No Natal há quem queira ganhar um skate, um videogame ou uma boneca. Outros, mais comedidos, aspiram um bom ano, mais saúde ou a manutenção da felicidade da família. Já o sonho do motorista de aplicativo Cleber Lima, 51 anos, era realizar o sonho dos outros. Começou por si: em outubro, mandou confeccionar um traje de Papai Noel, desejo adiado há anos em razão do temperamento tímido. Um mês depois, outro desejo tornou-se realidade: tornou-se o bom velhinho oficial do Gravataí Shopping Center, na Região Metropolitana.
— É um sonho de muito tempo, só que, devido à minha timidez, não tinha coragem. Chegava no começo do ano e eu sempre dizia que ia deixar a barba crescer, mas com o passar do tempo eu fugia da ideia, ia deixando para depois — recorda.
Pai de quatro filhos, Cleber alimentava a ideia de atuar como Papai Noel há pelo menos 15 anos. Em razão de sua barba já branca, à época, começou a ouvir comparações com a aparência da personagem pela qual sempre nutriu simpatia. Somente neste ano, porém, conseguiu colocar em prática o plano de transformar-se no ícone natalino. A ideia inicial era modesta. Pensava em vestir-se como Noel antes de ir para o trabalho, e realizar as viagens fantasiado.
Depois de uma busca pela internet, contratou um ateliê em Camaquã, no sul do Estado, para confeccionar o traje vermelho e branco. A produção levou sete dias, e custou R$ 800. Ansioso, sequer quis aguardar pelo envio. Dirigiu até o município, a 130 quilômetros de Porto Alegre, para buscar a encomenda.
Não deu nem tempo de fazer a primeira corrida como motorista Noel. Dias depois, foi apresentado ao dono de uma agência que ofereceu a oportunidade de virar o titular do shopping na Região Metropolitana. Sua estreia ocorreu com pompa, no dia 9 de novembro. Depois de uma apresentação musical, subiu no palco para ser oficialmente anunciado, na frente de dezenas de pessoas.
— Fiquei prestando atenção naquele povo todo gritando "Papai Noel". Até aquele momento, não tinha me dado conta que eu era o centro das atenções. Foi muito emocionante — diz.
A timidez foi se dissipando no contato diário com o público, que logo descobriu ser mais amplo do que apenas crianças.
— Tem adolescentes, adultos e até senhoras que me abraçam e agradecem o carinho que estou passando para as pessoas. Não esperava que ia ter essa repercussão toda. O Natal é um momento mágico mesmo — sorri.
Deu um tempo nos aplicativos para dedicar-se exclusivamente à nova rotina, que se mostra puxada. Todos os dias, deixa a zona sul da Capital no começo da tarde e dirige até Gravataí. Para não estragar a surpresa, veste a fantasia só depois de chegar no shopping, onde trabalha das 14h às 21h.
Na véspera de Natal, a nova atividade levará o Noel de primeira viagem para além dos domínios do centro comercial. Ele foi contratado para visitar quatro casas na Capital, e entregar presentes às crianças depois do expediente no shopping. A jornada só deve se encerrar na própria casa, quando promete atender a um último desejo:
— A esposa quer que eu faça o churrasco ainda. Vou ter que encarar, né. Papai Noel tem que fazer as vontades.
Campanha
A história de Cleber é uma das cinco que dão vida à campanha de fim de ano do Grupo RBS, protagonizada por personagens reais. Os relatos foram escolhidos por meio do projeto Sua Vida É Notícia, no qual a RBS se dedicou a ser porta-voz das boas notícias do público, como o nascimento de um filho ou uma grande conquista pessoal. Acontecimentos que geralmente não virariam notícia acabaram apresentados por comunicadores, ganhando forma na voz de personalidades conhecidas do público.