Enquanto observava o céu repleto de nuvens em Porto Alegre, na manhã desta quinta-feira (15), Amélia Reyes Braga, 65 anos, lamenta:
— Esse telhado é novo, foi trocado há pouco.
Presidente da Escola de Educação Infantil Arapeí, no bairro Cristal, na Zona Sul, ela contabiliza ao menos cinco telhas levadas pelo vendaval da tarde passada. A área atingida é justamente a que segue em funcionamento durante as férias escolares: um convênio com a Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc) presta apoio a 60 crianças e adolescentes no turno inverso das aulas, com refeições e recreação.
— Hoje e amanhã não tem como atender ninguém. Quem sabe na segunda-feira, se a gente arrumar — disse.
O piso do refeitório e da cozinha seguia alagado na manhã desta quinta-feira. Sobre as mesas, pacotes de farinha, lentilha, massas, arroz, feijão, café, doce e leite em pó escaparam da chuva, pois ainda não haviam sido retirados dos fardos plásticos, que serviram de proteção. A tampa da caixa d'água parou no pátio vizinho.
— A minha casa destelhou, e eu não sabia se atendia aqui ou lá — contou Amélia.
Em fevereiro, quando as aulas serão retomadas normalmente, o número de alunos chega a 164 — somados os da alfabetização, de zero a cinco anos, e os 60 da parceira com a Fasc.
No mesmo acesso da escolinha, mais estragos. De tijolo aparente, a casa de Rita de Cássia, 42 anos, teve 28 telhas arrancadas pelo temporal, que alagou os quartos dela e do casal de filhos.
— Arredei o que deu. Mas as telhas já tinham voado, e chovia dentro como se fosse na rua. Tá tudo alagado — relembra o estudante Victor Rodrigues, 22 anos, filho de Rita.
Em outra residência da mesma quadra, o forro de PVC da sala do faxineiro Jorge Diaz, 36 anos, cedeu com a força do vento. Nove telhas foram arrancadas, alagando o quarto onde dorme.
— Não vou trabalhar hoje porque tenho que arrumar. Foi tão rápido, minha sobrinha começou a chorar com o barulho e aí as telhas levantaram.