O cenário que se vê hoje, de uma cancha sem frequentadores no Parcão, é oposto aos relatos sobre anos anteriores. A área, perto do cachorródromo, já foi um clássico ponto de encontro. Zeladores de prédios da região, funcionários do parque e outros frequentadores se reuniram ali, durante décadas, para jogar bocha. Levavam filhos, faziam churrasco, tocavam violão. Aos fins de semana, a função ia das 9h às 19h, com parada apenas para o almoço, contam os saudosos.
– A gente ficava esperando o final de semana. Era o momento de encontrar amigos e jogar – lembra o zelador de condomínio Lauro Palhano, 50 anos, vice-presidente da Associação de Jogadores de Bocha do Parque Moinhos de Vento, que chegou a ter 2 mil associados desde que foi fundada, em 1995, mas hoje só funciona na teoria.
Tudo mudou em 2013, quando a prefeitura interditou a cancha – o telhado ameaçava desabar. Uma nova cancha foi construída no lugar, e inaugurada em 2016. Só que esta, até hoje, nunca foi usada para a prática do esporte, relatam os antigos frequentadores. Isso porque as instalações não agradaram – diferentemente da antiga, a estrutura atual não tem banheiro e churrasqueira. Conforme a associação, a cancha se tornou refúgio para moradores de rua.
– Nunca usamos porque ficou difícil entrar ali. E tem que ter água perto. É preciso molhar o calcário durante o jogo, senão fica só pó, mas o banheiro é longe – lamenta o também zelador de condomínio Marci Raminelli, 54 anos, membro da associação.
Funcionários do parque também garantem que a cancha nunca foi usada para a prática do esporte. Conforme moradores da região, há receio em adentrar a estrutura, que teria se tornado ponto para consumo de drogas. A aposentada Gisa Guimarães, 64 anos, costuma caminhar diariamente pela área e há anos não vê um jogo de bocha por ali:
– Faz tempo que está assim. Me pergunto: para que essa cancha? Gastaram dinheiro para nada. Poderiam fazer um jardim, banheiros, algo útil – afirma Gisa.
Desmotivados, jogadores preferiram migrar para outras canchas. Alguns foram para o IAPI, outros para a Redenção.
– A gente até vai ali. Dá uma olhada na cancha, toma um sorvete. Mas pega o ônibus e vai embora – diz Palhano.
Sobre a reclamação de moradores de que falta sanitário, a Secretaria do Meio Ambiente e da Sustentabilidade (Smams) informou que “o Parque Moinhos de Vento conta com banheiro público, aberto diariamente das 8h às 20h, na Avenida Goethe próximo da esquina com a avenida 24 de Outubro”.
A prefeitura, porém, não soube informar o custo da cancha, construída mediante uma contrapartida entre a empresa Oscar Rubin e o poder público. Sabe-se que R$ 629.250,14 foram investidos em melhorias naquela região do parque em 2016 – dentre elas, o cachorródromo e a academia ao ar livre.
O que diz a prefeitura em nota:
"A Secretaria Municipal do Meio Ambiente e da Sustentabilidade (Smams) informa que a cancha de bocha anterior foi interditada em 2013 porque corria risco de desabamento. A estrutura de madeira que sustentava o telhado estava comprometida. Uma nova cancha de bocha, com acessibilidade no entorno para cadeirantes, foi construída na mesma localidade e entregue em 2016. O Parque Moinhos de Vento conta com banheiro público, aberto diariamente das 8h às 20h, na avenida Goethe próximo da esquina com a avenida 24 de Outubro. A Smams está à disposição da comunidade para análise de melhorias viáveis para as estruturas".