Giuseppe Ferraro tinha 19 anos quando chegou de Morano Calabro, na Itália, no dia de Natal. Não sabia praticamente nada de Porto Alegre, nem fotos tinha visto.
— A gente vinha no escuro. A única coisa que pensei é que teria que trabalhar ainda mais.
Viajou por 12 dias de navio, desembarcou em Santos, em São Paulo, e veio a Porto Alegre de trem. "Uma aventura", nas palavras dele, que encarou com a mãe e quatro irmãos. Seu pai viera dois anos antes, e antes disso o avô materno já trabalhava vendendo frutas na esquina da Rua dos Andradas com a Uruguai.
Lembra que o cenário era de pós-guerra na Itália, e que o tempo todo tinha gente se despedindo da família, buscando condições melhores na América:
— O contato se perdia naquele momento na estação ferroviária. Muitos imigrantes não sabiam escrever, ou a correspondência demorava a chegar, era muito difícil. Hoje o cara chega lá, telefona, e pelo vídeo diz: cheguei, tô tomando banho. É uma beleza.
Não sabia falar uma palavra em português — aprendeu muito ouvindo radionovelas. Volta e meia, ia até o cais do porto, antes do trabalho, para ver o movimento calmo do Guaíba e lembrar da viagem.
— Eu era um romântico — ri.
Giuseppe trabalhou como alfaiate, profissão que aprendera ainda na Itália. Primeiro, como empregado, mas logo viraria patrão: teve, no Centro Histórico, sua própria alfaiataria com um primo, por 12 anos. Culpa o advento da calça jeans pelo fim do negócio, que amava. Então abriu uma lancheria na Praça Rui Barbosa, mas odiou a nova função. Foi quando o italiano mostrou seu lado mais brasileiro, que não desiste nunca. Abriu uma tabacaria na Rua Coronel Vicente, onde ficou por 35 anos.
Aos 78 anos, hoje é aposentado. E apaixonado. Casou-se há seis anos, pela primeira vez, com Maria Rosário Cozza Ferraro. É gaúcha — e filha de moraneses. Ele tinha uma paixão platônica por ela várias décadas atrás.
— Não tinha condições de ter família na época — diz o moranês. — Meus pais trabalhavam pela comida, eu, pelo aluguel.
No ano passado, os dois foram juntos a Morano. Alugaram uma casa atrás da igreja e ficaram três meses. Adoraram, óbvio, mas também gostaram de voltar ao lar que construíram juntos no Santa Tereza.
Giuseppe aprecia ir ao Theatro São Pedro e de reunir-se com outros italianos em um café na Galeria Chaves.
— Não tenho queixa, a fortuna que fiz aqui são as amizades. — conta ele, para logo brincar: — Claro que isso não enche barriga.