Apesar das orientações de organismos de saúde estaduais, nacional e internacionais, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), para a população ficar em casa por conta da pandemia de coronavírus, muitos porto-alegrenses aproveitaram o domingo (5) de sol e temperatura agradável para passear pela cidade. No final da tarde, a orla do Guaíba registrou um movimento considerável, embora bastante abaixo do que costumava ser antes da pandemia.
Poucas pessoas presentes na Orla estavam utilizando máscaras, uso que a OMS recomendou na última sexta-feira. Havia quem perambulasse a pé ou que estivesse ali para dar um passeio de bicicleta. Era possível notar que as distâncias entre as pessoas eram mais espaçadas do que de outros domingos de multidões no local.
No entanto, GaúchaZH presenciou grupos de pessoas em rodinhas ou próximos umas das outras, mesmo que a orientação seja de evitar o contato físico. Houve até quem levasse caixa térmica com bebidas.
Um trio de amigos de 19 anos – Leonardo Medeiros, Arion Henrique e Felipe Maicá – passeava de bicicleta pela orla. Eles portavam álcool gel, mas só Arion usava máscara. Para os três, aquele passeio era uma maneira de fazer exercícios físicos, apesar de não seguirem as orientações de isolamento social para que o coronavírus não seja propagado.
— É uma maneira de driblar o tédio. A bicicleta não é um exercício que vai exigir estarmos próximos, embora a gente esteja junto. Tomamos cuidados — garante Felipe Maicá.
Segundo Maicá, houve muita conversa com seus pais para poder sair. Em casa, ele diz que há bastantes cuidados, como maçanetas esterilizadas.
Há três semanas em casa, Leonardo Medeiros ressalta que está de quarentena. Sua principal atividade é acompanhar as aulas ao vivo do curso de veterinária. Porém, ele justifica que neste domingo resolveu sair com os amigos para dar uma respirada:
— Não aguentava mais ficar em casa, fechado num mesmo ambiente — assente Medeiros.
Arion conta que só sai em caso de urgência, como para ir a um mercado:
— Sempre saio de máscara. De vez em quando, uso luvas até.
Grupo de risco
Aos 67 anos, Ivone Knebel passeava de máscara pela orla. Ela integra o maior grupo de risco da covid-19. Como aponta reportagem de GaúchaZH, todas as informações científicas disponíveis até o momento asseguram que a doença provocada pelo novo coronavírus é especialmente violenta contra os mais velhos: os sintomas tendem a ser mais severos, e o risco de morrer chega a ser 74 vezes maior do que o da faixa etária de 10 a 19 anos, por exemplo — embora o fato de ser jovem não garanta imunidade contra a covid-19, nem proteja por completo de eventuais complicações.
Mesmo com essas recomendações, Ivone foi até a orla. Ela garantiu que estava evitando aglomerações e que seu corpo exigia esse momento de "descontração".
— Eu não tenho receio (da covid-19), porque estou tomando todos os cuidados solicitados. Não tenho qualquer medo — diz.
Contudo, Ivone tem realizado quarentena, que tem sido para ela um período de muita leitura e atenção.
— Muita esperança que isso vai passar — pontuou.
Isolamento social
Conforme Alexandre Vargas, presidente da Sociedade Rio-Grandense de Infectologia (SRGI), é fundamental a manutenção do isolamento social.
– Esta é a única medida no momento com evidência de impacto na redução no número de casos em um tempo curto – sublinha.
O infectologista alerta para o fato de que a população jovem, que tem saído às ruas nos finais de semana, não é imune ao coronavírus:
– Temos visto muitas mortes de jovens na Europa e nos Estados Unidos. Muitas pessoas dessa faixa etária podem ter problemas de doenças crônicas sem que saibam. Esses jovens voltando para a casa podem levar o coronavírus para os idosos. Imagina isso nas populações mais pobres, em que muitas pessoas vivem juntas na mesma casa.
Alexandre destaca também que o isolamento social é importante para o achatamento da curva epidêmica, assim permitindo que o sistema de saúde não entre em colapso com número grande de pacientes e possar acolher as pessoas em estado crítico. Caso contrário, sem leitos suficientes, o número de mortes tende a aumentar.
– Há países com quase mil mortes por dia! Você imagina no Brasil sem condições sanitárias e de saúde – destaca.