Mesmo com o fechamento do comércio e a estreia de medidas como o bloqueio do vale-transporte de serviços não essenciais, Porto Alegre não tem conseguido se aproximar da meta de isolamento social. A média diária de pessoas em casa, desde que todas as mudanças do último decreto passaram a vigorar, no dia 9, é de 45% — 10 pontos percentuais a menos do que o índice almejado pelo governo municipal para frear o avanço do coronavírus.
A cidade registrou, na sexta-feira (17), o pior resultado desde o começo das restrições mais rígidas: apenas 39,5% das pessoas ficaram em casa, de acordo com dados da empresa Inloco. Com um final de semana de calor e sol, nem mesmo no domingo (19) — dia da semana com bons resultados até então — foi alcançada a meta. A quarta-feira (22) de Gre-Nal também não teve uma boa taxa: apenas 41,3% das pessoas ficaram em casa.
Desde a confirmação do primeiro caso da doença na cidade, Porto Alegre alcançou ou passou de 55% de isolamento em 29 dias - 11 em março, nove em abril, cinco em maio, apenas dois em junho e, novamente, dois em julho.
Para o secretário extraordinário de Enfrentamento ao Coronavírus, Bruno Miragem, os desempenhos abaixo do que a prefeitura esperava têm três justificativas: exaustão da população sobre as restrições, o agravamento das dificuldades econômicas decorrentes da pandemia e a disseminação de informações que minimizam os riscos da doença para a população.
— A redução do isolamento provoca o risco daquilo que desde o princípio se pretende evitar, que é incapacidade de atendimento do nosso sistema de saúde, na medida em que não se contém, ao contrário, agrava a curva de contaminação e ocupação de leitos — explica.
O prefeito Nelson Marchezan tem alertado para a a possibilidade de, em algumas semanas, os “hospitais terem que começar a escolher quem vive ou não”. Sem apoio do empresariado para fazer um lockdown, o governo tem analisado regras para restringir o trânsito — essa decisão deve ser tomada "muito brevemente" segundo Miragem.
O professor de Infectologia da UFRGS, Alexandre Zavascki, compara essa situação a um carro indo em direção a um muro
— Você tem que considerar a velocidade do carro e a distância. Nesse momento, temos quase todas as UTIs lotadas, estamos muito perto do muro e numa alta velocidade. Não adianta diminuir um pouco, precisa de uma freada mais brusca do carro.
Mesmo com avanço do contágio, índices de março não se repetiram
Os índices de isolamento do começo da epidemia de coronavírus em Porto Alegre nunca voltaram a se repetir. Na quarta-feira (22), fez quatro meses do melhor resultado, o domingo logo após o começo das restrições na cidade, que teve 70% de isolamento. Naquela data, não havia sido registrada ainda nenhuma morte pela doença na cidade. Hoje, já passam de 250 óbitos.
Já o dia com o pior resultado, 34%, foi em 19 de junho, quando a maior parte das atividades estava liberada. Naquele final de semana, o prefeito fez um decreto restritivo, fechando comércio e serviços novamente. Para comparação, na semana antes da confirmação do primeiro caso de coronavírus em Porto Alegre, a média de isolamento social de Porto Alegre foi de 30%.
O Índice de Isolamento Social da empresa Inloco usa tecnologia de geolocalização. As estatísticas levantadas pela ferramenta representam a movimentação de cerca de 540 mil usuários de celular de Porto Alegre em todas as regiões da cidade. Existe uma tolerância de 450 metros — as pessoas podem até se movimentar, mas em um raio muito curto.