Em um ano letivo marcado pelas atividades remotas, educadores e alunos contam com a solidariedade para não ficarem desassistidos. Um professor da Região Metropolitana se uniu ao filho para consertar máquinas e dar a elas novo destino: a casa de quem não possui o instrumento essencial para estudo a distância.
O trabalho de Valter Schmeling, 57 anos, e do filho, o estudante de engenharia metalúrgica Murilo Schmeling, 23, é realizado na garagem da residência da família, em Canoas. Sobre a mesa, três torres de CPU estavam desmontadas, na manhã desta quarta-feira (4), com pentes de memória, coolers de resfriamento e fontes de energia expostos.
Segundo o futuro engenheiro, a troca de peças de uma das máquinas colocará as outras duas em funcionamento. O lucro obtido com a entrega dos equipamentos reformados não pode ser mensurado financeiramente. O ganho, afirma, é muito maior.
– A gente ganha muito com os áudios que vêm depois, agradecendo - afirma o jovem estudante da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
O professor, aposentado da rede estadual e atualmente contratado pelo município em que reside, decidiu realizar o trabalho voluntário ao perceber que o fosso entre o ensino público e privado cresceu na pandemia. Nesta terça-feira, GZH mostrou que nenhum dos cromebooks que seriam entregues pela Secretaria Estadual da Educação foram distribuídos aos docentes ou as famílias gaúchas alvo da ação de auxílio.
O educador lembra do caso de uma estudante do magistério, com um único telefone celular disponível para realizar todas as tarefas do curso. “Estou desempregada e não tenho nenhum ganho”, escreveu a aluna, dizendo-se envergonhada por ter de pedir ajuda. Digitar, formatar os trabalhos e inserir imagens nas apresentações estavam entre as maiores dificuldades de estudar pelo smartphone, complementou a futura colega de sala de aula.
– Essa senhora recebeu de nós um notebook e ficou muito feliz. Assim como ela, tem muitas crianças que estudam só no celular, e precisam até esperar os pais chegarem em casa para usar o telefone - exemplifica o professor.
A família Schmeling mora em uma casa confortável, no bairro Universitário. Ao levar os computadores à moradores da periferia, o docente é acompanhado da filha mais nova, de 13 anos. O objetivo: mostrar para a garota que há realidades distintas.
Os laptops com necessidade de reparo especializado são levados à empresa Preço Justo Informática, parceira na ação social, uma "ajuda indispensável", segundo Valter. O projeto conta ainda com o apoio do Rotary Club da cidade. Outros parceiros que tenham conhecimento em conserto de smartphones ou que possam ajudar a recondicionar os computadores, também são bem-vindos.
Desde agosto, 42 notebooks e 15 desktops foram entregues, gratuitamente, a escolas públicas de Canoas. Outros colégios devem ser ajudados, fora do município, e para isso a dupla de voluntários precisa de doações. O contato pode ser feito no Facebook ou pelo telefone (51) 98563-0039 (com WhatsApp).
Minutos após conceder entrevista à Rádio Gaúcha, o professor atendeu uma dezena de ligações de ouvintes dispostos a doar dispositivos com algum defeito. E mostra orgulhoso a mensagem de uma mãe, definida por ela própria como “uma carta de agradecimento”. O filho, agora, pode assistir a vídeos repassados pelos mestres, nas aulas on-line, e o notebook doado também ajuda a irmã mais velha, matriculada no ensino para jovens e adultos (EJA). Ainda nas palavras da matriarca, os seus filhos poderão passar de ano graças a ajuda do educador.