— Em uma quarta-feira eu dormi Juliana e, no dia seguinte, acordei mãe do Leonardo — diz a assistente de Recursos Humanos Juliana Quevedo, 41 anos, ao relembrar o momento em que soube que o filho que ela e o marido, Cristiano Castilho, 42 anos, tanto desejavam estava à espera deles.
Junto há 16 anos, o casal que mora em Viamão compartilhava desde o início da relação a vontade de ter filhos: um biológico e outro por adoção. As tentativas de gestação não deram certo e eles iniciaram o processo de inseminação artificial via Sistema Único de Saúde (SUS). A espera de quatro anos pelos exames preliminares de ambos, porém, levou os dois a desistirem da opção, mas não de se tornarem pais.
Por isso, após oito anos, partiram para outro caminho, mas que também os levaria em direção àquilo que ansiavam há tanto tempo. Em fevereiro de 2015, entraram com o pedido de adoção, o que implicou uma série de oficinas de preparação com assistentes sociais e avaliações junto a psicólogos. Juliana acreditava que a resposta chegaria em cinco anos, mas veio bem antes disso:
— Em oito meses, recebemos a ligação na qual fomos informados de que deveríamos ir ao fórum de Viamão para ver nosso filho pessoalmente. Foi tudo muito intenso e assustador, é uma surpresa quando vem o telefonema. Não é como na gestação convencional, em que os pais têm a previsão de chegada do bebê. Para quem está na fila, aguardando, é um misto de angústia e suspense. Mas a alegria transborda.
A rapidez se deu em função das características inclusivas e abrangentes desejadas por Cristiano e Juliana em relação ao bebê. Eles estavam abertos a adotar crianças com doença — crônica ou tratável — ou deficiência. A opção foi firmada na experiência de como seria gestar um filho, explica a assistente de Recurso Humanos.
— Partimos da ideia de que se eu estivesse grávida, não poderia escolher como seria meu filho. Eu o receberia e o amaria incondicionalmente — diz.
E assim foi. Léo conheceu os pais quando tinha um ano e um mês. Diagnosticado com sífilis congênita, surdez e paralisia cerebral de grau leve, entre outras enfermidades, foi acolhido por todos. Hoje, aos quatro anos, tem uma rotina recheada de atividades: vai à escolinha em turno integral, faz uma série de acompanhamentos com profissionais da saúde e, claro, é paparicado.
Depois de ter passado pela experiência de estar na fila de espera, o casal passou a integrar o grupo Ninho, de Viamão, que auxilia pessoas que desejam adotar uma criança, mas têm dúvidas em relação ao processo. Juliana ressalta que é importante desmistificar a adoção:
– Não é preciso viver uma gestação para ser ou se sentir mãe. O amor não está no ventre, está no coração.
Campanha
A história de Juliana e Cristiano é uma das cinco que dão vida à campanha de fim de ano do Grupo RBS, protagonizada por personagens reais. Os relatos foram escolhidos por meio do projeto Sua Vida É Notícia, no qual a RBS se dedicou a ser porta-voz das boas notícias do público, como o nascimento de um filho ou uma grande conquista pessoal. Acontecimentos que geralmente não virariam notícia acabaram apresentados por comunicadores, ganhando forma na voz de personalidades conhecidas do público.