O número de clientes sem energia elétrica no Rio Grande do Sul, principalmente na Região Metropolitana, caiu para 35 mil após novos balanços divulgados às 23h desta segunda-feira (14) pela Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE) e Rio Grande Energia (RGE). No pico do temporal ocorrido às 15h de domingo (13), com ventos de 91 km/h, o total de clientes sem luz era de 318 mil.
Moradores de Porto Alegre também enfrentam falta de água porque estações de bombeamento pararam após a queda da energia. Luz e água estão sendo restabelecidas aos poucos durante o dia, conforme o atendimento dos vários chamados.
Segundo a RGE, por volta das 19h, havia 10 mil clientes sem energia nas regiões Metropolitana e Norte do Estado. A última atualização da CEEE às 23h, informava 23 mil clientes na Capital, em pontos variados das zonas norte e sul, e mais 2 mil em Viamão. Em outros municípios da Região Metropolitana, restam apenas casos pontuais.
Na manhã desta segunda-feira, 140 mil clientes estavam sem luz. A CEEE e a RGE estão atendendo a todos os pedidos, conforme a gravidade e a ordem das chamadas. A RGE orienta os clientes a não tentarem religar a energia por conta própria, nem tocar em equipamentos elétricos ou fios rompidos.
Os serviços realizados incluem alguns mais complexos, como reconstrução de redes arrebentadas, poda de árvores e galhos de grande porte caídos, substituição de postes.
Protestos na Capital
Após o temporal registrado no último domingo (13), moradores de diferentes regiões de Porto Alegre protestaram pela demora na retomada do fornecimento de energia elétrica. As manifestações ocorreram, principalmente, nas zonas Sul e Leste.
Na zona sul da Capital, foram realizados protestos em pontos do bairro Restinga e Campo Novo, conforme a Brigada Militar. A avenida Juca Batista chegou a ser bloqueada por galhos de árvores e pela presença dos moradores em frente aos veículos.
Na Zona Leste, a manifestação ocorreu no bairro Agronomia, na rua Dolores Duran. O grupo de moradores não chegou a realizar bloqueios e, de acordo com a Brigada Militar, o ato foi encerrado após a chegada de um caminhão da CEEE. A BM estima que 60 pessoas participaram do protesto.
Um dos moradores atingidos em Porto Alegre é o idoso Zoff Lerner, 72 anos. Ele reside no bairro Vila Nova e diz que a falta de luz é frequente, principalmente após temporais, e que há demora no atendimento.
— Me vi obrigado a sair de casa e ir comprar gelo. Minha esposa tem diabetes e precisa de insulina, que tem de ficar na geladeira, mas como não tem luz, os alimentos estragaram e precisei de gelo, principalmente para a insulina — ressalta Lerner.
A falta de luz também atinge a zona norte e quem precisa descansar após atender casos de pessoas com covid-19. Isabel Siqueira, 50 anos, moradora do bairro Chácara das Pedras, é uma das que está há quase 24 horas sem energia elétrica. Segundo ela, o marido, que é médico, não conseguiu descansar direito após um plantão inteiro no atendimento a pessoas infectadas pelo vírus.
— Isso não pode ocorrer, é um descaso. Ele precisava descansar domingo porque vai ter que voltar de novo para o plantão no atendimento às vítimas, principalmente agora que voltamos a ter uma nova onda de casos — diz Isabel.
Segundo a moradora, conforme anotações de outras reclamações semelhantes que já fez, a região enfrenta pelo menos uma falta de luz por mês. Em alguns casos, leva até 24 horas para que a energia seja restabelecida. Nesta segunda-feira, Isabel fez uma reclamação oficial à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Em outros pontos da Capital, como no bairro Cristal, próximo à Avenida Campos Velho, cerca de 500 moradores de dois condomínios também reclamam que a luz ainda não voltou. Em uma das ruas da região, uma árvore caiu e a CEEE teve de esperar primeiro a retirada dos galhos e do tronco para só depois iniciar o serviço.
Em Viamão, o morador do condomínio Cantegril Adriano Dias diz que a queda de energia é recorrente. Por isso, moradores fizeram um abaixo-assinado relatando o fato à CEEE.
Água
Em relação ao abastecimento de água em Porto Alegre, o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) destaca que a luz voltou na região da maioria das estações de bombeamento, como no bairro Belém Novo, mas a água só vai normalizar ao longo do dia no entorno.
Houve ainda nova queda de luz ao final da madrugada desta segunda-feira, afetando a estação de bombeamento Ouro Preto e a estação de tratamento São João, ambas na zona norte, atingindo vários bairros da região e parte do Centro. O Dmae acredita que o desabastecimento ainda vai ocorrer em alguns pontos, normalizando somente à noite porque tudo depende da energia elétrica. O departamento segue atendendo a todos os chamados e equipes trabalhando para o retorno o mais rápido possível.
Estação de bombeamento Belém Novo: em retomada
- Atende os bairros Aberta dos Morros, Agronomia, Belém Novo, Belém Velho, Boa Vista do Sul, Campo Novo, Cascata, Chapéu do Sol, Espírito Santo, Extrema, Hípica, Ipanema, Lageado, Lami, Lomba do Pinheiro (parte), Pitinga, Ponta Grossa, Restinga, São Caetano e Vila Nova.
Estação de bombeamento Ouro Preto: normalizando – aguarda Estação São João
- Atende os bairros Costa e Silva, Cristo Redentor, Jardim Floresta, Jardim Itu, Jardim Leopoldina, Jardim Lindoia, Jardim São Pedro, Mario Quintana, Morro Santana, Parque Santa Fé, Passo das Pedras, Rubem Berta, Santa Maria Goretti, Santa Rosa de Lima, São Sebastião, Sarandi e Vila Ipiranga.
Estação de Tratamento São João: finalizado por volta das 17h
- Atende os bairros Anchieta, Auxiliadora (parte), Boa Vista, Centro Histórico (parte), Chácara das Pedras, Farrapos, Floresta, Higienópolis, Humaitá, Jardim Europa, Navegantes, Passo D'areia, São Geraldo, São João, Três Figueiras (parte).
Novos temporais
Antônio Silveira, 35 anos, morador da Estrada das Furnas, bairro Vila Nova, zona sul de Porto Alegre, diz que está com todos os alimentos perecíveis estragados e que a família inteira está sem banho. Além da falta de luz, tem problemas de falta de água. Segundo ele, o problema é que quando ocorrer um novo temporal vai acontecer tudo novamente.
— Falta investimento na minha opinião, precisa ser feito algo para que isso não ocorra. A luz vai voltar, mas quando vier um novo temporal, vai acontecer de novo, e novamente com alimentos estragados, rotina alterada, isso é muito precário — destaca Silveira.
Assim como Silveira, Fábio Roberto Rockenbach, 64 anos, também morador da Estrada das Furnas, diz que outro problema é a demora no atendimento, passando de um dia em alguns casos.