Nos últimos quatro meses, Jeniffer Chaves, 32 anos, investiu tempo e dinheiro para transformar uma bicicleta velha no meio de sustento da família. Fez uma revisão geral nos freios, lixou e pintou o quadro. Buscou um reboque em um ferro-velho da Região Metropolitana, comprou caixas de isopor, um guarda-sol colorido e montou uma sorveteria itinerante. Circulou por parques e praças, e viu as vendas dos doces produzidos em casa dobrar. Por apenas três dias. No último domingo (27), teve o veículo furtado.
– Me senti impotente. Transformei ela em uma "food bike", amarrei na janela, mas alguém serrou o cadeado e levou o que eu fiz com minhas próprias mãos - explica.
Ela investiu R$ 1,3 mil na reforma da bike e na compra dos equipamentos para comercializar os sorvetes - o equivalente a um mês do salário estimado como trabalhadora informal.
Para não deixar as filhas em casa enquanto oferecia os produtos - "a partir de R$ 1", destaca -, Jeniffer instalou cadeirinhas de transporte e, durante o expediente, também oferecia um passeio às garotas, de 11, seis e cinco anos de idade. Assim, ela carrega sozinha a responsabilidade de custear os estudos, além dos demais gastos familiares, afirma.
Jeniffer vive no Quilombo do Areal, comunidade do bairro Menino Deus, em Porto Alegre. A bicicleta foi levada da calçada de casa, mas ela não acredita que tenha sido obra de algum vizinho, pois cresceu no local e diz haver respeito entre os moradores. Sobraram o guarda-sol e um cardápio, arte montada por ela própria no computador, aproveitando os conhecimentos da faculdade de Publicidade e Propaganda, graduação em que se formou – atualmente, ela cursa uma pós-graduação em Antropologia.
A história do furto foi compartilhada nas redes sociais, incentivava pela amiga Bruna Marins, 38 anos.
– Ela é muito batalhadora, precisa de toda ajuda – afirma a assistente social, que vive a poucas casas de distância de Jeniffer.
Entrevistada na Rádio Gaúcha nesta terça-feira (29), Jeniffer se emocionou ao contar que deixou sua profissão de lado para cuidar da família. Aos 64 anos, a mãe morreu vítima de uma sequência de acidentes vasculares cerebrais, período em que teve as duas filhas como cuidadoras.
Ela chorou novamente quando recebeu a ligação de um ouvinte, o vendedor de churrasquinhos Waldo Dias, 55 anos, proprietário de um bar no Centro da Capital.
– Ele me disse que começou como ambulante e prometeu doar caixas de isopor para mim - explicou a autônoma.
Alguns minutos depois, Dias chegou ao quilombo com um Fusca verde 1977. No topo do automóvel, uma grande caixa. Nos bancos, outro isopor, além de uma garrafa térmica, para os clientes que preferem café a sorvete.
– Daqui a uns dias, quem sabe, eu venho aqui e vai ter uma grande sorveteria – disse o empresário.
O empresário Everton Câmara de Castro, 43 anos, também ofereceu ajuda. Foi um dos mais de 10 que procurou Jeniffer. Em um áudio, prometeu a compra de uma bicicleta nova, do modelo que ela quisesse.
- Ela ficou bastante emocionada, pensou que fosse uma bicicleta usada. Mas eu quero dar uma nova, é muito bom ajudar - diz o morador de Canoas, que também soube do caso pela Rádio Gaúcha.
Paulo Pavani estendeu a oferta. Dono de uma startup, relata ter uma demanda crescente por profissionais da área de marketing, com foco nas redes sociais. Ele contatou Jeniffer e ofereceu trabalhos que podem ser feitos a distância, conciliando a rotina da mãe das três meninas.
- Uma publicitária vendendo picolé na rua mostra que é ela muito comprometida, com as filhas e com o trabalho - avalia.
Uma escritora, que preferiu não se identificar, depositou na conta corrente da publicitária o valor correspondente a uma bicicleta nova.
Com tantas ajudas em tão pouco tempo, Jeniffer se mostra encabulada. Humilde, afirma que não tomará para si mais do que precisa.
– Tudo que sobrar eu vou repassar. Minha mãe me ensinou isso - complementa.
Quem quiser ajudar Jeniffer pode ligar ou mandar um WhatsApp para o telefone dela: (51) 9-8203-9243.