, ao contrário, agravará a situação da empresa e pode colocar em risco os empregos dos nossos 680 funcionários.
O quadro que se desenha é grave e exige compreensão de todos os envolvidos, pelo que contamos com o apoio e consideração neste momento tão difícil.