Quem ainda transita pelo Centro Histórico, passando por incontáveis portas fechadas, estranha o movimento muito abaixo do normal. Vera Nogueira, 61 anos, que não parou de trabalhar em casa de família, era uma das moradoras que seguia na rua nesta quarta (1º). Lembra da multidão que até duas semanas atrás tomava a Rua dos Andradas:
— Sinto uma dor forte no coração, é doloroso chegar a esse ponto.
O novo decreto do governador Eduardo Leite, publicado nesta quarta-feira (1º), determina o fechamento do comércio em todo o Rio Grande do Sul em razão da pandemia do coronavírus. A medida corrobora as restrições impostas em Porto Alegre já há mais de uma semana, ainda mais rígidas (incluem indústrias e construção civil). O prefeito Nelson Marchezan prorrogou para 30 de abril a validade das medidas de isolamento social adotadas pela Capital gaúcha.
Gustavo Armani, 30 anos, saiu de casa para ir a um dos poucos comércios que têm autorização para funcionar: uma farmácia de manipulação. Embora não tenha sintomas de qualquer doença, usou máscara e luvas na tentativa de se prevenir:
— Estamos em isolamento, mas não tive alternativa. Preferi vir eu do que pedir a um dos meus familiares, que teriam mais risco.
Fotógrafo de GaúchaZH, Felix Zucco rodou pelo centro de bicicleta na tarde desta quarta. Chamou-lhe atenção o silêncio, especialmente, junto à Praça da Alfândega.
— É uma situação bizarra. Parece que quem passa por lá reflete sobre o que está acontecendo.
Mesmo com movimento incomparável a de um dia normal, ele flagrou ainda um número considerável de pessoas, especialmente em vias como a Andradas e a Voluntários da Pátria. Sentada em uma escadaria, imóvel, Leandra Cardoso, 18 anos, diz saber que é um risco sair de casa. Mas ela justifica que ficar em isolamento já estava "mexendo com o psicológico":
— Eu vim receber meu salário, e já estava me sentindo muito agoniada em casa, eram muitas semanas presa.
Nesta quarta-feira, o prefeito Marchezan reforçou que o isolamento social é a forma mais eficiente de enfrentar a epidemia, de acordo com evidências técnicas e científicas mundiais:
— Estamos utilizando todas as ferramentas para conscientizar os porto-alegrenses que o mês de abril será de isolamento e o resultado depende do engajamento de todos. As restrições de circulação, apesar de dolorosas, são a única alternativa possível para fazer frente a uma guerra complexa, veloz e brutal.