Mentor de investimentos na iniciativa privada, o consultor Fladimir Ferreira de Oliveira, 34 anos, viu minguar o número de empresas que buscavam conselhos durante a crise econômica gerada pela pandemia de coronavírus. Com necessidade de retomar a renda perdida, ele observou a falta de restaurantes às margens da BR-290, a freeway, e instalou um trailer com atendimento 24 horas sobre o viaduto de acesso a Glorinha, na Região Metropolitana. Em menos de quatro metros quadrados, mudou de vida.
– Se tiver a luz acesa, é só bater na janela que eu abro - explica.
Para atender de sexta-feira a segunda, o empreendedor dorme em um colchão estendido no piso da lanchonete. O ruído dos veículos, diz nem notar.
– Fico tão cansado que nem escuto os carros passando. E sonho com a marolinha do mar - brinca.
Ao lado do reboque, uma árvore proporciona sombra aos clientes, com cadeiras e mesas de madeira. A vista da estrada chama atenção, com os painéis solares da concessionária CCR do lado oposto da faixa.
Com previsão de movimento maior a partir de janeiro, ele pretende ampliar os dias de funcionamento, iniciando na quinta e indo até a terça-feira.
Quem o aciona na madrugada busca café e algum lanche rápido, como pastéis folhados, coxinhas ou pão de queijo. Antes do entardecer, os mais procurados são o açaí e os espetinhos de carne, frango e porco, vendidos a R$ 8 cada.
Além dos lanches, uma conveniência auxilia quem não se programou para pagar a tarifa do pedágio: em copos plásticos, o comerciante guarda punhados de moeda.
– O pessoal passa o cartão e leva o dinheiro. Eu coloco cinquenta centavos a mais, por causa da maquininha. Alguns querem que eu cobre mais, mas assim eu ajudo e fidelizo o cliente - justifica.
O nome do trailer, Rota 53, é em alusão ao quilômetro em que o pequeno negócio foi instalado, na alça de acesso da rodovia federal para o município. Ao lado, uma oficina e borracharia atrai clientes, e fornece energia elétrica para o forno e a geladeira - a fatura é dividida entre os empreendedores.
Oliveira vive em Sapucaia do Sul, é casado e tem uma filha de cinco anos. A esposa, bancária, também inovou nos últimos meses, ao instalar um estúdio de dança, onde dá aulas de zumba. O caminho até Glorinha é percorrido em pouco menos de uma hora, de carro.
Na manhã desta segunda-feira (28), o estoque de água e refrigerante estava vazio. Com um cansaço evidente, ele afirma ter planos de contratar um atendente para, enfim, voltar a dormir uma noite inteira sem interrupções.