Às 13h30min desta segunda-feira (30), um caminhão-pipa da prefeitura de Porto Alegre iniciou uma operação para devolver vida ao lago do Parque Moinhos de Vento, despejando 40 mil litros de água no local. A operação estava prevista para continuar até as 17h.
Nos últimos dias, o lago, um dos recantos mais apreciados do Parcão, chamava a atenção por motivos indesejados. O nível da água baixou muito, deixando boa parte do leito completamente a seco. A água que restou ganhou uma tonalidade esverdeada e exalava mau cheiro.
A Secretaria Municipal do Meio Ambiente e da Sustentabilidade (Smams) informou que a medida, tomada por causa do tempo seco, repete um procedimento que já foi adotado no final de 2018. Conforme o secretário da pasta, Germano Bremm, o objetivo é melhorar a oxigenação da água e preencher o nível do lago.
Na manhã desta segunda-feira, antes da medida da prefeitura, GaúchaZH visitou o parque e ouviu frequentadores assíduos, que afirmaram nunca ter visto o lago em tal condição. Em um dos lados, a margem havia recuado cinco ou seis metros, sobrando apenas um filete dela entre a lama gretada e a ilhota central, onde fica o moinho. Pedras que antes permaneciam submersas encontravam-se completamente à vista. Zonas que reservadas a peixes, patos e tartarugas podiam ser percorridos a pé.
A passeadora de cães Emanuelle Froes, 27 anos, trabalhou diariamente no Parcão durante três nos e visita o local com frequência. Na manhã de segunda, na companhia do namorado, Conrado Werlang, 24 anos, surpreendeu-se com a escassez de água.
— Nunca tinha visto o nível tão baixo como agora, com partes onde dá para ver o barro. Estávamos comentando também o cheiro forte. A gente fica pensando se não tem algum método de manutenção, até por causa dos bichos — disse Emanuela.
O reciclador Paulo (ele não informou o sobrenome), que tem 48 anos e está morando no parque, garantiu que o lago nunca esteve tão baixo e também lamentou pelos animais.
— Está um absurdo. Não sei como não tomam uma providência. Sinto pena dos bichinhos, porque não têm água limpa para beber. Os patos estão sujos, porque não conseguem limpar as penas. Eles começam a se lavar e levanta a lama do fundo. É uma tristeza. Não é mais lago, é pântano — observou ele, poucas horas antes da chegada do caminhão-pipa, que é usado no Parque Saint-Hilaire.
Moradora do Jardim Planalto, na Zona Norte, Marilene Vencato, 63 anos, costuma atravessar parte da cidade aos sábados e domingos para desfrutar do Parcão, pelo qual é apaixonada. Na manhã desta segunda-feira, estava à beira do lago. Segundo ela, é comum que o nível baixe bastante em períodos secos e de calor.
— Está cheio de algas, nem parece água. É porque a água não está se renovando, por falta de chuva. Mas dá para aproveitar o parque da mesma maneira. Este lugar é maravilhoso, é uma bênção de Deus — disse.
Quem também não se importou foi Maria Luiza, cinco anos, encantada com as tartarugas. Ela e a mãe, Fernanda Lessa, 36 anos, mudaram dias atrás de Gravataí para Porto Alegre e só haviam visitado o parque uma vez antes. Não sabiam que normalmente ele tem muito mais água.
— Como não conheço, não notei diferença. Só estranhei um pouco a cor — afirmou Fernanda.
Conforme explicação da Smams, a falta de chuvas favorece um grande aporte de nutrientes, como nitrogênio e fósforo, que induzem uma alta geração de biomassa de produtores primários (algas). Em paralelo à medida tomada na tarde desta segunda-feira, a secretaria diz trabalhar em um projeto para solucionar o problema de forma mais definitiva, em parceria com as empresas que adotaram o Parcão (Melnick Even, Zaffari, Hospital Moinhos de Vento e Dimed - Panvel). Segundo Bremm, "a intervenção vem sendo tratada com as empresas adotantes do espaço, as quais assinalaram positivamente quanto a essa parceria, que engloba uma ação não prevista no termo de adoção e que seria uma benfeitoria extra”.
A Equipe de Fauna Silvestre da Smams vem monitorando os animais que vivem no lago e dará continuidade a este trabalho, informa a secretaria.