Mariana Ventura, 24 anos, já é uma legítima porto-alegrense: toma chimarrão, curte churrasco, fala "bah" e baba pelo pôr do sol do Guaíba. Vinda de Luanda, capital da Angola, adaptou-se muito rápido à terra nova. E não se demora quando perguntada sobre preconceito ou dificuldades. Diz que "não deu importância a alguma coisa diferente".
— O africano já vem com essa garra de correr atrás das coisas — justifica.
Mariana embarcou para a Capital há cinco anos, depois de terminar o Ensino Médio. Não veio atrás de nenhum parente ou amigo: pesquisou bastante pela internet e escolheu a região porque pareceu um lugar tranquilo para estudar.
Começou a faculdade de Direito, que teve de trancar por causa de dinheiro. Mas na universidade conheceu uma imigrante angolana, Elisa Ricardo Matheus, que a convidou a trabalhar no Tranças África, um salão de beleza especializado em tranças e tratamento de cabelo afro. Mariana topou — e agora estuda Estética e Cosméticos.
Vestindo um turbante amarelo e o uniforme feito com estampa típica angolana chamada samakaka, ela conta que o salão começou há 13 anos. Elisa — que, descobriram aqui, é sua prima de terceiro grau — improvisara uma plaquinha de "faz-se tranças" com papelão na frente de casa. Com um salão no centro, o Tranças África recebe hoje cerca de 120 clientes por mês e tem mais de uma dúzia de colaboradoras: duas de Guiné-Bissau, uma nigeriana, quatro brasileiras e seis angolanas, incluindo Mariana.
— Me sinto feliz de trabalhar aqui porque a gente ajuda muitas meninas, brasileiras, negras, a se identificarem. Devolvemos a autoestima delas — diz Mariana, que também dá aulas de tranças africanas no salão.
De doloroso, Mariana cita apenas a saudade do colo da mãe e da companhia dos 10 irmãos. Sente falta da dança também, do kuduro e da zumba. Mas sempre que os africanos se juntam no condomínio de alguém para comer peixe, feijão com azeite de dendê e folha de mandioca, rola música. É unida a comunidade angolana na cidade, conta ela.
— Só de descobrir que tem uma angolana chegando eu vou cumprimentar, dizer: "que legal, também sou". E a gente vai virar amigas.