Desde a noite da última quarta-feira (9), o setor de serviços da Ceasa, no bairro Anchieta, na zona norte de Porto Alegre, está sem energia elétrica. Cerca de 20 estabelecimentos operam no local, conhecido como Centro de Utilidade Pública (CUP) — o que representa 5% de todas as lojas da central de abastecimento do Estado.
A queda da luz foi causada por um gato que entrou em uma subestação de abastecimento, causando curto-circuito, que deixou todo o complexo desabastecido por 24 horas. O animal morreu após o choque.
Desde então, parte do comércio opera parcialmente com uso de geradores a óleo diesel.
— Um caos. Desliguei alguns balcões e contratei o gerador para diminuir o prejuízo. As pessoas entram, veem que falta coisa e vão embora — explica Guilherme Gehlen, 32 anos, proprietário do Super Agro.
No Atacado Soul Alimentos, as perdas estimadas passam de R$ 100 mil, de acordo com o comerciante Carlos Marcon, 55 anos.
— Quinta é o melhor dia de negócio, e eu passei o dia todo sem luz. Vendi 15% dos R$ 80 mil que eu vendo em média — mensura, ao somar nos custos os R$ 4 mil do aluguel e o combustível que toca o gerador.
Por hora, cada equipamento consome entre 20 e 25 litros de óleo diesel para fornecer a energia aos pontos. O aluguel diário varia de R$ 1,3 mil a R$ 1,7 mil.
As duas agências bancárias que atendem a Ceasa também estão fechadas desde o incidente, e os funcionários foram realocados em outras unidades. No mesmo prédio, uma sequência de cortinas de ferro seguem fechadas.
Sem condições de bancar os custos do gerador, o restaurante Casa Nova segue às escuras. No dia em que a energia foi cortada, o dono diz ter perdido um freezer lotado com sorvetes, prejuízo de R$ 1,2 mil. Sem clientes, o buffet tinha apenas a salada exposta nas cubas na manhã desta terça-feira (15). Os refrigeradores estavam desligados e de portas aberta.
— Não consigo servir nada. Não dá pra usar a fritadeira elétrica e nem vender cerveja ou ligar os ventiladores. Só tenho salada e carne assada — reclama Edson Mallmann, 50 anos, que costuma vender em torno de 100 refeições por dia, ao custo de R$ 15 o buffet livre.
Günther Baingo, 61 anos, tem apenas duas dos oito câmaras frias ligadas.
— Joguei muita carne fora quinta-feira e agora não estou comprando mais, porque não como armazenar ou cortar - conta o proprietário do Comercial de Alimentos Bom Gaúcho.
O presidente da Ceasa, Ailton dos Santos Machado afirma que um cabo subterrâneo se rompeu após o curto-circuito. Toda a estrutura elétrica foi instalada há 46 anos, quando o espaço foi inaugurado. Para voltar a abastecer 100% das lojas, ele promete a contratação de três gerações, bancados pela administração.
— Todo mundo que gastou com gerador vai ser ressarcido com desconto na conta de luz — afirma.
O dirigente explica que não há previsão para retomada da energia elétrica, pois ainda aguarda um laudo que vai apontar possíveis reparos. Segundo ele, foram investidos R$ 3 milhões nas estruturas, nos últimos dois anos, e que um novo sistema aéreo está em fase de licitação, devendo levar ao menos 90 dias para ser instalado.
Diretor técnico-operacional da Ceasa, o engenheiro Paulo Regla justifica que há três anos foram feitos testes no cabeamento, que atestaram que o sistema poderia continuar operando por um período, até sua substituição.
—Com uma nova rede aérea, fica fácil identificar o problema. Hoje fica tudo há três metros do chão, inviável — finaliza.