Uma mudança drástica no cenário dos ônibus municipais de Canoas, na Região Metropolitana, pode ser vista a partir desta quarta-feira (22). Por decreto municipal, todos os passageiros precisam usar máscaras de proteção facial durante as viagens. A medida, que tem por objetivo evitar a transmissão do coronavírus, mostrou-se eficaz nas primeiras horas do dia.
Em uma das paradas mais movimentadas do centro da cidade, ao lado da Avenida Victor Barreto, a maioria das pessoas que aguardava por um coletivo cobria o rosto com os tecidos na manhã desta quarta.
– Se não tiver, não sobe - disse o cobrador Edison Arantes, trabalhador da empresa Sogal, única que opera exclusivamente nos bairros do município.
A determinação do executivo foi expedida no dia 16, mas passou a vigorar somente hoje, período em que os usuários se informaram sobre a exigência. A normativa contempla ainda os condutores e clientes de táxis e transportes por aplicativos.
Um veículo da linha 5100 - Centro partiu da plataforma às 7h30min com todos os usuários cumprindo a medida. Enquanto aguardavam o embarque, os poucos que não tinham o rosto coberto mostravam o item guardado em bolsas de colo.
O mecânico José de Lima, 60 anos, usava uma máscara descartável enquanto aguardava o segundo coletivo do dia, às 6h30min. No anterior, os demais passageiros também estavam protegidos, segundo o trabalhador. A obrigatoriedade foi determinante para a mudança de hábito.
– Eu nunca usava e agora estou usando, porque tem que seguir a lei - explica.
O decreto cita fiscalização pelos órgãos de segurança e até mesmo uma saída mais extrema para quem dispensar a máscara: a prisão após registro de ocorrência policial. A ordem municipal é embasada pelo código penal e cita o artigo 268 de uma lei de 1940, onde “infringir determinação do poder público, destinada a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa" tem pena de detenção de um mês a um ano, além de multa.
O pedreiro César Lopes Dutra, 49 anos, foi barrado ao ingressar no coletivo sem o equipamento de proteção individual (EPI). Inicialmente, ele esbravejou. Depois, concordou com a iniciativa:
– Não pude entrar, perdi o ônibus. Mas tudo bem, já que protege, né?
Desempregada, moradora do bairro Fátima, Iria Prestes, 56 anos, repreendeu:
– Se é lei tem que ser para todos.
Segundo o motorista da Sogal, Emerson Vargas, 47 anos, a decisão de exigir a máscara foi bem aceita pelos colegas e pelos passageiros. Ele pondera que barrar quem busca o transporte não será fácil.
– Não posso arrumar briga toda hora - justificou.
Veículos da Guarda Municipal e fiscais da empresa de ônibus circulam pela cidade conferindo o cumprimento do decreto.
"As máscaras têm formato livre, mas, preferencialmente, devem ser de tecido e cobrir no mínimo o nariz e a boca", complementou o prefeito Luiz Carlos Busato ao assinar a publicação.
Aguardando chamados próximo à estação Canoas/La Salle da Trensurb, o motorista de aplicativos César Estrela, 47 anos, disse já ter rejeitado passageiros que estavam sem o item exigido.
Os pintores Alverino Almeida, 59 anos, e Wagner Beck, 38, desviaram do caminho para o ponto de ônibus e compraram um par de máscaras antes de seguir para a obra em que estão trabalhando:
– Nem tentamos embarcar. Soubemos da notícia, compramos e agora está tudo certo.
Informados sobre a obrigatoriedade, o casal Luiz Reni Barbosa Fontoura, 55, e Janete Fontoura, 50, retiraram das gavetas as máscaras de TNT que estavam guardadas.
– A gente estava saindo sem, mas vimos na TV que tinha que ter também nos táxis, aí pegamos - explicou a balconista.
Não houve registro policial de descumprimento do decreto nas primeiras horas desta manhã.
Em média, 19 mil passageiros circulam diariamente nas 25 linhas municipais de Canoas. Antes da pandemia, esse número era três vezes maior. Para operar os 64 veículos, cerca de 200 profissionais se expõem nas ruas todos os dias - a reportagem não encontrou qualquer destes trabalhadores sem máscara nos ônibus nesta manhã.